BofA vê fim da era de inflação baixa com ganhos para o dólar
As persistentes pressões de preços tornarão mais difícil para bancos centrais permanecerem comprometidos com as atuais metas de inflação, uma narrativa que deve impulsionar os mercados de câmbio daqui para frente, dizem estrategistas do Bank of America.
Fortes dados do mercado de trabalho e inflação reforçam a crença de alguns de que pressões de preços mais altas vieram para ficar e que a credibilidade dos bancos centrais está em jogo na tentativa de reduzi-las de acordo com as metas esperadas.
Com a inflação e os mercados de câmbio de economias desenvolvidas correlacionados positivamente, isso representa um risco de o dólar se fortalecer ainda mais, de acordo com Athanasios Vamvakidis, chefe de estratégia de câmbio do G10 do BofA.
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“Quais bancos centrais permanecerão comprometidos com sua meta de inflação e quais não determinará o câmbio à frente”, escreveu o estrategista em nota. Em mercados com autoridades comprometidas a fazer o que for preciso para atingir a meta, as moedas se fortalecerão mais, disse, acrescentando que a era da inflação baixa acabou.
Embora ancorar a inflação em um nível almejado tenha sido um princípio da política monetária desde a década de 1990, a meta de 2% adotada pelos principais bancos centrais, incluindo o Federal Reserve, tem sido objeto de novo escrutínio com a disparada dos preços.
Autoridades do Fed, como Philip Jefferson e Thomas Barkin, criticaram a ideia de aumentar a meta nas últimas semanas.
Outros sugerem que os bancos centrais buscam um retorno mais lento à mesma meta de 2%. Também há preocupação do outro lado do Atlântico. Howard Davies, presidente do conselho NatWest Group e membro fundador do Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra, disse que o Reino Unido arrisca resultados “desagradáveis” se tentar reduzir a inflação em direção à sua meta muito rapidamente.
Para Vamvakidis, do BofA, o apoio de bancos centrais a políticas monetárias muito frouxas antes do atual pico de inflação pode exacerbar o impacto econômico necessário para retornar às metas de 2%.
“Qualquer banco central que pareça mais disposto a fazer a parte fácil de seu trabalho do que a parte difícil, mais disposto a ser popular do que impopular, oferecendo bastante ponche no início da festa, mas não querendo retirar a jarra de ponche quando as pessoas começam a ficar bêbadas, perderá a credibilidade e verá sua moeda desvalorizar.”
Historicamente, leva tempo para se reduzir a inflação depois de os preços terem subido muito, e a política monetária ainda não está apertada o suficiente, enquanto os mercados de trabalho estão muito esticados e a política fiscal muito frouxa, explicou.
As previsões de Vamvakidis sobre os ganhos do dólar se concretizaram até certo ponto no ano passado, embora a desvalorização da moeda americana nos últimos meses de 2022 tenha surpreendido suas projeções. Desde então, seu cenário sobre a persistência da inflação se agravou: em setembro, o estrategista disse que os bancos centrais poderiam evitar um pouso forçado, mas agora sua equipe vê um pouso suave como a opção menos provável.
“É muito cedo para ter uma visão de qual banco central vai manter a meta e qual vai ‘piscar’”, disse Vamvakidis, segundo o qual o debate deve ganhar mais relevância no segundo semestre.