Boi gaúcho ‘derrete’ por seca, falta d’água e queimadas; safra de inverno não promete
Os pecuaristas gaúchos, hoje a maior parte confinados nas pradarias de fronteiras com o avanço da soja, estão com seus bois sem pastos, sem água e não conseguem preços que reduzissem os danos da estiagem e calor.
Na tentativa de passar para frente os animais, com a flagrante perda de peso e risco de morte, e sem condições de tratá-los em curral, as cotações caem seguidamente.
Como o Rio Grande do Sul inteiro sofreu com o clima adverso, a queda na produção de grãos encareceu o custo das rações.
Dartagnan Soares Carvalho, de tradicional família criadora de Santana do Livramento, aponta a perda de R$ 1,50 por kg desde dezembro. “Hoje está em R$ 10,50, R$ 11 no máximo em alguns casos muito específicos”, diz.
Para completar o quadro, os incêndios se multiplicam no pouco de pasto de verão que rendeu apenas 30% do que deveria produzir, lamenta o produtor, ex-presidente do Núcleo Pampa Gaúcho dos Criadores de Hereford e Bradford.
Na sua região, as queimadas espontâneas destruíram 15 mil hectares.
Paulo Borges, da Bagé, também adiciona esse fenômeno à dramaticidade do Sul, com o fogo também vindo da Argentina e atingindo São Borja, apesar de a fronteira Oeste ter tido um pouco mais de chuvas em alguma localidades.
A partir de março, a tradicional pecuária pampeana abre a janela para preparação da terra para as pastagens de inverno, mas as notícias também não são animadoras.
Depois de um La Niña forte como o foi o atual, a perda de intensidade, de fevereiro em diante, costuma trazer um outono mais rigoroso e antecipado. O que a seca não queimou, o frio queima.
Dito isto, Soares Carvalho conjectura que, descapitalizados, e sem segurança climática, a situação “calamitosa” deverá seguir para os companheiros do estado, que outrora já foi uma das principais praças pecuaristas do Brasil a partir da matriz bovina de origem europeia.