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Big Techs em foco: O futuro do setor que molda o nosso futuro

03 ago 2020, 13:03 - atualizado em 03 ago 2020, 13:16
Apple
Para você ter uma noção, a Apple sozinha vale mais do que todas as 72 ações que compõem o Ibovespa (Imagem: Pixabay)

A tecnologia está em alta. Muita coisa ao redor do tema pode ser debatido, mas esta é uma afirmação incontestável. Basta observar o ranking de bilionários da Bloomberg (Bloomberg Billionaires Index) para concluir que o setor concentra as maiores fortunas com os executivos da Amazon (AMZN), Microsoft (MSFT) e Facebook (FB) ocupando o primeiro, segundo e terceiro lugar, respectivamente.

Para você ter uma noção, a Apple  (AAPL) sozinha vale mais do que todas as 72 ações que compõem o Ibovespa. Além disso, o valor de mercado das maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos juntas superam o PIB do Brasil em quatro vezes! Se os valores já são astronômicos quando analisados em condições normais, eles ficam simplesmente surreais quando os colocamos em perspectiva.

E se o mercado já estava de olho no crescimento exponencial das chamadas big techs há muito tempo, durante a pandemia de covid-19, elas receberam atenção redobrada.

O setor, que já vinha ocupando cada vez mais espaço em nossas vidas, se consolidou ainda mais. A pandemia impôs uma aceleração em um processo pelo qual já estávamos passando, afinal, a dependência tecnológica nunca foi uma realidade tão presente quanto agora.

Se não fosse pela tecnologia o período de isolamento social que atravessamos seria muito mais complicado. Foram suas ferramentas que possibilitaram o trabalho remoto de milhões de pessoas, a continuidade do varejo através do comércio eletrônico e até mesmo nos garantiu um pouco de sanidade nestes tempos sombrios nos aproximando dos entes queridos que estavam distantes.

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Big Techs na mira do Congresso dos EUA

O próprio presidente americano, Donald Trump, ameaçou regular as big techs por decreto caso o Congresso não imponha ‘equilíbrio’ ao setor (Imagem: Reuters/Carlos Barria)

Mas nos últimos dias as big techs têm recebido atenção por um motivo diferente. Elas têm estampado os jornais por conta de um crescente questionamento do seu modelo de negócio. Na quarta-feira (29), o Congresso americano recebeu os representantes da Amazon, Facebook, Apple e Google para prestarem depoimento em uma investigação antitruste.

As quatro companhias estão na mira do Departamento de Justiça dos Estados Unidos pela suspeita de práticas anticompetitivas que sufocariam a concorrência de empresas menores.

O próprio presidente americano, Donald Trump, ameaçou regular as big techs por decreto caso o Congresso não imponha ‘equilíbrio’ ao setor. “Em Washington tem sido só conversa e nada de ação por anos e as pessoas do nosso país estão cansadas disso”, disse ele em publicação no Twitter.

Mas Jeff Bezos (Amazon), Mark Zuckerberg (Facebook), Tim Cook (Apple) e Sundar Pichai (Google) negaram as acusações, ressaltando seus esforços para servir os consumidores sem limitar o acesso da concorrência.

Uma nova bolha?

Não faz muito tempo, escrevemos aqui sobre o impacto da tecnologia nos investimentos, e apesar de ter sido em um contexto diferente, citamos a bolha da Internet ou “bolha das empresas ponto com”, que teve início em meados dos anos 90 e estourou nos anos 2000.

Na época, houve uma forte alta das ações das novas empresas de tecnologia da informação e comunicação baseadas na Internet. É difícil ignorar os paralelos com o que estamos vivendo hoje. Alguns especialistas já cogitaram a possibilidade de estarmos diante de mais uma bolha financeira.

As bolhas financeiras se formam quando há um aumento repentino dos preços de um produto, se desviando fortemente de seu valor intrínseco. Quando as bolhas estouram, os preços despencam rapidamente e geram muito prejuízo.

Quem tem muito tempo de mercado já viu isso acontecer várias vezes e sabe que quando os papéis mostram uma valorização tão grande podem ter uma queda de igual proporção.

Um caso recente foi o das empresas de biotecnologia, que tiveram uma ascensão meteórica ao longo de quatro anos até 2015, para depois perderem um terço do valor de mercado.

Vale salientar que as cinco maiores empresas do setor – Apple, Microsoft, Amazon,  Google e Facebook – juntas representam hoje cerca de 25% do S&P500, índice que reúne as 500 maiores empresas dos Estados Unidos.

Com apenas algumas ações carregando o mercado nas costas desta forma, um eventual crash se torna ainda mais preocupante, podendo causar um impacto sem precedentes.

No começo do ano, um artigo publicado no The Economist abordou a questão: “O questionamento de uma bolha é justo. Ciclos tecnológicos são parte integral da economia moderna.

Vale salientar que as cinco maiores empresas do setor – Apple, Microsoft, Amazon,  Google e Facebook – juntas representam hoje cerca de 25% do S&P500 (Imagem: unsplash/@morningbrew)

Os anos 80 viram um ‘boom’ da indústria de semicondutores. Então, na década de 90, vieram os computadores pessoais e a internet. Cada ciclo se enfraquece gradualmente ou acaba estourando”.

Durante sua participação na Expert XP deste ano, o economista Ricardo Amorim mostrou que contempla essa mesma possibilidade. Amorim chamou atenção para o fato de que 8 das 10 pessoas mais ricas do mundo são do setor de tecnologia e alertou para uma possível bolha de mercado. “Toda vez que tem esse ciclo, tem um queridinho”, disse o economista, se referindo às ações das empresas de tecnologia.

“Assumir que empresas novas tenham crescimento exponencial faz sentido, várias delas têm crescimento acelerado por muito tempo.

Agora, assumir que empresas gigantes vão ter crescimento ultra acelerado já sendo as maiores empresas do planeta, tenho enormes dúvidas de que isso tenha condição de se sustentar”, ressaltou.

Na mesma palestra, Amorim citou o caso da Tesla, que vale mais do que a Chrysler, Daimler, Ferrari, Fiat, Ford, GM e Honda juntas, mas quando comparamos o faturamento da empresa de Musk ao de produtores de veículos tradicionais, o da Tesla se mostra dezenas de vezes menor.

Apesar de prever uma correção das ações do setor, o economista não nega que a tecnologia continuará transformando a vida como a conhecemos e que no curto prazo, são ações que performam muito bem.

Ainda assim, ele acredita que em algum momento teremos um crash liderado pelas big techs e que no longo prazo as ações de commodities e de economia real irão despontar e ganhar destaque.

Na mesma palestra, Amorim citou o caso da Tesla, que vale mais do que a Chrysler, Daimler, Ferrari, Fiat, Ford, GM e Honda juntas (Imagem: Pixabay)

Portanto a valorização das gigantes da tecnologia levanta duas questões centrais. Uma é se os investidores estão sendo levados pelo efeito manada e pela hype em mais uma bolha especulativa.

E a outra é que os lucros destas empresas continuem se multiplicando na próxima década, causando um oligopólio ainda maior e concentrando muito poder político e econômico nas mãos de poucos.