Bitcoin ultrapassa os R$ 70 mil. E agora? Confira entrevista com Daniel Coquieri, da BitcoinTrade
Esta semana, o preço do bitcoin (BTC) ultrapassou a faixa dos R$ 70 mil (ou US$ 12 mil), dando início a um mercado de alta para a criptomoeda em meio a um período repleto de incertezas econômicas.
Considerando os principais direcionadores para a alta no preço, entrevistamos Daniel Coquieri, COO da BitcoinTrade, corretora especializada em criptomoedas no mercado brasileiro, sobre o atual contexto de mercado.
Daniel, o preço do bitcoin está muito próximo das máximas em reais, mesmo que o preço em dólares ainda esteja longe do seu ponto mais alto.
Você acha que, passando a marca dos R$ 70 mil, podemos ter uma corrida para comprar esse ativo, assim como três anos atrás, mesmo que o mundo todo não viva a mesma euforia?
Eu acho que o bitcoin, batendo a máxima no Brasil, pode criar uma euforia local no mercado brasileiro, mas eu não vejo acontecer uma euforia global até porque, como o bitcoin é cotado em dólar, os grandes mercados onde ele tem volume acabam olhando para o dólar, então [o bitcoin] está um pouco longe do seu valor máximo, de US$ 20 mil.
Então, acho que vai acontecer essa euforia local, que pode impactar um pouco o preço aqui no Brasil mas, como temos muitos arbitradores de preço hoje, naturalmente, se o mercado brasileiro começar a querer descolar o preço de reais/dólares, vão ter arbitradores vendendo bitcoin e trazendo o preço dele para um patamar compatível ao seu preço em dólar.
Não vejo acontecendo a mesma euforia que aconteceu em 2017.
Existem investidores de bitcoin que compraram o ativo em diferentes preços. Tem gente que está lucrando enquanto outros ainda estão perdendo.
Você tem algum conselho para qualquer um que invista em cripto, tanto para quem está ganhando como para quem está perdendo?
O melhor conselho para o investidor hoje, seja qual for o preço médio que pagou, ou seja, se comprou mais barato ou se está comprando agora, precisa entender os fundamentos dessa classe de ativos.
É importante que o investidor não fique tão preocupado com o preço de hoje, tenha uma visão um pouco mais a médio e longo prazo e tenha paciência. Acredito que pensar em um investimento para daqui até quatro anos vai ser muito lucrativo para o investidor.
Por ser uma criptomoeda e um ativo escasso, com o passar dos anos, a tendência é ter menos bitcoins sendo emitidos.
Por outro lado, temos a tendência de um aumento da demanda por esse ativo, que passa por regulamentações em vários países, amadurecimento do mercado e conta com a entrada de fundos institucionais no mercado.
Então, quando a gente olha a médio e longo prazo, temos um aumento de demanda e uma queda na emissão do ativo.
Além do bitcoin, existem outras milhares de criptomoedas e criptoativos no mercado e uma das principais vertentes que mais tem se falado é a de Finanças Descentralizadas (DeFi).
Você acredita que, neste atual ciclo do mercado, os tokens ligados a DeFi podem ser os grandes campeões em rentabilidade?
Na minha opinião, o que está acontecendo no mercado em relação aos tokens ligados a DeFi é especulação.
Existem tokens que estão se valorizando 30, 40, 50% ou até mais e, ao mesmo tempo, também perdem este mesmo valor depois porque foi, basicamente, uma especulação do preço do token.
Então, quanto a essa questão de “campeões em rentabilidade”, estamos falando de tokens com baixa liquidez e muita especulação, ou seja, altíssimo risco.
Agora, quando falamos da finalidade dos protocolos, temos uma outra visão como investidor: a de entender os principais protocolos, os que têm mais liquidez, para que servem, qual o propósito, aonde querem chegar como empresa/protocolo para, aí sim, utilizar o protocolo como uma forma de gerar rentabilidade.
