BlackRock chega para limpar quebras bancárias de US$ 114 bilhões
Mais uma vez, Washington se volta para sua equipe de limpeza favorita de Wall Street para arrumar a bagunça no setor bancário dos EUA.
Depois de quase dois meses de turbulência — e investidores com medo que possa haver mais problemas pela frente — a BlackRock apenas começou seu trabalho.
A unidade de Assessoria a Mercados Financeiros (FMA) da gestora, uma espécie de tropa de elite para lidar com crises, foi contratada para avaliar e vender investimentos relacionados a dois credores quebrados, o Silicon Valley Bank e o Signature Bank. Um terceiro, o First Republic Bank, foi vendido para o JPMorgan, mas os mercados continuam apreensivos.
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Para a FMA, o cliente é a FDIC, a agência responsável pela estabilidade do setor bancário americano, e o desafio é encontrar compradores para US$ 114 bilhões em títulos deixados para o governo pelo SVB e pelo Signature, sem gerar mais perturbação nos mercados financeiros.
É uma tarefa e tanto — a maior deste tipo de todos os tempos, na verdade — e vai entrincheirar a BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, mais profundamente ainda no aparato regulatório de Washington. Insiders reconhecem que a principal recompensa possivelmente não é dinheiro: as comissões não foram divulgadas, mas a abordagem da BlackRock em missões anteriores foi comedida.
A verdadeira recompensa, como costuma acontecer em momentos como esse, vem na forma de acesso, prestígio e influência. Essa influência eleva a reputação do CEO da BlackRock, Larry Fink, como mediador nas esferas do poder, e chama a atenção para o crescente alcance da empresa nos mercados globais.
Fink passou anos posicionando a FMA como a gestora de crises preferida de governos e bancos centrais. Quando não está se dedicando a prestar serviço ao governo, a divisão passa a maior parte do tempo, sobretudo nos bastidores, aconselhando empresas financeiras em todo o mundo sobre riscos.
Em 2008, a BlackRock foi chamada para arrumar o estrago deixado pelos fiascos do Bear Stearns e AIG, depois ajudou o Banco Central Europeu com testes de estresse bancário. Quando o Federal Reserve precisou de assistência com uma missão de resgate durante a pandêmico em 2020, pediu à BlackRock para ajudar a estabilizar o mercado de títulos corporativos.
Mais recentemente, além de seu novo trabalho para a FDIC, a BlackRock está assessorando o novo fundo gigantesco de infraestrutura da Arábia Saudita e ajudando a Ucrânia a criar um fundo de reconstrução de guerra. Também está auxiliando o Credit a se desfazer de títulos complexos depois que o banco caiu nas mãos do rival UBS.
Bem antes dos colapsos do SVB e do Signature, a BlackRock estava se posicionando para esse momento e entrando em contato com funcionários da FDIC sobre prestação de serviço em caso de quebras de bancos, disseram pessoas familiarizadas com o assunto. A empresa inclusive prestou assessoria ao SVB, um importante credor do setor de tecnologia, bem antes de o banco quebrar.
A BlackRock era a única prestadora na lista da FDIC para serviços ligados a recuperação judicial com qualificação para vender valores mobiliários, disse o porta-voz do órgão, David Barr, em comunicado. O papel da BlackRock provavelmente fará parte de qualquer revisão do trabalho da agência, de acordo com o escritório do inspetor geral da FDIC.
O trabalho é delicado. A equipe da FMA tem que se distanciar dos operadores de mercado e gestores de recursos da BlackRock, e manter seus planos em sigilo para evitar dar a alguém uma vantagem injusta. Para minimizar possíveis conflitos, o grupo fica em sua própria área no 16º andar da sede da empresa em Nova York e tem acesso separado ao vasto sistema de risco e portfólios da BlackRock, o Aladdin.
O veredicto inicial: até agora, tudo bem. A BlackRock parece ter administrado habilmente a rodada inicial de vendas em 18 de abril, que envolveu títulos imobiliários. As próximas rodadas — que podem chegar a US$ 2 bilhões por semana e levar meses — podem não ser tão fáceis, disseram analistas.
Como disseram analistas do Morgan Stanley, o esforço se dá em um momento em que o mercado de títulos imobiliários americano ruma para “águas desconhecidas”. O curso incerto dos mercados e da economia não ajudará.