Política

Biden amenizou críticas ao Facebook sobre desinformação e Covid-19, mostra levantamento

03 fev 2022, 13:32 - atualizado em 03 fev 2022, 13:32
Joe Biden
Biden também não emitiu uma ordem executiva ou proclamação para combater a desinformação, como fez quase três dúzias de vezes em outras questões sobre a pandemia (Imagem: Casa Branca/ Cameron Smith)

Quando o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acusou o Facebook (FB) de “matar pessoas” ao espalhar mentiras sobre vacinas em julho, muitos especialistas e pesquisadores esperavam que isso marcasse o início de uma batalha da Casa Branca contra uma enxurrada de desinformação sobre a pandemia da Covid-19.

“O problema da desinformação sobre vacinas era grande há um ano e ainda é grande agora”, disse David Lazer, que co-lidera o Covid States Project. Combater a desinformação “requer foco, atenção e esforço contínuos”, afirmou ele.

Depois de criticar o Facebook em 16 de julho, Biden nunca mais acusou publicamente essa ou outra empresa nominalmente de espalhar desinformação, de acordo com uma análise da Reuters dos discursos e comentários do presidente norte-americano desde aquele dia. Biden fez 24 discursos especificamente sobre a Covid-19 nesse período, mostra a análise.

Entrevistas com 11 fontes incluindo pessoas da Casa Branca, especialistas e pesquisadores que trabalharam com o governo neste tópico mostram que os principais assessores da Casa Branca sentem que Biden tem poucas opções legais para forçar as plataformas de mídia social a colaborar. Além disso, apontam que o governo não conseguiu estabelecer uma estratégia para apertar as rédeas sobre o Vale do Silício.

Várias leis para responsabilizar as empresas de mídia social estão paralisadas.

Biden também não emitiu uma ordem executiva ou proclamação para combater a desinformação, como fez quase três dúzias de vezes em outras questões sobre a pandemia, de acordo com um levantamento da Reuters com base nos registros da Casa Branca.

Uma dúzia de grandes disseminadores de desinformação identificados pela Casa Branca e pelo Centro de Combate ao Ódio Digital (CCDH, na sigla em inglês) no ano passado ainda mantinham até dezembro mais de 40 contas no Facebook, da Meta, no YouTube, da Alphabet, e em outras empresas de mídias sociais, com milhões de seguidores.

A maioria dos profissionais de saúde, em uma pesquisa de janeiro realizada pelo Covid States Project, apontou que as redes sociais – particularmente o Facebook – continuam sendo uma das fontes mais citadas de desinformação com impacto negativo nos pacientes.

Um porta-voz da Meta se recusou a comentar, mas a empresa disse anteriormente que havia removido mais de 24 milhões de conteúdos sobre Covid-19 em todo o mundo e exibido avisos em outros 195 milhões relacionados ao coronavírus no Facebook, por violação de suas políticas.

Facebook
Depois de criticar o Facebook em 16 de julho, Biden nunca mais acusou publicamente essa ou outra empresa nominalmente de espalhar desinformação (Imagem: Reuters/Dado Ruvic)

Um porta-voz do YouTube disse que a empresa encerrou os canais de vários propagadores de desinformação sobre vacinas e, desde outubro de 2020, removeu mais de 130.000 vídeos com desinformação sobre vacinas contra Covid-19.

O Problema da Seção 230

Biden não tem opções legais fáceis porque a Seção 230 da Lei de Decência nas Comunicações protege as empresas de mídia social de serem responsáveis ​​pelo que os usuários publicam em suas plataformas, de acordo com fontes da Casa Branca, especialistas e pesquisadores que trabalharam com o governo neste tópico.

“O governo… está de fato muito ameno com as empresas de tecnologia, é claro que há uma resistência institucional no nível do funcionálismo público”, disse Imran Ahmed, executivo-chefe do Centro de Combate ao Ódio Digital, que se trabalhou com a Casa Branca no ano passado sobre o assunto. “Isso representa um problema sério quando você procura legislar e entrar em conflito com as empresas.”

As empresas de tecnologia foram algumas das principais doadoras da campanha eleitoral de Biden e agora ex-integrantes do Vale do Silício ocupam cargos-chave no governo.

Duas fontes da Casa Branca, que trabalharam na questão no ano passado, disseram que a razão pela qual Biden recuou foi devido a poucas opções legais e desacordo dentro da Casa Branca sobre o quão duro ser com as empresas de tecnologia.

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