Bolsa está barata, mas não é hora de sair comprando tudo, diz Christian Faricelli, da Absolute Investimentos
A bolsa brasileira está barata já algum tempo — e para gestores, a situação não poderia ser diferente.
“Com o alto custo de oportunidade, o risco Brasil e o sentimento de maior aversão ao risco, não tem como a bolsa não parecer barata”, disse Leonardo Linhares, sócio da SPX Capital e responsável pela estratégia de renda variável.
Além disso, a economia brasileira nada em um ritmo razoável e com bom desempenho das empresas listadas — mas essa combinação não pode perpetuar, segundo o sócio da SPX.
Para o gestor, se a curva de juros e a inflação se mantiverem do jeito que está, “o cenário vai piorar”.
“Se mantiver o que está na curva de juros e inflações esperadas, o cenário vai ser pior para a atividade [econômica] e o resultado das empresas em geral. Não é sustentável o que estamos vendo em tela hoje”, disse Linhares durante o evento Investment Managers Forum, realizado pelo UBS na segunda-feira (11).
“O investidor tem que exigir taxa elevada [de retorno], a bolsa tem que estar barata”.
Já Christian Faricelli, sócio e gestor de ações do Absolute Investimentos, afirmou que, mesmo considerando os preços atuais, não é hora de sair comprando ativos sem parcimônia.
“Diferentemente de alguns que acham que a bolsa inteira está barata, que pode comprar [os ativos] o que você quiser que vai ganhar dinheiro, não é bem assim”, afirma.
Oportunidades na bolsa
Segundo o gestor e sócio da Absolute, algumas empresas de “extrema” qualidade estão com valuation “muito bom”. “Peneirando, fazendo um trabalho fundamentalista por empresas e setor, encontramos algumas oportunidades”.
Por exemplo, o setor de bancos, que compõem cerca de 25% do principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, está, nas contas de Faricelli, próximo ao preço-justo.
“Os bancos já pagam dividendos altos, então o investidor aceita o risco menor para carregar. A nossa dúvida é se os principais players vão passar ilesos à atuação das fintechs”, disse gestor da Absolute Investimentos.
Mas com uma percepção de risco negativo para o setor, Faricelli afirmou não ter exposição a bancos. Segundo ele, as oportunidades estão nos setores “NTN-B+” — que conseguem repassar a inflação nos preços como empresas de serviços públicos (utilities), transportes e shopping centers.
“A gente sempre busca assimetria positiva, olhando o custo de capital daquele momento”, disse Faricelli.
Bolsa brasileira ‘perde’ para Chile e México
Com os riscos do mercado brasileiro na mesa, Linhares, da SPX, afirmou que prefere a bolsa do Chile.
Segundo ele, 10% da carteira do seu fundo long bias — com a estratégia focada em valor e ciclos econômicos, permitindo ao fundo operar comprar ou vendido em ações — tem exposição ao país andino.
O México também está no radar. “O México, que está em uma situação difícil, tem muita coisa boa ajustada ao custo de oportunidade.”
Para o “azar” do Brasil, a discussão de preços esbarra na piora do cenário internacional. O investidor estrangeiro, ainda que marginal, é o que mexe com o preço das ações. Além disso, com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, a tendência é de que a maior economia do mundo drene todo o dinheiro dos mercados globais.
“Se Trump fizer algo perto do que prometeu, é difícil não achar que a tendência é de um dólar forte, tarifas [de importações] e corte de juros menores do que está olhando”, afirmou Linhares.
“A classe de emergentes fica difícil. Já não estava especular, mas vai ter saída [de capital estrangeiro] e isso atrapalha o fluxo.”
Ao mesmo tempo, o investidor local “está machucado” com juros futuros em quase 13% e produtos mais competitivos na renda fixa, além do cenário fiscal. “O mercado está furado”, afirmou o sócio da SPX.
Um luz no fim do túnel
Linhares, da SPX, disse ainda que há esperança para a bolsa brasileira — mas não é o pacote de corte nos gastos públicos, ainda que a bolsa tende a reagir bem ao anúncio das medidas fiscais.
Segundo ele, as eleições de 2026 têm potencial para o gatilho nas ações. “A probabilidade não desprezível para uma pancada [na bolsa] seria uma troca de governo.”
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