Inflação

BCE ainda pode estar atrasado em aperto para combater inflação

02 set 2022, 11:11 - atualizado em 02 set 2022, 11:11
Prédio do Banco Central Europeu em sua sede, em Frankfurt, Alemanha
“O BCE continuará subindo os juros em ritmo acelerado e enviará uma mensagem ‘hawkish’”, disse Nerijus Maciulis, economista do Swedbank (Imagem: REUTERS/Wolfgang Rattay)

O Banco Central Europeu continua atrás da curva na luta contra os preços recordes na zona do euro e terá que agir com mais força do que o previsto anteriormente para controlar a inflação, segundo pesquisa com economistas.

Apesar do surpreendente aumento das taxas de juros em julho, mais de 66% dos entrevistados dizem que as autoridades foram muito lentas no combate à inflação, que atingiu 9,1%.

Agora preveem um nível mais alto dos juros no fim do ciclo de aperto, que deve ser rápido e incluiria uma alta de 0,75 ponto percentual em 8 de setembro.

Os resultados sugerem que, em vez de focar na ameaça de uma recessão iminente na região do euro, o BCE irá priorizar o controle dos crescentes preços.

Uma elevação de 0,75 ponto percentual, agora também prevista pelos mercados monetários, alinharia mais o BCE à política do Federal Reserve, que já aplicou dois aumentos da mesma magnitude.

“O BCE continuará subindo os juros em ritmo acelerado e enviará uma mensagem ‘hawkish’”, disse Nerijus Maciulis, economista do Swedbank, sobre a perspectiva de mais aperto monetário. “Precisa reparar sua reputação e poder declarar vitória quando a inflação começar a recuar.”

Um ritmo mais rápido de aumento dos juros pode oferecer algum suporte ao euro, que mergulhou à medida que o banco central dos EUA aumentava a taxa básica. Com isso, as importações, principalmente de commodities cotadas em dólares, ficaram mais caras, agravando a crise do custo de vida que pesa sobre a economia da Europa.

A grande maioria dos analistas pesquisados prevê que o PIB vai encolher por pelo menos dois trimestres, embora mais da metade não espere uma recessão além desse período.

“O BCE continuará a adotar uma linha dura contra a inflação, apesar das evidências de que o crescimento tem se desacelerado”, disse Claus Vistesen, economista da Pantheon Macroeconomics. “Até esperamos que o BCE reconheça que a economia agora esteja entrando em recessão, mas que continuará a subir [os juros] de qualquer maneira.”

A presidente do BCE, Christine Lagarde, apresenta projeções atualizadas na próxima semana ao destacar o dilema da política monetária: apesar da expectativa de corte das estimativas de crescimento, as projeções de inflação devem ser revisadas para cima.

A alta dos preços tende a ficar acima da meta de 2% em 2024 – um sinal preocupante para autoridades que acompanham de perto as expectativas de inflação. Mas a faixa das projeções é ampla, o que reflete a dificuldade de previsão em meio à incerteza causada pela guerra na Ucrânia.

As autoridades enfatizarão sua determinação em “continuar a aumentar os juros para reduzir a inflação”, disse Carsten Brzeski, economista do ING. “A questão sem resposta ainda é como será a ‘função de reação’ do BCE no que parece cada vez mais uma grave recessão no inverno” europeu.

Em julho, o BCE apresentou uma ferramenta para abordar possíveis problemas nos mercados de títulos, à medida que os membros mais endividados da zona do euro se acostumam com juros mais altos.

Embora algumas autoridades esperem que só o fato de a ferramenta existir acalme os investidores, a maioria dos entrevistados acredita que o chamado Instrumento de Proteção da Transmissão seja ativado em algum momento.

O BCE também tem implantado com flexibilidade reinvestimentos de 1,7 trilhão de euros em títulos comprados durante a pandemia para ajudar países em dificuldades. Metade dos recursos nos próximos três meses deverá ser investido em dívida italiana, com cerca de 30% dividido entre Espanha, Portugal e Grécia.

A maioria dos entrevistados também espera que o Conselho do BCE discuta a redução de seu balanço até o fim de março de 2023, embora as estimativas sobre quando a instituição pode começar a vender os cerca de 5 trilhões de euros em títulos variem muito. A maioria acha que o BCE não conseguirá rolar mais de 30%.

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