BlackRock põe Brasil no mapa do investimento
Com os Estados Unidos em posição para cortar juros no ano que vem e a China na sombra de uma crise de liquidez no mercado imobiliário, o Brasil tem posição de destaque na tese de investimentos da BlackRock para 2024. Incertezas quanto à política fiscal poderiam atrapalhar o processo, mas a gestora vê oportunidades nos mercados de renda fixa e câmbio do País.
A sinalização do Banco Central dos EUA (Federal Reserve, o Fed) de que deve afrouxar a postura no ano que vem abre caminho para o retorno de investidores aos títulos da dívida americana, como evidenciado pela queda nos juros dos Treasuries deflagrada pela decisão da última quarta-feira.
Ainda assim, a empresa entende que o diferencial segue favorável para a maior economia da América Latina, onde a Selic continua na casa dos dois dígitos.
“O Brasil é um dos nossos principais componentes no lado da dívida, por diversas razões, uma delas é que os juros reais estão atraentes”, afirmou o gestor de portfólio de alocação global da BlackRock, Russ Koesterich, em evento na sede da companhia em São Paulo. “No lado das ações, temos menor exposição, em parte porque estamos mais cautelosos em relação à China”, disse.
Koesterich avalia que a recente desaceleração da atividade chinesa tende a afetar países dependentes da exportação de commodity, o que é o caso do Brasil. No entanto, para ele, os participantes do mercado estão cada vez mais ciente das peculiaridades individuais das nações que se enquadram nessa categoria. “No longo prazo, à medida que emergentes se tornam uma cesta mais diversificada, menos centrada na China, isso pode beneficiar alguns dos outros grandes mercados emergentes, como o Brasil”, destaca.
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Transição energética
As discussões sobre a transição energética também tendem a ser positivas para o País, que apresenta soluções em diferentes áreas.
Em outubro, inclusive, a BlackRock comprou uma participação de quase metade da Brasol, que fornece alternativas de energia renovável. “O Brasil é protagonista na transição energética e vemos mais oportunidade de criar visibilidade para esse tipo de investimentos”, afirmou a presidente da BlackRock no País, Karina Saade.
A maior gestora de ativos do mundo, com mais de US$ 9 trilhões sob administração, reconhece que o quadro fiscal pode vir a ser um risco relevante, embora veja a dívida no caminho certo.
Seja como for, Koesterich pondera que a posição brasileira já não é tão preocupante na comparação com o mundo desenvolvido, sobretudo nos EUA, diante da “deterioração das contas públicas americanas”. É em parte por conta disso que a BlackRock diz ver oportunidades na ponta curta dos Treasuries, mas recomenda maior cautela na ponta longa.
A outra parte dessa equação diz respeito ao ritmo de cortes de juros que o Fed executará. A curva futura embute uma redução acumulada de 150 pontos-base a partir de março até o fim do ano que vem, uma precificação que tanto Koesterich quanto Saade consideram “agressiva demais”.
Para eles, a política chegou ao auge de restrição e, de fato, o afrouxamento virá em algum momento, mas não na intensidade vista por investidores.