Boeing pode ser multada por não consertar luz em cabine do Max
Em 2017, engenheiros da Boeing descobriram que, por causa de uma falha de software, uma luz de aviso no recém-lançado 737 Max não funcionava em 80% dos aviões. Mas a empresa optou por não consertar ou informar autoridades reguladoras dos Estados Unidos.
No ano seguinte, um jato da Lion Air apresentou o problema que o alerta deveria detectar e caiu no mar de Java. A falta do alerta foi citada como um fator no acidente por investigadores indonésios. A falha da Boeing em corrigir o problema provocou críticas de políticos e famílias das vítimas.
Agora, a falta da luz de aviso ameaça se tornar uma nova dor de cabeça para a fabricante de aviões: sua ausência no jato violou os regulamentos da Administração Federal de Aviação dos EUA.
A FAA avalia impor multas, de acordo com documentos e autoridades, que podem chegar a milhões de dólares.
“Um fabricante não pode alterar as características do avião depois de ter sido certificado”, disse o então diretor interino da FAA, Daniel Elwell, em carta aos congressistas em julho passado, referindo-se ao alerta de mau funcionamento.
As multas podem se acumular rapidamente. Segundo as diretrizes da agência, grandes empresas como a Boeing podem ser multadas entre US$ 3 mil e mais de US$ 34 mil por violação. Esse valor poderia ser aplicado a cada um dos mais de 300 aviões nos quais o alerta não funcionou.
Além disso, um acordo de 2015 para arquivar 13 investigações separadas contra a Boeing – algumas delas que envolviam questões semelhantes de certificação de aeronaves – oferece à FAA uma maneira de agir rapidamente contra a empresa. A Boeing pagou US$ 12 milhões naquele caso, mas poderia ser multada em outros US$ 24 milhões se a FAA constatar que as violações continuaram.
No mínimo, a falha em divulgar que a luz de aviso não funcionava e outras divulgações recentes da empresa – como mensagens entre funcionários zombando da FAA – azedaram significativamente o relacionamento entre a fabricante de Chicago e sua reguladora.
J.E. Murdock, que atuou diretor jurídico da FAA e vice-administrador interino na década de 1980, disse que nunca viu nada parecido com o que chamou de recente “desrespeito” da Boeing por normas durante suas quatro décadas de trabalho no setor de aviação.
“Não sei como isso aconteceu, mas é preocupante”, disse Murdock.
A decisão da Boeing de omitir da FAA dois grupos de mensagens de texto e e-mails ácidos e sarcásticos entre seus funcionários é contrária à política da agência, que incentiva a divulgação de informações voluntariamente. A Boeing havia compilado pelo menos algumas das mensagens no início do ano passado, mas apenas as divulgou à FAA no fim do ano passado e em janeiro.
A FAA disse em comunicado enviado por e-mail que não comenta possíveis penalidades.
Gordon Johndroe, porta-voz da Boeing, disse que a empresa não comentaria nenhuma possível investigação em andamento. A empresa havia dito que pode estar sujeita a multas não especificadas em documento enviado à SEC no mês passado, mas acrescentou que não antecipou impacto significativo em seus resultados.
Os acidentes com o 737 Max – houve um segundo na Etiópia em março passado, no qual o alerta também não funcionou – mataram 346 pessoas, suspenderam os voos com o avião em todo o mundo e causaram custos estimados em US$ 18,6 bilhões à empresa.