Bilionário clã Steinbruch, da CSN, tem teste de fogo para reduzir dívida
Benjamin Steinbruch construiu uma reputação ao aproveitar raras oportunidades de privatizações gigantescas. A estratégia o fez arrematar o que hoje é uma siderúrgica multibilionária e por um breve período o colocou no comando da segunda maior companhia de minério de ferro do mundo.
Agora, suas habilidades de negociação são novamente postas à prova.
Só que, desta vez, Steinbruch é quem está vendendo. Ele tenta convencer investidores a desembolsar até R$ 8,2 bilhões por uma fatia da CSN Mineração, a unidade de mineração de uma de suas empresas que busca emplacar uma oferta pública inicial nesta sexta-feira.
O que está em jogo é o futuro do principal ativo da família Steinbruch, a Companhia Siderúrgica Nacional. Um rali nos preços do aço impulsionou as ações da CSN em 160% nos últimos 12 meses, alimentando a riqueza de Steinbruch. O valor da participação da família agora é de US$ 4,9 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.
Tanto a empresa quanto a família, no entanto, estão endividadas, com pagamentos significativos a serem feitos em poucos anos. Isso resultou na pressão de investidores e credores para a venda de ativos e desembolso dos recursos.
Dívida a vencer
Alguns estão céticos de que Steinbruch conseguirá.
“Vai ser um teste de fogo para a companhia”, disse Felipe Ruppenthal, analista da Eleven Financial Research, citando o histórico da CSN de nem sempre entregar todo o crescimento prometido.
A CSN tem R$ 19 bilhões em dívidas com vencimento em 2023, mostram documentos. Para resolver isso, a empresa prometeu cortar sua relação dívida líquida/Ebitda quase pela metade em 2021. Uma holding da família Steinbruch, a Rio Iaco Participações, tinha cerca de R$ 2,5 bilhões em dívida que foi rolada nos últimos anos, segundo documentos recentes.
Os Steinbruchs deram fianças pessoais sobre esses empréstimos. Também empenharam quase um quarto de suas ações da CSN como garantia, mostram os documentos.
Um representante da família Steinbruch, que detém 53% da CSN, não quis comentar, assim como a empresa.
Benjamin Steinbruch, 67, é quem manda na siderúrgica da família. Ele é CEO e presidente do conselho e tem um histórico de repreender publicamente executivos da CSN e entrar em confronto com parceiros de negócios. O empresário também cria cavalos de corrida.
Preços em alta
Os preços do aço mais do que dobraram e o minério de ferro subiu desde março de 2020, com estímulos de governos de todo o mundo que aumentaram a demanda. Enquanto a economia do Brasil se recupera da crise com a Covid-19, a CSN tem a “conjunção perfeita” para um 2021 melhor, disse Steinbruch em um evento em dezembro.
Isso pode explicar por que Steinbruch finalmente colocou à venda um bem valioso. O IPO da CSN Mineração, a segunda maior exportadora de minério de ferro do Brasil, pode render até R$ 5,7 bilhões só para a CSN se os investidores concordarem em pagar o topo da faixa de preço proposta. O Morgan Stanley lidera a oferta.
Em 2016, a CSN vendeu sua participação na fabricante de latas Metalic por cerca de US$ 96 milhões e, dois anos depois, descarregou suas operações em Indiana para a Steel Dynamics por US$ 400 milhões.
A fortuna da família Steinbruch teve origem na Vicunha Têxtil, a maior fabricante de jeans da América Latina, de acordo com seu site. A empresa foi fundada pelo pai de Benjamin, Mendel, e seu irmão Eliezer.
Mais tarde, Benjamin tirou proveito de uma onda massiva de privatizações no Brasil na década de 1990 para diversificar e comprar uma participação na CSN e, posteriormente, na gigante da mineração Vale, a segunda maior mineradora de minério de ferro do mundo, da qual se tornou presidente.
A família acabou cedendo sua participação na Vale em troca de uma fatia maior na CSN, após entrar em conflito com os parceiros. Além da Vicunha e da CSN, as participações da família também incluem o Banco Fibra, que estava com problemas financeiros havia alguns anos, mas desde então melhorou.