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Bitcoin (BTC) pode chegar a mais de US$ 1 milhão até 2030, diz CEO da Ripio

11 nov 2024, 7:30 - atualizado em 09 nov 2024, 16:37
Sebastián Serrano - CEO e cofundador da Ripio, bitcoin, criptomoedas
Os ETFs de Bitcoin no início deste ano representou um marco para o mercado, pois contribui para criar um ambiente mais seguro e confiável. (Foto: Divulgação/Ripio)

Na última semana, o Bitcoin (BTC) avançou mais de 10%, registrando recordes por três dias consecutivos — um cenário inimaginável para quem acompanhou o inverno cripto em meados de 2022, quando a principal moeda digital do mundo valia cerca de US$ 22 mil.

Inimaginável para investidores tradicionais, mas não para Sebastián Serrano, CEO e cofundador da Ripio, que acredita que o Bitcoin ainda tem potencial para crescer e alcançar a marca de US$ 1 milhão até o final desta década.

“A moeda digital é o ouro da nossa geração. Então, o mínimo esperado é que ela supere o valor do ouro, o que levaria o Bitcoin a valores elevados, na casa dos milhões de dólares”, afirmou em entrevista ao Money Times.

Serrano destaca que o lançamento dos ETFs de Bitcoin no início deste ano representou um marco para o mercado, pois contribui para criar um ambiente mais seguro e confiável, atraindo investidores que até então se mantinham afastados do universo cripto.

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Confira a entrevista completa com Sebastián Serrano, CEO e cofundador da Ripio

Money Times: Como você entrou no mundo das criptomoedas?

Sebastián Serrano: Comecei a utilizar Bitcoin em 2012. Na época, eu trabalhava com clientes nos Estados Unidos e era difícil cobrar deles. Foi então que descobri o Bitcoin como uma alternativa para resolver esse problema.

Funcionou muito bem para mim, apesar de no início eu não entendesse muito bem como de fato ela operava. Com o tempo, fui estudando mais sobre o assunto e fiquei apaixonado, porque a tecnologia blockchain é realmente muito importante para o mundo.

Sendo argentino, convivi com tantas crises e forte inflação. E descobri um sistema com emissões programadas e limites, algo que poderia ser um “dinheiro forte” com potencial de impacto global. Então, em 2013 comecei a trabalhar com isso — e aqui estamos, dez anos depois.

MT: Qual o cenário atual das criptomoedas?

SB: Com a vitória de Donald Trump, o Bitcoin atingiu uma nova máxima histórica de US$ 75.407. Esse cenário já era esperado, por conta da expectativa de que ele adote políticas mais favoráveis ao setor cripto.

Os mercados já estavam prevendo essa vitória, então muitos investidores se adiantaram assumindo posições no Bitcoin, considerando que a a vitória do Trump poderia ser benéfica em termos regulatórios nos EUA, elevando os ganhos com a moeda digital. Já pudemos ver esse movimento, por exemplo, na última semana com os ETFs de Bitcoin registrando entradas de R$ 5 bilhões.

Além disso, os números mostram que 2024 está sendo um ano positivo para o Bitcoin, que deve terminar com o valor quase dobrado em relação ao início do ano. Eu estou otimista para o primeiro semestre de 2025, que acredito também será muito bom.

MT: Qual sua métrica para o valuation do Bitcoin?

SB: Um Bitcoin sempre vai valer um Bitcoin. Mas, acredito que, até o final dessa década, é muito provável que a moeda digital alcance um valor de mais de US$ 1 milhão.

Isso porque ele deve ultrapassar a capitalização do ouro. A moeda digital é o Ouro Digital da nossa geração. Então, o mínimo esperado é que ela superar o valor do ouro, o que levaria o Bitcoin a valores bem altos — na casa dos milhões de dólares.

Mas algo que temos observado é que, a cada eleição nos Estados Unidos, as criptomoedas se tornam cada vez mais importantes. Seja por causa de declarações ou promessas de campanha especificamente relacionadas a criptos, ao setor financeiro e de novas tecnologias, ou também por conta da reação do mercado às afirmações dos candidatos, às pesquisas e campanhas.

