Boa Safra (SOJA3) mira novas compras em 2025; CEO vê ‘pista molhada’ no crédito e clima como obstáculos
O ano de 2024 ficou marcado por investimentos, cautela e um clima desafiador para a Boa Safra (SOJA3), enquanto 2025 deve ser marcado por aquisições para aumentar a produção, disse Marino Colpo, CEO da companhia, em entrevista ao Money Times nesta quinta-feira.
A empresa, que reportou seus números do 3T24 na noite desta quarta (13), apresentou uma queda de 53,27% no lucro líquido na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, ficando em R$ 54,04 milhões. Já o Ebitda teve uma queda de 40,18%, em R$ 78,692 milhões. No dia seguinte aos resultados, a ação SOJA3 caiu 3,41%, a R$ 11,63 na B3.
Segundo Colpo, o resultado do trimestre se deve a três fatores principais: quebra na produção, o deslocamento do faturamento do 3T24 para o 4T24 e a concessão de crédito ao setor, em meio aos problemas pelo aumento de pedidos de recuperação judicial.
Os desafios para Boa Safra
“Tivemos uma safra muito complicada, principalmente em Goiás, na nossa maior planta (unidade de Cabeceiras), com um atraso na chuva, seca no início e uma colheita muito chuvosa”, diz o executivo.
A meta da companhia era produzir 240 mil sacas, mas no final, foram 200 mil sacas produzidas, com números similares ao ano passado.
Quanto ao deslocamento do faturamento, Colpo cita a “sazonalidade da sazonalidade”, com R$ 699 milhões na carteira de pedidos no 3T24, evidenciando as oportunidades a serem capturadas no 4T24. Houve uma postergação nas entregas de pedidos, com muitos produtores cautelosos nas decisões de compra devido ao atraso nas chuvas.
“Fomos mais cautelosos na concessão de crédito neste ano, pelos problemas no agro, principalmente para revendas”, diz Colpo.
“Tínhamos alguns pedidos em carteira com algumas revendas e algumas delas não foram capazes de executar todas as garantias que pedimos para concessão de crédito. Se você olhar para concentração de crédito nos nossos top 10 clientes, saímos de 50% na carteira em 2022, 40% em 2023 e 20% em 2024”, explica.
A inadimplência no agronegócio
Em conversa com o Money Times em outubro, o CEO da Boa Safra disse que a companhia “surfou” a onda de inadimplência no setor, através da concessão de crédito. Desde então, a inadimplência da companhia cresceu de 1,5% para 1,7% da carteira.
“De R$ 450 milhões que concedemos de crédito, são R$ 8 milhões apenas. Com todos esses problemas, com os casos de recuperação judicial, não tivemos nenhuma perda relevante. Tomamos a decisão de ir com cautela, com uma ‘pista molhada’ no mercado, optando por dirigir de uma forma segura”.
O caso mais emblemático entre os pedidos de RJ entre as revendas do agronegócio ficou por conta da AgroGalaxy (AGXY3). No 3T24, no entanto, houve um recuo de 40,7% no volume de pedidos.
“Sinceramente, eu espero que o pior já tenha passado e não tenhamos mais nenhuma RJ no setor. Para o 4T24, como não tivemos as garantias que buscávamos, esse produto voltou para o estoque, e estamos pulverizando em pequenas e médias revendas. Não é que deixamos de conceder crédito, só estamos pulverizando um pouco mais os riscos”, diz.
Novos ganhos de mercado e aposta em novas culturas
A líder na produção de sementes de soja, com 8,5% do market share, espera crescer ainda mais no mercado, além de expandir sua atuação com outros produtos
“Para soja, se crescermos 40% no ano que vem, vamos atingir 11% de market share. Outro destaque que devemos ver no 4T24 são as novas culturas, como milho, trigo, sorgo, feijão e forrageiras. São 5 culturas que somadas tem praticamente o mesmo tamanho da soja no Brasil”.
Colpo ressalta que há muito espaço para crescer nessas culturas de inverno, plantadas entre janeiro e março, o que deve diminuir muito a sazonalidade da companhia.
“Somos uma empresa que fatura muito no 3T e 4T. Com essas novas culturas de safrinha, vamos crescer muito em faturamento no primeiro trimestre”.
Boa Safra vê com otimismo novos M&A em 2025
Com um endividamento total que saiu de R$ 703,9 milhões no 3T23 para R$ 379,8 milhões no 3T24, a Boa Safra enxerga 2025 como um ano de oportunidades para possíveis fusões e aquisições (M&A)
“Tem muito oferta, mas é lógico que estamos sendo muito diligentes, já que o dinheiro tem ficado muito caro no Brasil. Temos a opção de fazer uma grande aquisição ou várias compras médias. Mas tem de ser uma ótima oportunidade, temos um mercado com juros caros e problemas de RJ no setor, então temos de ser cautelosos”.
Para o longo prazo, pensando nos próximos 20-30 anos, Colpo enxerga um cenário de “campos dourados” para o Brasil.
No curto prazo, ele reforça que o rápido avanço na área plantada do país, que cresceu “uma Argentina”, gerou um descasamento, já que a oferta cresceu mais que a demanda, impactando os preços. “Acredito que vai levar uns dois anos para voltar a um equilíbrio”.
“Para 2025, miramos atingir as metas estipuladas em 2023, com crescimento em volume e produção, em 280 mil bags. Não conseguimos cumprir com a meta de 240 mil sacas em 2024, mas vamos a manter a meta de 280 mil para o ano que vem”.