Blog do PQ?: Thanos e as cotas para filmes nacionais
Pois é, o estrago causado por Thanos é aparentemente maior do que aquele mostrado no filme dos Vingadores (calma, não há spoilers à frente). O filme chegou a dominar 80% das salas de cinema do Brasil. Isso gerou uma gritaria principalmente do pessoal ligado ao cinema nacional, que viu seus filmes deslocados para abrir mais espaço para Homem de Ferro, Capitão América e companhia.
O ministro da Cidadania, Osmar Terra, confirmou que assinará uma cota para filmes nacionais nas salas de cinema do país. Uma fração (ainda não definida) dessas salas deverá exibir filmes produzidos por aqui.
Como qualquer negócio, cinemas querem ganhar dinheiro. Suas escolhas refletem isso. Se decidem alocar uma fração enorme das salas para os Vingadores, é porque isso lhes garante um lucro mais alto. E estão respondendo aos anseios dos consumidores: como muita gente quer assistir a esse filme, o número de ingressos vendidos será maior, e teremos menos assentos vazios.
Se fosse melhor para o cinema alocar mais salas para filmes nacionais, ele mesmo já faria isso – não precisaríamos de uma cota imposta pelo governo. Então a regra deve implicar menos lucro para o cinema, o que significa mais lugares vazios. Isso equivale a um aumento no custo para o cinema, o que pode, no longo prazo, significar uma menor oferta de salas.
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Quem ganha e quem perde com uma cota que proteja os filmes nacionais?
Ganham: fãs de filmes nacionais e pessoas que gostam de dispor de maior variedade de filmes.
Perdem: cinemas, como já dissemos, e fãs de Vingadores e blockbusters afins, já que o número menor de salas disponíveis implicará maior lotação e mais espera para ver seus filmes favoritos.
No entanto, a cota será relevante justamente quando temos esses blockbusters estreando (ou seja, quando os cinemas gostariam de ocupar mais de x% de suas salas com determinado filme, mas a regulação não permite). Nessas situações, os fãs estão desesperados para assistir aos filmes, isto é, o valor que atribuem ao filme é absurdamente alto. Provavelmente muito maior do que os fãs de cinema nacional atribuem a seus filmes.
Isso se manifesta nas salas lotadas e, para muitos, na necessidade de esperar por um assento. Essa situação tende a ocorrer para blockbusters estreando, mas não para outros tipos de filme. Note que ela é temporária. Depois de algumas semanas a ansiedade tende a diminuir, possibilitando a entrada de outros filmes. Quem não gosta de blockbusters aparentemente pode esperar, dado que não atribui um valor absurdamente alto a seus filmes.
Dessa forma, a perda ensejada pela cota, especialmente quando um blockbuster está estreando, tenderá a ser bem alta, e é provável que ultrapassará o ganho para os fãs do cinema nacional e outros filmes. A política, assim, tenderá a trazer mais custos que benefícios.
Um possível argumento em favor de cota é que ela tem custos hoje, mas outros potenciais ganhos no futuro. Um raciocínio nessa linha seria: hoje o cinema nacional não se desenvolve porque as salas são dominadas por filmes comerciais. Com isso, o brasileiro não tem oportunidade de conhecer filmes nacionais, o que mantém a indústria doméstica subdesenvolvida.
A cota poderia quebrar esse equilíbrio perverso. Com mais salas exibindo filmes nacionais, mais pessoas passam a conhecê-los, o que garante que o setor se desenvolva. No futuro, a cota inclusive não seria mais necessária.
O problema é: o cinema nacional cresceu muito ao longo das últimas décadas. Será que isso já não teria dado oportunidades suficientes para que os brasileiros conheçam nossas produções?