Opinião

Blog do PQ?: os sete pecados capitais do investidor amador na Bolsa

25 jan 2020, 17:03 - atualizado em 25 jan 2020, 18:32
Mercados
Ações que têm cara de loteria (pegadinha número 3) são aquelas com o preço bem baixo, volatilidade bem alta e podem dar um salto repentino (Imagem: Unsplash/@austindistel)

Com a queda dos juros no Brasil, muita gente está sendo atraída pelo investimento em ações: o número de investidores “pessoa física” na Bolsa saltou de um milhão para 1,5 milhão no ano passado.

Essa dinâmica é a princípio muito saudável. Só que ao abrir conta em uma corretora para investir seu dinheiro, você deve tomar muito cuidado com sete pegadinhas que aparecerão na sua frente. São os sete pecados capitais do investidor amador na Bolsa.

A pegadinha número 1 tem um nome chique, em inglês: “disposition effect“.  O disposition effect é o seguinte: quando uma ação sobe, a pessoa a vende rapidinho, no afã de colocar logo o dinheiro no bolso.

Por outro lado, quando a ação cai, a pessoa demora muito mais tempo para vendê-la. Isso acontece porque, em geral, temos dificuldade em reconhecer nossos erros. Ou seja, na hora de assumir ganhos, os investidores amadores são rápidos. Na hora de assumir perdas, eles demoram.

A pegadinha número 2 é a “ilusão do preço nominal”. Qual ação tem mais espaço para subir, ou seja, pode dar retornos maiores? Uma que está a 4 reais ou uma que está a 40 reais?

A resposta correta é um simples “sei lá!”. No entanto, muitos investidores pensam que é a que custa 4 reais. Essa ideia se explica porque, intuitivamente, parece que uma ação a 4 reais ainda pode subir para 5, 8, 15, 20, 40, e uma ação a 40 reais já subiu tudo isso.

Mas isso não passa de uma ilusão. Preços de ações não querem dizer, em princípio, absolutamente nada. Lembre-se de que empresas podem fazer desdobramentos e agrupamentos de suas ações a qualquer momento, mudando arbitrariamente seu preço de, por exemplo, 4 para 40 ou de 40 para 4 reais.

A pegadinha número 3 é o “gosto por loteria”. As pessoas, em geral, gostam de fazer uma fezinha. O mero fato de comprar um bilhete de loteria já dá um gostinho bom.

De fato, um dos assuntos mais populares nas tardes de Réveillon é o que cada um vai fazer se ganhar na Mega da Virada. Infelizmente, muitas pessoas levam essa propensão a apostar para o mercado de ações. Ações que têm cara de loteria são aquelas com o preço bem baixo (abaixo de 5 reais, por exemplo), volatilidade bem alta e que achamos que podem dar um salto repentino.

A pegadinha número 4 é a “saliência”. Você trabalha, vai pro bar com os amigos, sai pra jantar com a família, vai pra academia, viaja etc. e tal. Ou seja, sobra pouco tempo pra você de fato olhar para todas as ações que existem no mercado.

Isso acontece com você e com todos os outros investidores amadores. Isso significa que todos os investidores amadores acabam olhando para as mesmas empresas que, por um motivo ou por outro – relevante ou não –ficam salientes. Sabe aquela página da internet que fala de investimentos e que quase todo mundo acessa?

Imagine que um dia ela solta uma matéria boba, nada a ver com nada, sobre uma empresa. Mesmo que a matéria seja vazia de conteúdo, pronto: a empresa ficou saliente. O que acontece? Essa empresa acaba ganhando uma atenção desproporcional dos investidores amadores.

Ao invés de montar uma carteira com várias ações, diminuindo volatilidade e mantendo retorno médio, a grande maioria das pessoas tem carteiras muito concentradas (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

A pegadinha número 5 é o “excesso de autoconfiança”, algo que está muito dentro da gente. Se achar um pouquinho não faz mal a ninguém. Mas é claro que exageradamente faz mal, acaba ficando ridículo. E, no mercado acionário, na hora de investir nosso dinheiro, é extremamente prejudicial.

Acabamos por diversificar pouco nossos investimentos. Ao invés de montar uma carteira com várias ações, diminuindo volatilidade e mantendo retorno médio, a grande maioria das pessoas tem carteiras muito concentradas, com uma, duas, ou três ações. Acham que vão conseguir escolher a melhor ação. Em geral, não vão.

A pegadinha número 6 é o “ignorar que os preços das ações têm informações”.  Estamos acostumados a ir atrás de liquidações no nosso dia a dia.

“Nossa, aquela TV que estava a 3 mil reais agora está custando 2 mil! Sensacional! Vou aproveitar!” Nossa cabeça está treinada para pensar assim quando vamos às compras, não é? Pois é. Mas o mercado acionário é totalmente diferente, e muita gente se estrepa por causa disso.

Se a ação daquela empresa famosa costumava rodar em torno de 30 reais há um ano e agora despencou para 3 reais, não pense que tem alguma liquidação aí. Se isso aconteceu é porque muita coisa ruim deve ter acontecido com a empresa. Liquidações de verdade são moscas brancas no mercado de ações.

Finalmente, a pegadinha número 7 é o “viés local”.  Por exemplo, uma pessoa que mora em uma cidade na qual fica a sede de uma determinada empresa, tende a investir grande parte de seu dinheiro nessa empresa. Talvez a pessoa tenha carinho pela empresa. Talvez ela ache que conhece a empresa melhor do que os outros.

Ou, ainda, talvez simplesmente essa empresa seja mais saliente para essa pessoa (lembre-se da pegadinha 4). Algo análogo é a pessoa concentrar grande proporção do investimento em empresas do setor em que trabalha.

A pegadinha 1 leva a perdas porque é bem documentado que ações que sobem tendem a continuar subindo e ações que caem tendem a continuar caindo (isso é chamado de momentum).

Num mercado assim, uma pessoa com “disposition effect” se dá muito mal. As pegadinhas 2 a 7 fazem o investidor amador concentrar seus investimentos em poucas ações, deixando de lado todo o poder da diversificação. E montar uma carteira de ações pouco diversificada é uma das piores burradas que um investidor pode fazer.

Muito cuidado com os sete pecados capitais dos investidores amadores na Bolsa! Eles são terríveis!

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