Bê-a-bá cripto: aplicações descentralizadas (dapps) ou plataformas de blockchain?
Na nossa série “Bê-a-bá Cripto“, apresentamos diversos conteúdos específicos para que você entenda o passo a passo (o bê-a-bá) do mercado cripto.
Primeiro, fornecemos um glossário sobre conceitos básicos, estratégias de investimento e tipos de negociação em criptoativos.
Em seguida, compilamos matérias sobre mineração, termo amplamente utilizado quando se fala em blockchain e bitcoin, e sobre regulamentação, para que você entenda por que criptoativos são vistos com maus olhos pelas autoridades em todo o mundo, além das medidas tomadas e seus resultados.
Também já falamos sobre descentralização, sobre o que é blockchain e por que o criador do bitcoin, Satoshi Nakamoto, se manteve anônimo, além de reunirmos as dez principais notícias sobre o halving da rede Bitcoin.
Se você é um possível investidor no universo blockchain, pode ser difícil diferenciar todas as empresas que afirmam serem a próxima “grande novidade” de uma indústria. Termos como “tecnologia blockchain”, “contratos inteligentes” e “aplicações descentralizadas (dapps)” podem ser confusos para muitas pessoas.
No entanto, quando filtrar a lista de jargões implícitos nesses projetos, você vai precisar entender entender o que o projeto realmente significa, se realmente pode ser “descentralizado” e se precisa de um blockchain para funcionar.
Aplicações descentralizadas (dapps) vs. plataformas alimentadas por blockchain
Aplicações descentralizadas são aplicações de software que executam seu código de programação em um blockchain e não precisam de intermediários. Quando um blockchain descentralizado é criado, seus contratos (códigos) existem sem que haja controle de seus criadores.
Para exemplificar, imagine uma dapp de rede social criada em um blockchain, onde qualquer usuário pode “tuitar” mensagens.
Quando um tuíte é postado, ninguém — nem os criadores da dapp — podem deletar essa publicação. A pessoa que publicou pode até editá-la, mas a original ainda estará registrada para sempre.
Os recursos mais comuns das dapps incluem:
– código aberto: isso significa que seu código-base é publicamente acessível para observação e alterações. Deve ser governado por autonomia e todas as mudanças devem ser decididas pelo consenso, ou pela maioria, de seus usuários.
– descentralizado: todos os registros da operação da dapp devem ser armazenados em um blockchain público e descentralizado.
– incentivado: validadores do blockchain devem ser incentivados com recompensas adequadas de tokens criptográficos.
– protocolo: a comunidade da dapp deve concordar sobre um algoritmo criptográfico para mostrar alguma prova de valor, como proof-of-work (PoW) ou proof-of-stake (PoS).
Provavelmente, a dapp mais famosa até hoje é o jogo de cards colecionáveis de gatinhos virtuais chamada CryptoKitties , que permite a usuários comprarem e cuidarem de gatinhos virtuais, além de vendê-los para outros colecionadores para um preço pago em ether (ETH).
A grande natureza descentralizada dessa aplicação torna impossível a alteração de governança ou a produção de gatinhos fraudulentos, ou seja, esse valor é fornecido para cada gatinho por possuir escassez digital.
Embora CryptoKitties não seja o que os fundadores da Ethereum tinham em mente para os tipos de aplicações descentralizadas que eles gostariam de ver na rede, é um caso de uso excelente de como uma dapp pode funcionar, com sucesso, no blockchain.
Além de CryptoKitties, que surgiu como uma das principais dapps na rede Ethereum, o tipo mais comum de dapps são corretoras descentralizadas para tokens ERC-20 (cuja sigla significa “Pedido de Comentários da Ethereum”, um token que existe na rede Ethereum e define uma lista comum de regras a serem seguidas por todos os outros tokens criados na Ethereum, como a corretora EtherDelta.
Plataformas blockchain, por outro lado, utilizam o blockchain como sua tecnologia subjacente, mas não necessariamente são descentralizados. Na verdade, muitos projetos de blockchain não são muito descentralizados, mesmo afirmando que são.
Plataformas de blockchain variam de redes de registro distribuído (DLT) em grande escala — como Ethereum, NEO ou Stellar — a projetos que usam o blockchain como sua tecnologia subjacente para suas plataformas — como a rede social Steemit ou o serviço descentralizado de armazenamento em nuvem Storj.
Porém, também existe uma onda de menores projetos — em que a maioria foi lançada na época da “febre” das ofertas iniciais de moeda (ICOs) em 2017 — que deseja desenvolver plataformas baseadas em blockchain, usando recursos benéficos da tecnologia para “abalar” determinado setor.
Alguns exemplos são a solução de armazenamento de dados da área da saúde Tierion, a solução de rastreamento de armas Blocksafe e a solução de relatórios de crédito Lumeno.us.
Blockchain é realmente necessário?
Já que os benefícios da tecnologia blockchain não são mais questionados, surgiu uma onda de novas startups que querem alavancar a tecnologia e criar novas soluções para setores específicos. Porém, grande parte dessas soluções não precisam de blockchain para funcionar.
Essa tendência foi muito evidente no mercado das ICOs, em que muitos empreendedores aproveitaram o bonde do blockchain na esperança de conseguirem financiamento fácil por meio da venda de novos tokens digitais.
Na verdade, muitas das empresas lançadas que desejavam abalar o setor “XYZ” usando a tecnologia blockchain poderiam desenvolver os mesmos tipos de produtos sem o uso dessa nova tecnologia.
Embora seja possível — e bem provável — que a tecnologia blockchain é uma solução essencial para o registro e a transferência de dados, nem toda solução de software precisa que o blockchain seja sua estrutura base.
Quão descentralizadas as novas “plataformas descentralizadas” realmente são?
O mesmo vale para aplicações descentralizadas. Muitos novos projetos que estão no processo de lançamento de um token afirmam que sua plataforma será descentralizada. Porém, esse não costuma ser o caso.
Embora o blockchain subjacente que o projeto deseja utilizar seja descentralizado, o que acrescenta uma camada de segurança à rede, as plataformas sendo desenvolvidas por essas startups estão longe de serem descentralizadas.
Em vez disso, a palavra “descentralização” é simplesmente incluída nos materiais de marketing na esperança de arrecadar mais fundos durante uma venda de tokens.
Operar uma aplicação descentralizada significa abrir mão de uma grande influência na plataforma. Quando a dapp for programada e lançada, deve haver pouco ou nenhum controle sobre os conteúdos da aplicação.
Para esse motivo, poucas dapps de grande escala foram lançadas e é provável que demore ainda mais para a economia descentralizada chegar, a qual muitos líderes imaginam para o blockchain.