Comprar ou vender?

Bolsa está muito barata, mas não espere lucro até 2023, dizem analistas

04 out 2021, 17:01 - atualizado em 05 out 2021, 13:31
Ibovespa
Para Spiess, da Empiricus, precificação da próxima eleição chegou antes do previsto (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

O principal índice da B3, Ibovespa (IBOV), registrou diversas quedas desde a primeira semana de junho. De lá para cá, o indicador já recuou cerca de 15%, passando de 130 mil pontos para 110 mil pontos. A boa notícia é que os analistas sinalizam que as perspectivas tendem a melhorar e os bons fundamentos do mercado devem prevalecer. O problema é o tempo: não espere lucro antes de 2023.

Isto porque, a baixa ocorre, devido às preocupações com a polêmica sobre as contas públicas, as dúvidas sobre a PEC dos precatórios, além dos temores internacionais, como uma eventual implosão da gigante chinesa do ramo imobiliário Evergrande.

Para complicar o cenário de curto prazo, a corrida eleitoral foi antecipada e o mercado já faz suas contas. Segundo Matheus Spiess, analista da Empiricus Research,  a precificação da próxima eleição chegou um ano antes do previsto.

“A anulação das sentenças do Lula nos casos de corrupção fez o mercado começar a precificar a eleição do próximo ano muito antes do tempo normal, pois isso costuma acontecer no 1º trimestre do ano eleitoral”, afirmou Spiess ao Money Times.

Ainda há esperança

Todos esses impactos ficam claros, quando se comparam as Bolsas do Brasil e dos EUA. Spiess destaca que a Bolsa brasileira está com um desconto de 60% em relação à sua rival americana.

Diante de tudo isso, pode parecer desanimador entrar na Bolsa agora, mas os analistas veem motivos para otimismo. Além de Spiess, Gustavo Wolf, da Meraki Capital, também enxerga bons fundamentos para o Ibovespa.

Analistas enxergam fundamentos positivos para o Ibovespa, apesar de tudo (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

“A inflação tende a começar a desacelerar no próximo trimestre e, quando a gente olha as empresas, vê bons fundamentos, ainda mais quando comparamos por indicadores, como preço sobre o lucro”, disse Wolf ao Money Times.

Ambos concordam que os ativos de riscos estão baratos e são uma boa oportunidade de compra, principalmente, quando se analisam empresas com bons resultados financeiros.

“No patamar atual, depois de tantas correções, o Ibovespa ficou muito barato. Ou seja, é assimetricamente convidativo se posicionar no Ibovespa hoje”, diz Spiess, da Empiricus.

No entanto, o investidor não deve esperar um lucro robusto antes de 2023. Segundo os especialistas, um dos principais motivos seria os riscos embutidos nas eleições de 2022, que já afetam a Bolsa.

Investidor não deve esperar um lucro robusto antes de 2023, devido às eleições do ano que vem (Imagem: Facebook/B3)

“De modo geral, os investimentos devem ser encarados como de longo prazo, pois quando a gente pensa muito no curto prazo, estamos fadados ao fracasso, ainda mais em um cenário volátil, como o do próximo ano”, comenta Spiess.

“Basicamente, o que faz a Bolsa crescer, em um grande período de tempo, é o lucro das empresas. Além disso, principalmente depois dessa queda recente, entrar na Bolsa agora é uma boa oportunidade para o longo prazo”, reforça Wolf.

Reformas ainda impactam?

As reformas fiscais também são um dos fatores que influenciam o mercado. Todavia, os analistas discordam do impacto futuro das reformas nos ativos de risco brasileiro.

Para Gustavo Wolf, os investidores já precificaram as reformas, e caso elas sejam aprovadas, não haverá gatilhos de alta. Se elas fracassarem no Congresso, o mercado também não será impactado.

Para Wolf, da Meraki, os investidores já precificaram as reformas (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

“Se o Congresso escolher entre ‘vamos aprovar’ e ‘não vamos aprovar e sim fazer uma proposta melhor do que está aí’ seria mais positivo, pois essa reforma não agradou o mercado”, observa Wolf. Entre os sinais de descontentamento dos investidores sobre o assunto é a recente baixa da Bolsa.

“Essa parte mais negativa e pessimista já está precificada, justamente porque essa reforma não resolve muito o problema estruturalmente”, acrescenta o analista da Meraki.

Por outro lado, Spiess, da Empiricus, calcula que o Ibovespa possui alguns gatilhos de alta, se uma boa reforma for aprovada. O mercado também deve ficar atento a um eventual fracasso do governo. Neste caso, o principal índice da Bolsa tende a passar por mais turbulência.

“Ninguém acredita que vai ter uma baita reforma em véspera de ano eleitoral, mas, se vier algo de perda completa como ‘agora não vai aprovar mais nada’, o mercado cai, pois isso é visto mais como negativo do que positivo”, explica o analista. “O mercado já entende que não vai ser uma baita reforma, pois muitas coisas da campanha de 2018 caíram por terra”, conclui Spiess.