Bê-a-bá Cripto: The DAO, Ethereum e Ethereum Classic
Em artigo à CoinDesk, o estrategista em blockchain David Siegel deu detalhes sobre como aconteceu o ataque à The DAO.
A rede Ethereum é uma rede de computadores que opera no blockchain Ethereum. Nele, pessoas podem transacionar tokens de valor (ether), que é a segunda maior criptomoeda após o bitcoin. Na Ethereum, também é possível escrever e disponibilizar contratos autônomos.
Contratos inteligentes são contratos autoexecutados, em que os termos do acordo entre comprador e vendedor são escritos diretamente nas linhas de código. É uma das inovações trazidas pela Ethereum.
André Franco: o que é Ethereum?
DAO é a sigla para Empresa Autônoma Descentralizada. Seu objetivo é codificar as regras e as tomadas de decisão de uma organização, removendo a necessidade de documentos e o comando por pessoas, criando uma estrutura com controle descentralizado.
Funciona da seguinte forma: um grupo de pessoas escreve os contratos autônomos. Existe um período de financiamento em que as pessoas adquirem tokens que representam a governança para fornecer os recursos necessários de desenvolvimento.
Em seguida, a DAO começa a operar e as pessoas podem votar e aprovar futuras propostas.
A primeira DAO é o próprio Bitcoin, que funciona dessa forma e é governado pelo consenso existente entre sua equipe de desenvolvimento e sua rede de mineradores. Todas as outras DAOs foram lançadas na Ethereum.
The DAO foi lançada em 30 de abril de 2016, com um período de financiamento de 28 dias. Ficou conhecida como um dos maiores financiamentos coletivos da História, pois mais de 11 mil membros investiram mais de US$ 150 milhões.
Havia alguns problemas a serem consertados após a etapa de financiamento mas, infelizmente, aconteceu o hack à The DAO.
Um hacker começou a zerar ether coletados pela venda de tokens. Em 17 de junho de 2016, 3,6 milhões em ETH (cerca de US$ 70 milhões) haviam sido roubados. Isso porque o dinheiro estava em um só endereço (o que é considerada uma péssima ideia).
The DAO tinha 15% de todos os ethers em circulação, então a invasão teve um impacto negativo na rede Ethereum e em sua criptomoeda. Assim, Vitalik Buterin, da Ethereum Foundation, afirmou ter encontrado uma solução: bifurcar a rede.
Porém, em uma carta aberta, o invasor disse que sua “recompensa” era legal e ameaçou tomar medidas jurídicas contra quem quisesse invalidar seu trabalho. Logo depois, Buterin decidiu que a bifurcação drástica (ou “hard fork”) iria acontecer.
Em 20 julho de 2016, ele disse: “gostaríamos de dar os parabéns à comunidade Ethereum por uma bifurcação bem-sucedida. O bloco 1920000 continha a execução de um variação irregular de estado que transferiu cerca de 12 milhões de ETH”, que era aproximadamente a quantia que o invasor da The DAO havia roubado da comunidade.
“A bifurcação aconteceu tranquilamente, com quase 85% mineradores realizando a bifurcação.”
Porém, os outros 15% dos mineradores não gostaram da ideia e ficaram com o blockchain anterior, fornecendo suporte a uma outra criptomoeda: Ethereum Classic (ETC).
Conforme esse novo projeto surgiu, “o principal objetivo do projeto é certificar a sobrevivência do blockchain original Ethereum. Tentaremos fornecer uma alternativa às pessoas que discordam bastante com a situação da DAO e a direção que a Ethereum Foundation tomou do projeto. Qualquer um que deseje permanecer no blockchain original deve ter essa oportunidade”.
Assim, em 20 de julho de 2016, The DAO foi renomeada como Ethereum Classic, preservando o histórico inalterado de transações (incluindo o hack à The DAO) e os princípios fundamentais de descentralização e imutabilidade; é um blockchain independente da Ethereum.
Em 23 de julho de 2016, a corretora Poloniex listou a criptomoeda ETC após a bifurcação bem-sucedida. Alguns dizem que a equipe da Ethereum Classic era composta por apoiadores do Bitcoin que tomaram proveito do momento de fraqueza da Ethereum para assegurar a dominância contínua de sua criptomoeda.
Segundo um documento publicado pela Grayscale Investments em 2017, “acreditamos que ETC fornece uma oportunidade de investimento a longo prazo mais atrativa do que ETH como o ativo digital alimentando um sistema autossustentável com vantagens em três dimensões”.
A empresa cita algumas características essenciais compartilhadas entre grandes ativos, como ouro, prata, platina e bitcoin e, nesse caso, o ETC, como escassez, divisibilidade, portabilidade, fungibilidade, verificabilidade, identificabilidade, bem como outras propriedades que qualificam seu token como uma reserva de valor, como descentralização, imutabilidade e adaptabilidade.
É inegável a importância da Ethereum (ETH), a segunda maior criptomoeda do mercado, na indústria cripto. Possui uma capitalização de mercado de US$27 bilhões, com dominância de mercado de 9,85%.
Já Ethereum Classic (ETC), em 23º lugar, possui uma capitalização de mercado de US$745 milhões e apenas 0,27% de dominância de mercado.
Assim, outros projetos blockchain aprenderam a lição e entenderam o que não devem fazer: é preciso criar plataformas blockchains seguras, pois o hack não foi resultado de um problema existente na rede, e sim por um recurso explorado por um hacker inteligente. Se o código tivesse sido escrito corretamente, o hack poderia ter sido evitado.
Além disso, para melhorar inúmeros aspectos da rede, a equipe de desenvolvimento está trabalhando na segunda versão da Ethereum, chamada de Ethereum 2.0 (ETH 2.0).