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Bolsa em liquidação: Quedas abrem oportunidades, diz gestor de fundo que bateu Ibovespa; veja 9 ações do portfólio

18 dez 2024, 7:00 - atualizado em 18 dez 2024, 10:58
Queda-Ibovespa
Apesar da recente queda do mercado por questões fiscais, muitas empresas continuam com fundamentos sólidos (Imagem: iStock/hernan4429)

A bolsa desabou e levou junto muitas empresas com pouca ou nenhuma exposição em economia doméstica, o que pode abrir boas oportunidades, vê Werner Roger, gestor da Trígono Capital, com cerca de R$ 2,5 bi sob gestão.

Um dos fundos, o Parthenon, que completou um ano em novembro, sobe 3,4%, contra tombo de 5,1% do índice.

A estratégia, segundo Werner, que conversou com o Money Times, é apostar em empresas defensivas e com alta exposição ao dólar, algo que ganha ainda mais relevância diante do cenário de stress do mercado, com perspectivas de juros na casa dos 14% e dólar em R$ 6.

Ele explica que hoje o fundo possui exposição em uma série de segmentos divididos em três fatores:

  • taxa de juros, que é uma ferramenta que está penalizando bastante o mercado, “mas a nossa exposição é mínima”;
  • os setores defensivos que estão indo bem, como bancos, instituições financeiras, concessionárias, telecomunicações, saneamento, elétrica, concessionárias de rodovias com tarifas reajustadas e pouca volatilidade;
  • e o terceiro segmento, relacionado ao câmbio e dólar.

Entre os papéis que ajudaram o fundo, estão empresas exportadoras e defensivas, como Embraer (EMBR3), Suzano (SUZB3), BB Seguridade (BBSE3) e Porto Seguro (PSSA3).

Outras ações relevantes incluem Metalúrgica Gerdau (GOAU3), Gerdau (GGBR4), PetroRio (PRIO3), Petrobras (PETR4) e Klabin (KLBN11), que se beneficiaram do câmbio e da conjuntura econômica global.

“O setor defensivo tem mostrado resiliência, enquanto o setor de commodities tem sido impulsionado pela expectativa de crescimento da China“, afirma.

Para ele, apesar da recente queda do mercado por questões fiscais, muitas empresas continuam com fundamentos sólidos.

“Estamos comprando empresas excelentes, muitas delas até se beneficiando do próprio ambiente negativo de mercado, que acaba sendo ajustado pelo dólar. Um exemplo é a Embraer. O que a Embraer tem a ver com a Selic ou com o ajuste fiscal no Brasil?”, questiona.

Ele recorda que quem compra da fabricante não são brasileiras, mas sim empresas no exterior. No ano, o papel sobe 158%. “Selic não tem impacto nenhum, zero, na Embraer. Mesmo assim, ela cai por questões macroeconômicas e de mercado”.

Outro exemplo, segundo Werner, é a Petrobras. “A empresa pode até ter que pagar mais dividendos para ajudar o governo, como já foi anunciado”.

O fundo não realizou grandes mudanças recentes na carteira, diante da piora do cenário, e continua com foco em empresas que se beneficiam da conjuntura de dólar e pouca exposição a juros.

“Há também uma posição relevante no agronegócio, que está em um momento favorável com a super safra e recursos provenientes de financiamentos e exportações futuras”.

 ‘BC quer matar formiga com canhão’

No cenário macro, o gestor lembrou que a inflação está ligeiramente controlada. O IPCA de novembro subiu 0,39%, com alta acumulada de 4,76%, acima do teto da meta perseguida pelo Banco Central em 2024, de 3% com intervalo de 1,50 ponto percentual, mas ainda distante dos 8% do período da pandemia, quando a Selic chegou a 13,75%.

“Estamos com a inflação ligeiramente acima da meta, algo em torno de 0,2 ponto percentual. A política atual está usando um canhão para matar uma formiga. O dano que isso causa à economia, com desemprego e retração da atividade econômica, é muito maior do que tolerar uma inflação um pouco acima do centro da meta”.

Na sua leitura, a alta da Selic prejudica, inclusive, a própria arrecadação de impostos, que, por sua vez, agrava a situação fiscal do governo. “Quem paga essa conta? Os juros altos recaem sobre o governo, o Tesouro. Isso gera a necessidade de aumentar impostos, o que é insustentável”.

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“O Banco Central precisa reconhecer que também contribui para a deterioração fiscal. Não adianta dizer que “não é comigo, é o Tesouro”. A política monetária e fiscal são interdependentes. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Federal Reserve considera não apenas a inflação, mas o impacto de suas decisões sobre a economia como um todo”, diz.

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Governo também precisa fazer a sua parte

Werner também não deixou de falar do papel do governo nessa história. A piora das expectativas ocorreu, sobretudo, depois do pacote fiscal de R$ 70 bi em dois anos, visto como insuficiente, além da isenção do Imposto de Renda para quem ganha R$ 5 mil. Embora o governo diga que em impacto fiscal será neutro, parte do mercado ainda é cético sobre a medida.

“Se o governo não entender que precisa criar condições para que o Banco Central não seja forçado a continuar aumentando a Selic, a própria economia estará comprometida em ano de eleições. A responsabilidade é do governo: ele precisa ajudar o Banco Central por meio de reformas, melhor gestão de custos e compromisso com a responsabilidade fiscal. Caso contrário, até a estabilidade política estará em risco”.

Para Werner, uma Selic a 15%, como preveem casas como XP Itaú, é ‘insustentável’.

“No momento em que começamos a ver o aumento da inadimplência, seja entre pequenas e médias empresas ou até grandes corporações, isso acaba travando o mercado de capitais. Não há mais emissões independentes, tudo está paralisado. Apesar de uma euforia inicial, o mercado congelou: os bancos fecharam fundos de crédito, não vemos nenhuma emissão de dívida nem IPOs”.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
renan.dantas@moneytimes.com.br
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.