Essas eleições, desde o início até esta semana, foram o exemplo mais óbvio disso. Tanto que o Bitcoin bateu uma  nova máxima histórica com a vitória de Trump.

Acredito que estamos em um momento em que a maioria dos países possuem déficits muito grandes, que estão levando a uma maior inflação no mundo. Isso faz com que a população busque formas de se proteger. As gerações mais velhas utilizavam o ouro para tal, e, agora, as gerações mais novas vão usar o Bitcoin.

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MT: Como você avalia o lançamento dos ETFs de Bitcoin no começo do ano?

SB: O lançamento dos ETFs de Bitcoin foi um marco significativo para a indústria. Isso não apenas apenas legitimou a criptomoeda, mas também ampliou o acesso para investidores institucionais e individuais.

A regulamentação que acompanha esses produtos ajuda a criar um ambiente mais seguro e confiável, o que pode atrair novos capitais para o mercado. Com mais opções disponíveis para investimento, há um incentivo maior para a adoção do Bitcoin e de outras criptomoedas como parte de estratégias diversificadas.

Para se ter noção, cerca de US$ 1,4 bilhão foram investidos em ETFs de Bitcoin nos dois primeiros dias após a aprovação. E centenas de milhares de ações desses fundos já foram negociadas.

Esses ETFs permitem que investidores que antes não conseguiam acessar o Bitcoin façam isso pelos mesmos canais tradicionais que já utilizam. Ou seja, eles podem “entrar” no Bitcoin sem possuir BTC diretamente e começar a dispor desses recursos.

Acredito que isso representa um passo positivo para a maturação do mercado de criptomoedas.

Claro que o mercado volátil. Na segunda-feira (4), os ETFs de Bitcoin tiveram uma saída líquida de US$ 541,1 milhões; foi o maior dia de saídas desde 1 de maio, quando registraram saídas de US$ 563,7 milhões. provavelmente, isso aconteceu porque muitos traders reduziram sua exposição antes da eleição nos EUA. Mas, esse cenário tende a mudar, já que também observamos recentemente entradas de US$ 870 milhões na última semana. Essa foi a terceira maior compra diária desde que os ETFs foram lançados, lá em janeiro deste ano.

MT: Qual é a diferença dos investidores brasileiros para os demais?

SB: Comparado ao resto da América Latina, o investidor brasileiro busca mais oportunidades.

Se você comparar com o investidor argentino, por exemplo, ele busca mais segurança para manter o seu capital. Já o brasileiro toma mais riscos para multiplicar seu capital. Eu acho que essa é uma das principais diferenças do investidor brasileiro.

Além disso, segundo a pesquisa “O Brasil que Investe“, realizada pela B3 em parceria com o instituto Bridge Research, o investidor brasileiro está cada vez mais disposto a diversificar seu portfólio de investimentos, apesar da preferência pela renda fixa.

Vale lembrar que o mercado de capitais no Brasil é mais desenvolvido que no resto da América Latina, então há mais sofisticação no conhecimento dos tipos de ativo que se tem disponíveis.

A respeito das criptos, talvez o que falta ao investidor brasileiro é mais conhecimento profundo sobre a tecnologia. É possível observar que em outros países onde as necessidades são mais fortes, os usuários têm mais conhecimento sobre como a tecnologia funciona e para que serve; eles entendem que há mais casos de uso do que somente a exposição aos ativos.

No Brasil, já existe um sistema de pagamento que funciona muito bem que é o Pix, então o brasileiro não busca tanto por tecnologias alternativas, como em outros países, pois essa solução já atende às necessidades.

MT: Qual sua avaliação sobre o Drex e os esforços do país em relação ao universo cripto?

SB: O Drex é um projeto muito inovador e vale ressaltar que o Banco Central brasileiro é um dos primeiros a trabalhar com tecnologia blockchain.

Como é uma tecnologia nova para a autoridade monetária, é comum que apareçam desafios que necessitam de resolução, mas o Brasil está muito à frente do resto do mundo no que diz respeito a criação de um dinheiro digital. E eu acho que isso vai atrair muito investimento e desenvolvimento para o país.

