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Bitcoin (BTC) é igual ao ouro? Entenda porque criptomoeda cai com tensão Rússia x Ucrânia

24 fev 2022, 14:56 - atualizado em 24 fev 2022, 15:30
Rússia e Ucrânia
O analista comenta que um dos motivos, é a leitura que o mercado tradicional faz sobre os criptoativos como sendo um ativo de risco. Além do mercado de criptoativos possuir uma menor liquidez em relação ao mercado tradicional. (Imagem: Reuters)

O conflito entre a Rússia e Ucrânia vem mexendo com os preços de todos os criptoativos nas últimas 24 horas.

Mas como um cenário de instabilidade geopolítica afeta um mercado que diz ser descentralizado?

A principal tese de analistas é de que o Bitcoin (BTC) é uma reserva de valor, como um ouro digital.

Entretanto, após o anúncio de que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, havia enviado seu exército para uma invasão na Ucrânia nesta madrugada (24), o movimento observado foi que a criptomoeda  caiu mais de 8%, enquanto o ouro valorizou 2%.

Orlando Telles, analista da Mercurius Crypto, diz que levando a crise da Covid-19 como um parâmetro, é possível que a principal criptomoeda do mercado possa cair mais ainda.

“Quanto ao potencial downside, acredito que aconteça uma queda de 30 a 40% caso haja um agravamento e um aumento da proporção do conflito que está sendo iniciado agora.”

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Como Rússia x Ucrânia afeta o Bitcoin?

Na opinião de Telles, o mercado de criptoativos, embora possa estar entre um dos mais afetados, não deve ser o mais desvalorizado.

O analista comenta que um dos motivos é a leitura que o mercado tradicional faz sobre as criptomoedas como sendo um ativo de risco. Além disso, o mercado possui uma menor liquidez em relação ao mercado tradicional.

Telles acredita que, por isso, os criptoativos tendem a sofrer menos à medida que a racionalização do mercado aumentar.

Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset, diz que é importante entender que, em momentos de crise e de aversão ao risco, os investidores vendem primeiro os ativos mais líquidos e de risco mais alto, e o Bitcoin se encaixa nessas duas categorias.

“Além disso, a quantidade de portfólios com alguma exposição ao Bitcoin aumentou muito nos últimos anos e, portanto, é natural que um aconteça um movimento forte de venda por conta do conflito gere um impacto no preço do ativo.”

No que diz respeito às altcoins, ele diz que, com exceção de alguns protocolos, elas se equiparam mais a empresas e startups num contexto de venture capital do que a moedas ou ativos econômicos propriamente ditos.

“Portanto, são mais sensíveis aos ciclos econômicos, juros e inflação. Então, elas podem sofrer um impacto maior com o cenário geopolítico atual.”

O Bitcoin é reserva de valor, moeda ou ativo de risco?

No que tange a questão do Bitcoin como reserva de valor, Telles diz que, quando comparado ao mercado tradicional, é possível notar que o Bitcoin bateu a maior correlação da sua história num período de 60 dias com o SP&500, segundo ele, superando a crise da Covid-19.

“Desde aquele momento, estamos vendo uma correlação crescente entre o mercado de cripto e os ativos do mercado tradicional atrelado aos ativos de risco, ou seja, SP&500, Nasdaq etc”, diz. 

Segundo o analista, o mercado tradicional enxerga o mercado de cripto muito mais como o “risk asset” de tecnologia com potencial de crescimento do que um ativo de proteção e reserva de valor.

“Isso por conta das próprias características do mercado. Ainda é um mercado inicial, envolve muito tecnologia, muita inovação e nós percebemos isso justamente pela correlação. Hoje o mercado de cripto tem muito mais ligação com a Nasdaq do que, por exemplo, com o ouro”, explica. 

Segundo Ludolf, apesar dos últimos movimentos, o Bitcoin ainda mantém uma certa descorrelação, por conta da política monetária imutável do ativo.

Ludolf afirma que, se se houver uma espiral inflacionária generalizada, o Bitcoin será pouco afetado.

“A crise econômica gerada pela pandemia do coronavírus mostrou que a descorrelação fica mais evidente depois que a crise passa, uma vez que a recuperação do Bitcoin é muito mais rápida que a dos outros ativos.”

Ludolf chama atenção para o fato de Ucrânia e Rússia serem países com umas das maiores adoções de cripto pela população.

“A Rússia, recentemente, reconheceu o Bitcoin como moeda e existe uma proposta para regularizar a mineração no país. Este cenário pode impulsionar a adoção de cripto, seja pela população para se proteger da instabilidade econômica em tempos de guerra, seja pelos oligarcas, empresas e até mesmo o próprio governo, como drible nas sanções e embargos que serão feitos.”