Biofábricas validam etanol do sisal, na rota do “recaatingamento” da devastada Caatinga
O Dia Nacional da Caatinga, amanhã, vai chegar carregando a marca de 405% de aumento de desmatamento, o maior entre os biomas, e a perda de mais de R$ 10 bilhões em geração de riqueza com alimento e energia, ampliando a pauperização econômico-social. Mas traz também alguns fios de esperança com etanol.
Em paralelo à rede científica Ecolume, que atua com projetos de “recaatingamento” (replantio de vegetação nativa) e na estruturação de consórcios produtivos, baseado nos dados de desflorestamento do MapBiomas, do Observatório do Clima, o aproveitamento do sisal em bioenergia já está em teste em duas biofábricas.
Fábio Raya, pesquisador do Laboratório de Genômica e bioEnergia (LGE), da Unicamp, já roda as pesquisas e os testes há um bom tempo, numa fase que além dos experimentos que consolidam a produtividade do agave, também se leva a campo, no semiárido, novas espécies mexicanas, de onde se origina essa planta.
Os nomes das duas biofábricas paulistas ainda não podem ser divulgados, diz Raya. E os cultivares, inclusive um de porte gigante, gera muito mais biomassa para a extração do caldo.
Com base nas plantas remanescentes, sem escala comercial produtiva, os dados pesquisados mostram 5,5 mil litros por hectare ao ano de álcoois.
“Poderia representar 25% do crescimento da demanda por etanol pelos próximos 50 anos”, pontua, associando os trabalhos ao modelo produtivo australiano, onde a produção é avançada.
De todo modo, mesmo que não haja um senso estatístico dessa planta no nesse bioma, e ainda que ela não seja originária do Brasil, sua abrangência e adaptação a deixaram com a cara da Caatinga – esta, sim, 100% nacional e sem proteção legal como a Amazônia e a Mata Atlântica.
Mais relevante ainda, conta o pesquisador da equipe de Gonçalo Pereira, entusiasta da exploração comercial de todas as potencialidades em bioeconomia, é que o incentivo à industrialização em correspondência à produção devolverá multiplicado a perda de relevância que o sisal passou a ter.
Antes, se fazia cordas e outras peças, além de artesanato, mas ficaram no passado.
O nylon tirou o pequeno sustento que milhares de famílias possuíam no alto sertão.