BCE precisa agir para combater deflação, diz Banco da Espanha
Na opinião do economista-chefe do Banco da Espanha, o Banco Central Europeu precisa injetar mais estímulo à política monetária em dezembro para evitar o risco de deflação na zona do euro.
“Sabemos que, para garantir que tal risco não se concretize, devemos agir com rapidez e vigor”, disse na terça-feira Oscar Arce, diretor-geral de economia do banco central espanhol, em entrevista em Madri. A perspectiva de uma forte queda dos preços abrange todo o bloco monetário, e não apenas a Espanha, afirma.
A deflação, uma espiral descendente de preços que se espalha para os salários, pode abalar economias. O exemplo mais marcante do século 20 foi a Grande Depressão.
A inflação da zona do euro está abaixo de zero desde agosto. A pandemia de coronavírus esmagou a demanda, e a alta dos preços subjacentes, excluindo itens voláteis, está em mínima histórica.
Embora o BCE projete que os preços ao consumidor voltarão a subir no início do próximo ano, também planeja “recalibrar” seu estímulo em dezembro e pediu que governos intensifiquem os gastos fiscais.
“Observamos um aumento na parcela de bens cujos preços estão subindo muito pouco ou caindo, o que é uma indicação do risco”, disse Arce. O presidente do Banco da Espanha, Pablo Hernández de Cos, demonstrou preocupação semelhante.
Arce reconheceu que as perspectivas para o BCE e autoridades monetárias no mundo todo melhoraram um pouco na segunda-feira, quando a americana Pfizer e a alemã BioNTech disseram que sua vacina mostra avanço “extraordinário”.
Ainda assim, o BCE já apostava em uma solução médica disponível no ano que vem.
A notícia da vacina “reduz um pouco os riscos negativos” para a economia, disse Arce. “Mas sabemos que não é uma solução a curtíssimo prazo. Sabemos que ainda vai demorar um pouco antes que a vacina possa ser amplamente distribuída.”
Mudança da meta
No longo prazo, as autoridades deveriam considerar uma estratégia ao estilo do Federal Reserve, que permita à inflação subir temporariamente acima da meta, disse Arce.
Esse é um tópico que o banco central analisa atualmente e foi sinalizado como opção pela presidente do BCE, Christine Lagarde, assim como por Hernández de Cos.
A meta atual é “abaixo, mas perto de 2%”, e Arce disse que uma meta específica, como 2%, reduziria parte da ambiguidade e o risco de má interpretação.
Alguns economistas têm dúvidas de que o BCE seja capaz de superar a meta, já que nem chegou perto de atingi-la nos últimos anos.
“Será factível desde que o Conselho seja capaz de convencer todos os agentes da sua determinação em implementar esta estratégia”, disse Arce. “Não tenho dúvidas de que é capaz.”