Blog do PQ?: Underpricing dos IPOs e a Uber
Quando uma empresa precisa de dinheiro para investir em seus projetos, ela pode fazer duas coisas: pedir dinheiro emprestado e/ou ir atrás de novos sócios. Quando ela vai atrás de novos sócios de maneira pública, vendendo ações no mercado pela primeira vez, dizemos que ela faz um IPO (em inglês, initial public offer, isto é, oferta pública inicial).
Um IPO funciona mais ou menos assim: a empresa contrata um banco de investimento para fazer a conta de quanto ela vale, ou seja, calcular o preço justo para vender suas ações. Com a conta feita, o banco de investimento vai buscar investidores interessados em comprar as ações da empresa e as vende pelo preço calculado, que é chamado de preço do IPO. Depois disso as ações começam a ser negociadas normalmente em uma Bolsa de Valores.
Na quinta-feira da semana passada tivemos o IPO da Uber. O preço do IPO foi US$ 45, ou seja, os investidores iniciais pagaram US$ 45 na quinta-feira por cada ação. No entanto, na sexta-feira, quando a ação começou a ser negociada no mercado, o preço desabou. A ação fechou o dia a US$ 41,57. Um tombo enorme de 7,62%!
O que aconteceu com a Uber não é nada normal. Na verdade, é o oposto do normal. Um fato empírico muito curioso bem documentado em finanças é que, na grande maioria das vezes, o preço do IPO é bem menor do que o preço de fechamento das ações no primeiro dia de negociação. Ou seja, na grande maioria das vezes, a empresa vende suas ações por um preço bem menor do que poderia (em inglês, há underpricing).
O gráfico abaixo ilustra o underpricing olhando para 8.497 IPOs feitos nos EUA desde 1980. Os dados vêm do site do professor Jay R. Ritter da Universidade da Flórida.[1]
As barrinhas cinzas trazem os números de IPOs em cada ano. As bolinhas vermelhas mostram quanto os preços das ações subiram no primeiro dia de negociação (cada bolinha é a média do retorno do primeiro dia calculada com todos os IPOs do ano). Espantosamente, a bolinha é positiva em todos os anos. De 2001 a 2018, o underpricing médio foi de 14,3%. Durante a bolha das empresas de internet, foi de impressionantes 71,2% (1999) e 56,4% (2000).
Por que será que os investidores se desanimaram com a Uber? Parece que têm dúvidas de que a empresa consiga bancar a expansão acelerada que vem fazendo e sair do vermelho. A Uber é uma empresa símbolo do movimento disruptivo de novos serviços via aplicativos de celular. Vale a pena acompanhar com atenção os próximos capítulos dessa história.