Agricultura

Boi se aproxima de R$ 300/arroba e aperta margem da carne para mercado brasileiro

12 nov 2020, 17:50 - atualizado em 12 nov 2020, 17:51
O aumento nas exportações reflete uma alta no faturamento com os embarques (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

O preço da arroba do boi gordo tem renovado recordes com frequência no Brasil, aproximando-se da marca de 300 reais e apertando as margens de frigoríficos que negociam carne no mercado interno, ainda que a firme demanda na exportação mantenha os negócios rentáveis para quem vende no exterior, apontaram especialistas do setor.

O indicador do boi gordo Cepea/B3 atingiu na quarta-feira o recorde real de 292 reais por arroba (deflacionado pelo IGP-DI de outubro), apurando alta de cerca de 5% apenas nos primeiros dias do mês de novembro e de mais de 40% no acumulado de 2020.

O movimento é impulsionado pela oferta reduzida de animais e pela demanda por novos lotes para abate, especialmente para exportação de carne, que tem sido ajudada por um dólar forte que torna os negócios de commodities do Brasil ainda mais vantajosos.

A situação, em ano em que a soja, milho, arroz e outros produtos agrícolas também tiveram máximas no Brasil, pressionando a inflação, de certa forma frustra expectativas anteriores do governo brasileiro. Após a arroba bovina romper pela primeira vez 200 reais em novembro do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro havia dito que a escalada era passageira.

O Brasil exportou 1,4 milhão de toneladas de carne bovina in natura entre janeiro e outubro, alta de quase 12% na comparação com igual período do ano passado, com a China abocanhando quase a metade do total, segundo dados do governo.

“As vendas externas de carne seguem registrando bom desempenho, devido, principalmente, aos envios à China. De janeiro a outubro deste ano, o país asiático foi destino de 685,36 mil toneladas de carne bovina… correspondendo por 41,6% de todo o volume exportado pelo Brasil”, destacou nesta quinta-feira análise do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP.

O aumento nas exportações reflete uma alta no faturamento com os embarques. Segundo a consultoria Athenagro, a receita em dólares avançou 15,8% na comparação anual até outubro mas convertido em reais, esse valor apura salto de 52,5% no período, marcado por firme desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar.

Esse comportamento é justamente o que permitiu que os preços da arroba disparassem no país, de acordo com o sócio-diretor da Athenagro, Maurício Palma Nogueira, que participou de seminário promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) nesta quinta-feira.

“Claro que é oferta e demanda, mas para chegar nos níveis em que nós chegamos, é o frigorífico exportador tendo condição e interesse em pagar mais pela arroba do boi, porque ele quer exportar de qualquer forma”, afirmou Nogueira durante o evento.

Dados compilados pela consultoria mostram que o preço médio da tonelada de carne bovina exportada passou de cerca de 16 mil reais em 2019 para 21.234 reais neste ano, alavancado pelo efeito cambial.

Nogueira projeta que o Brasil já há alguns anos o maior exportador de carne bovina do mundo atingirá em 2020 um volume embarcado equivalente ao dobro do segundo maior exportador, a Austrália, e superior à soma do segundo e terceiro colocados do ranking (Austrália e Estados Unidos).

 

Margem Interna Aperta

O cenário de preços altos, consequentemente, faz com que as margens do mercado interno fiquem cada vez mais apertadas.

O indicador de margem da Athenagro, que compara a soma do faturamento dos frigoríficos com cortes, sebo e ossos ao preço do boi, está nas mínimas da série histórica iniciada em 2007, assim como os “markups” (sobrepreços) praticados no varejo em relação ao preço pago à indústria.

“Este é o pior momento em termos de precificação para o mercado interno que os frigoríficos já viveram… Os frigoríficos não estão ganhando dinheiro no mercado interno”, disse Nogueira, que vê uma situação “extremamente apertada” para as companhias.

Para a pecuária de corte, porém, 2020 foi um ano de “tempestade perfeita para jogar os preços para cima”, e o panorama favorável deve seguir em 2021.

A Athenagro vê um aumento de 14,4% nos preços da pecuária no ano que vem, com o Brasil permanecendo como o principal “player” do mercado de carne bovina.

“O cenário para a carne bovina é fantástico, é fenomenal”, concluiu Nogueira.

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