Bilhões de Warren Buffett se apoiam em combustíveis fósseis
A assembleia anual de acionistas da Berkshire Hathaway é um costume corporativo singular e saudável. Milhares de fãs de Warren Buffett prestam atenção às palavras do investidor de 89 anos, talvez experimentem sorvete Dairy Queen e acompanhem Bill Gates jogando bridge.
Hoje em dia, a tradicional peregrinação a Omaha também deve gerar debates acalorados sobre o clima.
Na reunião do ano passado, Buffett e executivos da Berkshire foram questionados sobre a pontuação da empresa em métricas ambientais.
Em 2016, a Nebraska Peace Foundation pediu que a Berkshire divulgasse como a mudança climática vai afetar as subsidiárias de seguros.
Fazer perguntas desconfortáveis para a equipe da Berkshire Hathaway faz sentido: a Bloomberg estima que a fortuna de US$ 89 bilhões do Sábio de Omaha é a terceira maior do mundo, conectada a níveis significativos de emissões de gases de efeito estufa.
A face do genial Buffett não é a normalmente conjurada pela imagem de plutocratas do petróleo, e as duas entradas acima dele no ranking da Bloomberg com as 10 maiores fortunas ligadas às emissões são menos surpreendentes: a família Koch, seguida pela Casa de Saud.
O que significa reconsiderar a fortuna de Buffett como mais semelhante do que diferente desses impérios de combustível fóssil?
O conglomerado de Buffett – em grande parte por causa de suas unidades de energia e transporte, que contribuíram com cerca de 40% da receita antes dos impostos da Berkshire em 2018 – foi direta e indiretamente responsável por 189 milhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa em 2018, segundo estimativas do CDP, que trabalha para aumentar divulgação e ação ambiental entre empresas, cidades, estados e regiões.
As emissões da Berkshire são equivalentes ao consumo de quase 80 bilhões de litros de gasolina, ou 24 trilhões de smartphones sendo recarregados. A Berkshire Hathaway não respondeu aos pedidos de comentário.
O impacto planetário do conglomerado é quase o mesmo que o da fabricante de cimento LafargeHolcim.
Embora essa seja uma fração dos maiores emissores – 20 empresas de combustíveis fósseis são vinculadas a mais 30% de todas as emissões de gases de efeito estufa na era moderna -, a presença da Berkshire é um lembrete de que as emissões não são apenas da responsabilidade de suspeitos comuns como Exxon Mobil ou Royal Dutch Shell.
De abacates a sabonetes, a economia de carbono está embutida – visível ou invisivelmente – em tudo no nosso dia a dia.
“Não há um setor que não seja impactado de uma maneira ou de outra”, diz Bruno Sarda, presidente do CDP América do Norte.
“Costumamos falar sobre coisas como energia e materiais, cimento ou petróleo e gás, mas quando você olha alimentos, roupas, bens de consumo e até serviços financeiros, todos os setores estão sendo responsabilizados ou, em alguns casos, abalados.”
Mas o impacto de Buffett também está mudando.
As energias renováveis representavam 40% da capacidade de energia da Berkshire Hathaway Energy no fim de 2018.
Quando pressionado na assembleia anual do ano passado, Buffett destacou que sua concessionária estava caminhando para um futuro renovável em Iowa, um de seus maiores mercados. “Chegaremos aos 100%”, disse.