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Boi: Preços saem de R$ 232 para R$ 265 em 2 meses e ‘sinais já apontam para virada de ciclo’; entenda

28 set 2024, 10:00 - atualizado em 27 set 2024, 10:38

O indicador de preços do boi gordo Cepea/B3 acumula uma valorização de 10,78% na parcial de setembro, em R$ 265,60 até o dia 25 de setembro. Em agosto, a valorização do indicador foi de 3,12%, em R$ 232,50. Dessa maneira, há uma valorização de 14,19% nos preços desde agosto.

De acordo com Hyberville Neto, analista da HN Agro, agosto e setembro de 2024 fecharam com preços acima de 20,03% e 12,47%, respectivamente, que os mesmos meses do ano passado.

“Dois meses de alta podem parecer pouco, mas geralmente quando isso muda para o positivo, costuma ficar no positivo. Quando pegamos a participação de fêmeas nos abates, estamos vendo um platô há alguns meses no acumulado de 12 meses. Temos um cenário de oferta ainda elevada, o que é positivo por um lado, já que mesmo com abates recordes, a demanda segurou às pontas e fez o mercado trabalhar firme e em alta”.

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Sinais já apontam para virada no ciclo do boi

Fora isso, os preços do bezerro, que já subiram 5,17% com base no indicador Esalq/BM&FBovespa, deram um suporte ao mercado quando os preços do boi caíram em meses anteriores, ainda que valores do animal não tenham subido com tanta intensidade igual o boi gordo, em meio a um cenário de poucos animais no pasto, o que reprime um pouco a demanda.

“Há expectativa que seja sim o início da virada para um ciclo positivo de preços do boi gordo. No entanto, se considerarmos a participação de fêmeas nos abates há uma estabilidade e os níveis de oferta de animais ainda não diminuíram em julho e agosto. A demanda segue indo muito bem no mercado interno e externo, com a disponibilidade interna sendo bem absorvida no Brasil”.

Sendo assim, para o especialista da HN Agro, há indicativos que apontam para uma virada de ciclo no mercado, como o aumento dos preços do bezerro.

“Os preços só não subiram em linha com o boi porque não há pasto. Quando às chuvas e a época de negociação retornar, eu enxergo uma retomada para o mercado de reposição, o que deve retirar ainda mais fêmeas dos abates e implicar nessa redução da oferta, mas por enquanto, há um freio da participação de fêmeas com uma boa demanda. Quando a demanda acalmar no começo de 2025, devemos ver uma redução de fêmeas”, analisa.

Na prática, o próximo ano será um período com uma menor produção de carne bovina no Brasil, o que por sua vez, implica em maiores valores para arroba e carne, cenário positivo para os preços.

Reflexos para frigoríficos

A consultoria Datagro prevê uma queda de -4,6% no abate de gado no Brasil em 2025 e de -7,5% em 2026, o que pode aumentar os custos da carne bovina no país. A diminuição da oferta ocorre enquanto os preços do gado estão em baixa desde 2020, desestimulando a expansão do rebanho.

Empresas como JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva Foods (BEEF3) podem ser impactadas, já que dependem significativamente do gado brasileiro para sua produção.

Segundo a Genial Investimentos, a perspectiva de mercado é de uma possível extensão do ciclo negativo dos EUA até 2026, podendo perdurar até início de 2027.

“Caso isso aconteça de fato, as chances estão aumentando de ocorrer um descasamento da virada de ciclo entre EUA e Brasil, o que poderia prejudicar as teses de JBS (em maior grau) e Minerva (em menor grau)”, veem Iago Souza, Eduardo Nishio e Ygor Bastos.