É importante o investidor ter a visão básica e saber a diferença entre o que são tokens dos protocolos de governança e a finalidade do uso do protocolo, que é outra coisa.
O investidor que busca rentabilidade de 50, 100% precisa entender que, muitas vezes, as pessoas estão especulando aquele token de baixa liquidez e, ao mesmo tempo que subir 100%, pode cair 200%.
E se o investidor não está ciente e preparado para esses movimentos, a chance de ele perder dinheiro é muito grande.
Recentemente, tivemos um movimento de empresas listadas em Bolsa, como MicroStrategy e Square, comprando bitcoin como parte de suas alocações de caixa.
Você acha que a mais recente alta de preço pode ter sido impulsionada por players mais institucionais?
Esse movimento das duas primeiras empresas estarem comprando bitcoin e publicando isso é muito positivo para o mercado e, na minha opinião, começa a fazer o mercado olhar diferente para o bitcoin.
No mercado, estamos falando de empresas listadas na bolsa, empresas com muito caixa e que precisam alocá-lo em bons investimentos, pois esse dinheiro não pode ficar parado.
Então, alocar uma parte disso em bitcoin pode ser uma nova tendência para essas empresas a partir do que a MicroStrategy e Square fizeram.
Com certeza, tem um efeito positivo, mas não acredito que seja única e exclusivamente este o fator da alta do Bitcoin.
Temos outros efeitos, como o PayPal que, recentemente, falou que vai adicionar cripto em seu portfólio para seus clientes.
É uma wallet digital, com volume gigante de transações, que pode impactar positivamente o mercado em relação à expectativa de quando isso vai acontecer e, quando o PayPal liberar, de fato, pode haver uma alta no preço.
A demanda pelo ativo vai crescer nos próximos anos. A facilidade de acesso a esse ativo pelo investidor está aumentando. As regulamentações estão permitindo que empresas maiores possam, de alguma forma, se expor ou trazer esses ativos ao seu portfólio.
Tudo isso aumenta uma demanda enquanto, do outro lado, temos a escassez do ativo como base de sua inovação e tecnologia. Então, quando olhamos a longo prazo, como o próximo halving, acredito muito que teremos o bitcoin ultrapassando os US$ 20 mil nos próximos dois, três anos.
Por último, queríamos saber qual é a sua visão para o bitcoin e também para o mercado cripto para o ano que vem.
A minha visão para o bitcoin é que ele é o principal, o mais seguro, o mais líquido e o mais confiável criptoativo do mercado. Acredito que vai continuar assim pelos próximos anos. Ele é um ativo, e não é visto como uma moeda transacional.
Não vejo o bitcoin sendo usado no dia a dia de fato, mas ele é, sim, um ativo de investimento muito interessante para compor a carteira dos investidores. Essa é a visão do bitcoin e de como é sua usabilidade no mercado.
Temos outras criptomoedas com outras finalidades, que estão crescendo e deixando o mercado de criptomoedas cada vez mais maduro, basicamente em suas aplicações e como, de fato, os investidores ou empresas vão utilizar, efetivamente, esta tecnologia no seu dia a dia.
Para o ano que vem, vejo o mercado brasileiro amadurecendo.
Estamos vendo empresas tratando a questão de “conheça seu cliente” e compliance com mais seriedade, pois é algo importante.
Muitas empresas do setor estão recebendo investimentos, ou seja, isso vai ajudar essas companhias a se estruturarem melhor e oferecerem melhores produtos e mais segurança ao investidor brasileiro.
A regulamentação ainda está um pouco pra trás no Brasil, por conta do governo e de outras preocupações, mas vejo que chegaremos ao momento em que teremos a regulamentação para ajudar o mercado e tudo isso nos levará ao caminho do crescimento de setor, com mais investidores se expondo ao ativo, mais empresas atuando com produtos diferentes no mercado e mais usabilidade das criptomoedas no dia a dia do investidor.