Coluna do Vicente Guimarães

Big techs: O apocalipse das empresas de tecnologia está próximo

26 jan 2023, 16:21 - atualizado em 26 jan 2023, 16:21
Inflação, juros altos e queda nas vendas fizeram a Microsoft (MSFT34) seguir o caminho de outras big techs  (Imagem: REUTERS/Lucy Nicholson)

Depois de demitirem 150 mil pessoas em todo o mundo em 2022, as empresas de tecnologia, anunciaram a demissão de mais 50 mil empregados somente em janeiro.

Gigantes do mundo tecnológico e queridinhas de investidores, como Amazon, Meta e Microsoft estão colocando muita gente na rua. Sinal de tempos difíceis? Com certeza. E vem mais por aí! Enquanto isso, muitos “especialistas” têm recomendado investir no exterior, o que não faz muito sentido.

Tudo indica que a época de vacas gordas está próxima do fim. Qual era o capim que alimentava estas vacas gordas? Os juros baixos e a expansão monetária nos EUA e nas principais economias desenvolvidas eram este pasto verde, polpudo e suculento.

As empresas que mais se beneficiaram foram justamente as empresas de tecnologia que souberam criar métodos para “capturar esse capim” de forma muito eficiente. Suas vaquinhas cibernéticas eram velozes e vorazes.

Essa onda ainda foi alimentada pela Pandemia. Afinal, eram bilhões de pessoas em casa entediadas que mergulharam sua atenção no celular, redes sociais, redes de streaming e consumo desenfreado em plataformas de e-commerce.

Resultado deste cenário: graves distorções econômicas e na precificação de ativos.

Startups que nunca deram um centavo de lucro passaram a valer bilhões na bolsa de valores. Imagine você, como exemplo, o Seu Zé da Pipoca. Ele lucra R$ 2.000 por mês vendendo suas pipocas e balinhas. Por ano, “Zé Pipocas LTDA” fatura R$ 24.000.

Parece pouco, né… mas é muito, muito, MUITO MAIS do que as idolatradas Uber, AirBNB, Spotify que valem bilhões de dólares no mercado de capitais e tem prejuízos de bilhões de dólares todos os anos.
Esse valor de mercado só pode ser explicado por uma esquizofrenia crônica.

E, como diria Jorginho Guinle, “toda festa tem hora pra acabar”. E está acabando. Os juros já estão aumentando em todo o mundo.

Juros altos inviabilizam a “rolagem” infinita das dívidas, impedem o financiamento do crescimento acelerado das “techs” e afugentam investidores que adoram especular com empresas de tecnologia por causa do seu potencial de valorização.

Juros altos também reduzem o consumo e o investimento. Os investidores se tornam mais cautelosos e direcionam recursos para ambientes seguros menos voláteis. Os consumidores endividados param de consumir qualquer gadget que pisca na tela do celular, os governos reduzem seus gastos e investimentos para diminuir o déficit…

Obviamente isso afeta toda a economia mas, tenha certeza, as empresas de tecnologia serão as mais impactadas.

As “Big Techs” já estão vendo seus indicadores de crescimento decaírem, seus usuários se reduzirem, suas estimativas de crescimento serem destroçadas.

As empresas de tecnologia perderam cerca de US$ 7,5 trilhões (quase R$ 40 trilhões) em valor de mercado em 2022.

Como diria Décio Bazin, “os investidores especuladores são os primeiros a fugir, como fazem os ratos em um navio afundando”. O S&P500, que tem grande peso das empresas de tecnologia, caiu 25% em 2022. E esse movimento vai continuar em 2023.

O aumento dos juros nos EUA deve permanecer e o aperto monetário e fiscal também. Já se especula que os juros americanos poderão chegar a 6%, um patamar muito alto para a economia americana, acostumada com ondulações leves de uma piscininha infantil.

No mar revolto que se aproxima, com juros entre 5% a 6%, a recessão econômica será inevitável e o apocalipse de muitas empresas tecnológicas se aproxima.

Empresas sólidas de setores perenes passarão ilesas pela crise (como sempre): Energia, Petróleo, Seguros, Consumo Básico, Bancos, Alimentos etc. Pois são empresas que, geralmente, lucram em qualquer cenário. Muitas destas empresas americanas pagam dividendos há mais de 50 anos.

As grandes companhias de tecnologia podem até sobreviver ao mar revolto, mas vão sofrer avarias, perder marinheiros, ter alguns mastros e velas destruídos.

Já as Startups com suas canoas de kevlar e fibra de carbono, com seus equipamentos eletrônicos e sensores de última geração serão engolidos pela primeira onda mais forte e vão para o fundo do oceano do mercado.

O mercado é seletivo como a natureza e, em mar revolto, apenas os fortes sobrevivem.

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