BNP Paribas vê investidor mais seletivo para títulos de risco da América Latina
Empresas latino-americanas de maior risco terão mais dificuldade em acessar mercados de dívida internacionais no segundo semestre, pois o ritmo de emissão de títulos deve diminuir após a onda de ofertas nos últimos meses, segundo o diretor de mercado de capitais de dívida para a região do BNP Paribas.
Governos e corporações venderam US$ 84 bilhões em dívida no mercado externo no primeiro semestre, um aumento de 55% em relação aos primeiros seis meses de 2019, disse André Silva, que coordena emissões de dívida da América Latina para o banco francês. Embora ainda haja muito apetite por novas emissões, Silva acredita que os investidores se tornarão mais seletivos no segundo semestre, criando obstáculos para a venda de títulos de créditos mais arriscados.
Segundo ele, para nomes corporativos puros de alto rendimento que acessam o mercado, o custo será maior e as ofertas serão mais difíceis de executar.
A Braskem (BRKM5) vai testar o piso do mercado para empresas classificadas como junk com sua próxima emissão de títulos. A Fitch disse que a petroquímica planeja uma emissão de títulos híbridos.
O estímulo injetado por bancos centrais ajudou a normalizar os mercados depois do congelamento para emissores latino-americanos em março. Ao mesmo tempo, governos abandonaram metas fiscais e empresas suspenderam os planos para reduzir índices de alavancagem, levando a um aumento das ofertas de dívida, mesmo depois que a região se tornou epicentro global da Covid-19.
Silva disse que houve um cabo de guerra entre o vírus e os bancos centrais. Ele acha difícil fazer uma previsão, mas, em sua opinião, por enquanto os bancos centrais “estão vencendo”.
O BNP participou de várias ofertas, incluindo a emissão de US$ 3,25 bilhões em títulos da Petrobras em maio, a oferta de US$ 800 milhões da mineradora Codelco em abril e a venda de US$ 500 milhões da Colombia Telecomunicaciones no início deste mês. O banco também participou de emissões soberanas do México, Chile e República Dominicana, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Silva disse que, embora a maioria dos governos da região já tenha acessado os mercados para financiar custos relacionados à pandemia, pode haver uma nova rodada de vendas de títulos soberanos no segundo semestre, pois a Covid-19 continua avançando.
Países como Brasil, Colômbia, República Dominicana e Bolívia avaliam levantar mais capital, disse Silva.
Mesmo países considerados muito bem financiados consideram acessar os mercados, afirmou.