Internacional

BCE busca conciliar inflação alta com riscos da guerra

10 mar 2022, 8:10 - atualizado em 10 mar 2022, 8:10
O BCE deve remover a determinação de que a alta dos juros aconteceria “pouco” depois do fim das compras de títulos (Imagem: REUTERS/Kai Pfaffenbach)

O Banco Central Europeu (BCE) deve assumir o menos possível de compromissos nesta quinta-feira, uma vez que o choque da invasão da Ucrânia pela Rússia afeta suas expectativas para a economia deixa as autoridades em meio a novas realidades.

Com a inflação na zona do euro em máxima recorde mesmo antes de Moscou atacar a Ucrânia em 24 de fevereiro, a expectativa era de que as autoridades anunciassem o fim de anos de estímulo, abrindo caminho para uma alta dos juros no final do ano.

Mas a guerra destruiu esse consenso e as autoridades entrarão na reunião divididas, aumentando as chances de uma surpresa – e de o risco de um erro.

“Ninguém pode esperar seriamente que o BCE comece a normalizar a política monetária nesse momento de alta incerteza”, disse o economista do ING Carsten Brzeski.

A rota mais segura parece ser confirmar a decisão anterior de continuar reduzindo as compras de títulos no próximo trimestre enquanto deixa em aberto outros comprometimentos, incluindo a data final das compras e o momento de uma alta dos juros.

Para fazer isso, o BCE deve remover a determinação de que a alta dos juros aconteceria “pouco” depois do fim das compras de títulos. Também deve retirar qualquer referência a um corte dos juros em sua orientação.

No entanto, alguns defensores do aperto monetário ainda devem pressionar o BCE para reduzir o estímulo e retornar a política ao menos a uma posição “neutra”, então o banco pode também sinalizar o fim das compras de títulos nos próximos meses, decisão que aumentaria a chance, mas não consolidaria, de uma alta dos juros em 2022.

A inflação nos 19 países que usam o euro pode terminar este ano três vezes acima da meta do BCE, e de permanecer elevada em 2023 também.

Uma recuperação do crescimento econômico e o mercado de trabalho mais apertado em décadas também devem pressionar o BCE a abandonar sua postura de política monetária ultrafrouxa e encerrar as medidas de estímulo não convencionais.

Mas a guerra, sanções contra a Rússia e o aumento dos preços das commodities elevam a incerteza, prejudicam o crescimento e poder de compra das famílias, ampliando a necessidade de cautela.