BNDES desiste de vender ações da Eletrobras (ELET3) em 2022, diz Reuters
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não venderá neste ano ações da Eletrobras (ELET3) que estão na sua carteira, disseram duas fontes próximas ao assunto à Reuters, citando falta de tempo para a realização de uma cogitada operação ainda em 2022 e uma piora no cenário macroeconômico.
Uma cláusula de barreira (“lock-up”) para venda das ações –imposta após a privatização da Eletrobras– venceu no início do mês, o que gerou expectativa de que o BNDES pudesse vender parte de suas ações na maior elétrica da América Latina.
O banco chegou a fazer avaliações internas sobre o tema, mas a ideia foi abortada, segundo as fontes, que falaram na condição de anonimato.
“O banco não vai vender esses papéis da Eletrobras. Decisão tomada”, disse uma das pessoas com conhecimento sobre o assunto.
“Avaliou-se essa possibilidade, mas o tempo ficou curto, e para se achar o tamanho adequado da operação, não teria (tempo) hábil… muito difícil de fazer por conta da governança”, afirmou uma segunda fonte.
Procurado, o banco não comentou o assunto imediatamente.
O BNDES avaliou a possibilidade de vender cerca de 7 bilhões de reais em ações da Eletrobras, informou o jornal Valor Econômico, no início do mês.
O banco detém em carteira ações equivalentes a cerca de 8% do capital da elétrica, considerando fatia detida pelo braço de participações societárias da instituição (BNDESPar).
O roteiro para a venda de ações incluiria avaliação pelo corpo técnico, diretoria e conselho, o que esbarra no período para as reuniões desses grupos, que normalmente têm datas fixas para os encontros.
As vendas de participações do BNDES, que envolveram ações da própria Eletrobras, Vale (VALE3), JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3), entre outras, ajudaram a impulsionar os lucros da instituição durante o governo de Jair Bolsonaro.
Segundo dados do banco, entre janeiro de 2019 e setembro deste ano, os desinvestimentos somaram 88,5 bilhões de reais.
Com a mudança na Presidência da República em 2023, é provável que o banco deixe de se desfazer de participações. Nas gestões anteriores petistas, o portfólio do banco de fomento engordou.
A piora no cenário econômico, segundo uma das fontes, também inviabilizou a realização da operação de venda dos papéis da Eletrobras.
“Quando se tem uma mudança macro grande, e foi o que ocorreu agora, tem que refazer boa parte do trabalho. O risco Brasil hoje está bem mais alto, os juros estão mais altos. Aí você tem que refazer e atualizar as análises internas”, explicou.
“Se o ambiente não tivesse mudado, era mais rápido e fácil e dava para fazer. Mas as premissas da operação mudaram”, complementou.
O banco coordenou o processo de capitalização da Eletrobras que movimentou mais de 30 bilhões de reais em meados do ano.
Nessa operação de “follow-on” da elétrica, foi determinado um “lock-up” de 180 dias para acionistas vendedores e com posição superior a 5%.