Coluna do Hsia Hua Sheng

Biden e Xi Jinping: Encontro traz novos desafios para economia brasileira em 2024?

16 nov 2023, 10:10 - atualizado em 16 nov 2023, 11:18
joe biden xi jiping estados unidos china
China e Estados Unidos: Encontro entre Biden e Xi Jinping contribuiu foi estabelecer os principais pilares de responsabilidade e abrir canal de comunicação direta entre os dois países. (Imagem: REUTERS/ Kevin Lamarque)

Embora não tenha resolvido o “X” da questão sobre a insistência dos Estados Unidos em continuar a intensificar a competição tecnológica com a China, o encontro dos presidentes Joe Biden e Xi Jinping, antes do evento do APEC 2023 em São Francisco, gerou conversas diretas com boas intenções para mais cooperação sob o contexto da competição responsável. E o Brasil será afetado por esse novo modelo de relacionamento.

O que esse encontro contribuiu foi estabelecer os principais pilares de responsabilidade e abrir canal de comunicação direta entre os dois países para não transformar essa competição em um conflito armado.

Ainda não ficou claro quais acordos comerciais que vão ser assinados para mostrar boas intenções, aliviando o conflito comercial. Pela posição norte-americana, independentemente desses acordos, nada vai alterar a posição americana sobre competir responsavelmente com a China.

Essa competição não vai parar tão cedo. Os acontecimentos recentes mostram que essa guerra não está se limitando apenas no agravamento das sanções contra importação dos produtos fabricados na China e nas exportações de componentes de semicondutores de alta tecnologia para China.

Essa guerra já está se alastrando para restrição de investimento no mercado e sistema financeiro. Isso pode atrasar a recuperação econômica chinesa.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Guerra comercial entre Estados Unidos e China

Desde início de 2023, mesmo contra a racionalidade de eficiência e de economia, o governo americano vem exigindo direta e indiretamente saída de capital social americano das cadeias produtivas na China.

Os capitais privados americanos começaram a ficar preocupados com a rentabilidade financeira de seus investimentos nas manufaturas chinesas, pois as vendas destinadas ao mercado americano poderiam reduzir significativamente. Atualmente, alguns componentes e produtos fabricados na China sofrem penalização e restrições no solo americano.

Consequentemente, as multinacionais americanas fabricam na China apenas produtos para atender o mercado doméstico chineses e os outros mercados globais, e migram uma parte da linha de produção destinado para mercado americano para fora da China, por exemplo, começam a produzir nos países de ASEAN, ou no México e Canada.

Contra a vontade das empresas americanas, o governo americano também não tem facilitado as restrições contra exportação de todos os tipos de semicondutores de alta tecnologia para China, principalmente após o sucesso do desenvolvimento autônomo de semicondutores nacional com lançamento da Huawei Mate 60 Pro, em setembro.

Agora, não há mais especificações claras sobre o modelo de chips proibido, todas exportações do chip precisam ser examinadas e aprovado pelo comitê do governo antes de liberar a venda para China.

Competição no mercado financeiro

Para piorar, essa guerra estão se estendendo para os ativos financeiros. Preocupadas com uma fiscalização mais rígida do governo americano sobre a alocação de capital americano nas sociedades de empresas chinesas, as gestoras americanas e investidores institucionais privados têm dividido sua carteira de empresas investidas na China.

O capital de origem não americano continua na China, enquanto a parte do capital americano sai, vendendo das ações de empresas chinesas nas bolsas de valores e quota de participação de sociedade das empresas não listadas.

Por isso, mesmo que as empresas chinesas sejam lucrativas e com perspectiva de crescimentos consistentes e promissor, seus preços das ações tem caído ou ficado estáveis pela venda forçada desses gestores de capital americanos. Os exemplos são as empresas listadas da cadeia produtivas relacionadas com carros elétricos, e-commerce, baterias, semicondutores, equipamentos de energias renováveis.

Para reduzir impacto negativo desse movimento da saída forçada do capital americano nos principais índices acionários na China, o país asiático está acelerando os passos de reforma e a abertura no mercado financeiro para atrair mais capital estrangeiro.

A recente conferência de comitê central financeira liderado pelo presidente Xi Jinping mostra que o governo chinês está comprometido com essa reforma de sistema financeiro. Esse comitê vai unificar e simplificar as regras, procedimentos e regulações financeiras para reduzir riscos da segurança jurídica e reduzir custo de transações para investidores locais e estrangeiros.

Esse processo simplificado vai ajudar e agilizar a transição economia real chinesa via mercado de capitais, suas dívidas dos governos locais e do setor imobiliários.

O setor financeiro também vai ser um polo importante de serviços e geração de emprego e renda. Essa conferencia não só passou as diretrizes sobre as operações e negócios no mercado primário e secundário de títulos de renda fixa e renda variável.

Futuramente, esse comitê também pode discutir o desenvolvimento dos novos mercados de previdência, seguro e saúde que são setores fundamentais para a nova realidade da população chinesa que são mais ricas e mais idosas.

Efeito desse encontro para o Brasil

No curto prazo, as empresas brasileiras de agronegócio e de minério podem ter perda relativa no mercado global com essa reaproximação entre Estados Unidos e a China.

Apesar de que nada mudou a tendência de agravamento da competição tecnológica (agora, com uma palavra a mais “responsável”), esse encontro entre os dois homens mais poderosos do mundo, de fato, aliviou a tensão entre os dois países.

Essa disposição dos dois presidentes de conversar abertamente com suas visões sobre possível cooperação para a paz e crescimento econômico global pode favorecer possíveis novos acordos comerciais entre Estados Unidos e China para mostrar boa intenção de cooperar.

Além disso, com a redução de hostilidade, mesmo que seja temporária, os aliados dos Estados Unidos também podem voltar a investir e fazer mais negócio com a China. É o caso dos países do AUKUS (aliança militar entre EUA, Austrália e Reino Unidos).

As empresas brasileiras também poderão sofrer mais competição das empresas desses países, principalmente, das empresas australianas e inglesas na área de minério e agropecuária. Afinal de conta, essas empresas já investem China há mais tempo e estão mais integradas na cadeia produtiva local, inclusive com altos investimentos de capital no mercado financeiro chinês.

*As análises e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e não representam uma visão das instituições das quais o autor pertence.