Bolsa brasileira tem 128 programas de recompra de ações abertos, depois de recorde em 2024; é hora de investir nos papéis?

(iStock/primeimages)

Siga o MT no WhatsApp

A bolsa brasileira tem um total de 128 programas de recompra de ações abertos, de acordo com levantamento da Quantum Finance realizado a pedido do Money Times. No ano passado, o Brasil registrou um recorde de 126 pedidos de recompra aprovados. Em 2023, foram 80 pedidos.

Os programas de recompras são de setores como financeiro, varejo, construção, e acontecem em meio à perspectiva de que os juros e a inflação continuem elevados por um longo período.

Segundo analistas, as tesourarias das empresas preferem recomprar os próprios papéis por não verem retorno em um projeto de expansão diante do custo de capital elevado e por acreditarem que as ações estão descontadas em relação ao seu valor justo.

O sócio da WMS Capital, Marcos Moreira, diz que a recompra de ações é uma forma de “mandar um recado” para o mercado e fortalecer a confiança dos investidores. O fluxo médio de recompra, pondera, não causa uma redução muito significativa no free float, especialmente nas empresas do Ibovespa.

“Não há uma redução capaz de inflar os preços em um cenário de alta. Entretanto, um valuation descontado, somado a uma recompra de ações, pode fortalecer um bull market – considerando fatores como política fiscal, inflação e, consequentemente, juros”, diz.

As recompras de ações, juntamente com a queda no preço das ações e o pagamento de dividendos, contribuíram para uma redução de aproximadamente 13% no free float entre janeiro de 2022 e dezembro de 2024, disse a gestora Alpha Key em documento enviado a clientes. 

As recompras de ações “enxugaram” cerca de R$ 60 bilhões nesse mesmo período.

Leia também

Empresas

Raízen (RAIZ4) reverte lucro e registra prejuízo líquido de R$ 2,57 bilhões no 3T25

Mercados

Ibovespa sobe e atinge os 128 mil pontos pela 1ª vez no ano com Petrobras (PETR4) e reprovação de Lula; dólar cai a R$ 5,69

Recompra é motivo para investidor embarcar?

Moreira, da WMS, defende a recompra como uma forma de complementar a análise de uma ação, mas não como fator definitivo para balizar uma decisão de investimento.

“Observando o macro, o recorde de recompra como um todo pode indicar uma maior atratividade dos ativos e incentivar um aumento da exposição na bolsa de valores de maneira geral”, diz o analista. 

A recompra de ações é similar ao pagamento de dividendos, beneficiando acionistas que não vendem suas ações, pois eles acabam com uma participação maior na empresa após o cancelamento dos papéis em tesouraria.

O CEO da Gravus Capital, Ricardo Gallo, diz ver na recompra de ações um motivo para aumentar a exposição a uma empresa, mas pondera que é importante analisar os setores.

“O varejo, por exemplo, sofre com margens apertadas. Mesmo com programas de recompra, são necessários outros fatores, como uma pausa na alta de juros, [para valer o investimento]. Setores mais perenes, como energia e bancos, têm se mostrado mais resilientes”.

O analista, no entanto, alerta que investidores que embarcarem agora em uma ação podem ter de “esperar mais tempo” para obter retornos, caso as taxas permaneçam elevadas por mais três ou quatro anos. “Empresas com margens pequenas podem enfrentar dificuldades para se manter competitivas nesse cenário”, diz.

Para o BTG Pactual, a trajetória “altamente incerta” da dívida pública do Brasil pode manter as taxas de longo prazo sob pressão e impedir uma recuperação mais forte das ações brasileiras.

“A única maneira de os preços dos ativos se estabilizarem/melhorarem seria se o governo implementasse mudanças mais estruturais no orçamento, o que parece improvável neste momento”, disse o banco em relatório assinado por Carlos Sequeira e equipe.

Os programas de recompra já aprovados