Durante o Febraban Tech 2024, por exemplo, o Drex foi apresentado como uma oportunidade emergente. O projeto começou em janeiro de 2023, avançou nos testes em 2024 e deve continuar avançando no próximo ano.

MT: Como a tecnologia blockchain pode mudar o mercado financeiro?

SB: Acredito que a blockchain trará muita eficiência para o mercado financeiro, especialmente com as stablecoins, que possibilitam transações internacionais em segundos, em comparação com dias no sistema tradicional. Um exemplo é que 15% das remessas internacionais no México estão sendo feitas com cripto.

Tem muita demanda por stablecoins em toda a América Latina, em especial no Brasil e na Argentina, que já estão se integrando e conectando ao sistema financeiro tradicional. A stablecoin já corresponde a cerca de 70% dos fluxos indiretos de bolsas locais, do Brasil, para bolsas globais.

Além disso, estamos vendo o aumento da tokenização em ativos reais (Real World Assets), algo que acredito que se tornará mais forte nos próximos anos.

MT: Quais são os desafios do universo cripto e blockchain?

SB: Precisamos lembrar que a indústria cripto tem ciclos muito bem marcados, o que dificulta a estratégia de longo prazo das empresas. Além disso, estamos vendo o desenvolvimento regulatório na América Latina.

Meu ponto de vista é que, mais do que os desafios, nós temos muito trabalho pela frente para seguir avançando com o aumento da adoção e mais casos de uso dos criptoavivo. Mas muitos deles que são fortes, como as stablecoins e o DeFi, que é um sistema de financiamento descentralizado, que não param de crescer.

Segundo um relatório da consultoria Chainalysis, entre 2023 e 2024, houve um aumento de mais de 200% nas transações envolvendo stablecoins no Brasil. Já a atividade relacionada ao DeFi está aumentando na Europa Oriental, demonstrando uma adoção contínua de criptos.

MT: Quais são os planos da Ripio para atrair mais pessoas para o universo cripto?

SB: Aqui na Ripio, nós trabalhamos com dois planos: um deles é ser um dos maiores provedores de infraestrutura cripto na América Latina, para fornecer suporte para as empresas que querem ampliar o acesso à criptomoedas e à tecnologia blockchain dentro de seus aplicativos e produtos.

Nós já somos exchange e custodiante das operações do Mercado Pago no Brasil com a stablecoin Meli Dólar; da OCA Blue, empresa do grupo Itaú Unibanco Holding; do maior broker da Argentina, que é o Investir Online; e estamos trabalhando cada vez mais com clientes como a Coinbase nos EUA, Finzi na Colômbia, IOL Inversiones na Argentina e Mercado Pago no Chile. Com isso, estamos ganhando mais capilaridade para dar mais acesso cripto por meio de diferentes pontos de entrada.

Também temos uma oferta de varejo. Ela é focada no usuário, seja aquele que está começando no mundo cripto até os traders mais avançados que buscam ter uma experiência mais completa. No caso, temos o Ripio Card, um cartão pré-pago internacional para pagamentos com débito direto da carteira dos usuários; e o Ripio Portal, uma Wallet Web3 multi-chain.

Além disso, algo que eu sei que vai ser muito importante nos próximos anos é a tokenização de ativos. Por isso, estamos trabalhando para termos uma plataforma mais robusta. Da mesma forma que ajudamos o Mercado Pago a criar a Méli Dólar, acreditamos que haverá muito mais tokenização de ativos na América Latina nos próximos anos e estamos prontos para ser os fornecedores dessa infraestrutura para diferentes segmentos de mercado.

MT: O que podemos esperar das criptos para 2025?

SB: Considerando o cenário do mercado cripto, acredito que o ano que vem será muito intenso. Em 2024, já tivemos uma forte valorização dos criptoativos, principalmente do Bitcoin.

Sempre há situações que podem mudar o cenário, como as incertezas sobre o mercado de capitais em geral, mas eu acredito que será um ano muito forte para as criptomoedas, em especial o primeiro semestre, que tem tudo para ser surpreendente se continuar nesse ritmo de crescimento que vimos nos últimos dias.

Editora
Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
juliana.americo@moneytimes.com.br
Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.