BC mais dovish indica desaceleração e juros curtos devem recuar
Com um tom visto como levemente mais dovish, o Banco Central sinalizou um ritmo menor de alta para o próximo encontro, em março, após elevar a Selic em 1,5pp, para 10,75%.
O movimento, apesar de amplamente esperado, trouxe uma justificativa vista por parte dos analistas como menos dura do que a comunicação adotada até agora pela autoridade monetária.
Segundo o Copom, a sinalização de uma alta menor à frente reflete o atual estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante 2022 e “em grau maior” 2023.
Ainda assim, o Copom repetiu que vê como apropriado que o ciclo de aperto monetário “avance significativamente em território contracionista” e que irá “perseverar” nessa estratégia até que se consolide a ancoragem das expectativas.
A curva de juros já precifica uma desaceleração para 1pp, mas parte dos analistas já admite que o aumento poderia até ser menor, em meio ao crescimento fraco do PIB, incertezas ligadas à Covid e os efeitos defasados do aperto monetário citado pelo BC. Alguns economistas esperam inclusive o fim do ciclo já no próximo encontro.
Em reação à indicação de desaceleração do aperto, os contratos curtos de juros futuros devem ter ajuste de baixa. Dólar, por outro lado, pode abrir mais pressionado.
Veja o que dizem os analistas:
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
- Copom veio levemente mais dovish que o esperado
- Goldman espera alta de 1 pp em março
- Um aumento mais moderado da taxa em março seria justificado pelo PIB fraco, cenário incerto da Covid, efeitos defasados do recente aperto monetário e real melhor ancorado
- BC está começando a dar mais peso à inflação de 2023
David Beker, chefe de economia no Brasil e estratégia para América Latina do BofA
- BC foi mais dovish do que o mercado esperava, mas em linha com a visão do BofA de que o fim do ciclo de aperto está próximo
- BC mencionou o estágio do ciclo e os efeitos cumulativo
- Prevê uma última alta de 0,50 pp em março
Roberto Secemski, economista para Brasil do Barclays
- “Decisão veio em linha com nossa expectativa, abrindo a porta para uma alta menor em março, considerando a fase do ciclo de aperto e o fato de que os efeitos cumulativos das altas anteriores ainda não foram sentidos pela economia”
- “De qualquer forma, não houve indicação clara no final do ciclo em si, com alguma ênfase em riscos ascendentes e leituras adversas no núcleo de inflação”
Gustavo Brotto, CIO da Greenbay Investimentos
- “Parte mais importante do comunicado é a sinalização de desaceleração do ritmo de ajuste para a próxima reunião; curva de juros deve ceder com essa sinalização”
- “Horizonte relevante, conforme esperado, leva em consideração o ano de 2023 em maior grau do que 2022”
- “Acreditamos que o próximo Copom deverá encerrar o ciclo de aperto monetário atual”
Pedro Dreux, sócio e gestor da Occam Brasil
- “Decisão bem esperada, mas a sinalização dos próximos passos foi mais branda do que o mercado previa”
- “Quando o BC não qualifica como moderada a redução do ritmo de ajuste, a sinalização para o Copom de março é que a desaceleração deve ser para 100 bps ou menos”
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados
- Vê como provável alta de 1 pp na próxima reunião e talvez mais 0, 50 pp na seguinte
- “Escalonando, mas ainda assim chegando aos 12,25%”
- “Câmbio está melhorando, mas [quadro de] commodities está complicado”
Gustavo Ribeiro, economista-chefe da Asa Investments
- Destaque para as projeções condicionais substancialmente revisadas para cima em 2022 e continuando ao redor da meta em 2023, a despeito do real mais apreciado, e a sinalização prospectiva de redução de passo na próxima reunião
- “Imaginávamos que BC manteria flexibilidade, não sinalizando próximo passo; aumenta a chance do BC ter que continuar o ciclo para além da reunião de março”
Rafael Ihara, economista-chefe da Meraki
- “Decisão veio em linha com o esperado; dúvida era apenas a sinalização para a próxima reunião e BC optou por fazer uma sinalização explícita de redução no ritmo de ajuste”
- “Acreditamos que o próximo movimento será uma alta de 100 bps e uma última elevação de 50 bps em maio, quando o BC já estará olhando apenas para a inflação de 2023, que, em seus modelos, está na meta”
João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos
- “Copom foi dovish no comunicado, quer esperar para ver os efeitos da alta de juros”
- “Comitê permanece preocupado com inflação, principalmente com itens subjacentes”
- “Esperamos que o ciclo de alta se encerre em março com uma alta de 100 bps”
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital
- Mercado deve reagir de forma até positiva por conta do reajuste do tom do BC sobre os próximos passos da política monetária, com alguma correção da curva de juro
- “Por conta da queda esperada na taxa de juros e pelo movimento de aperto monetário nos países desenvolvidos, esperamos que o dólar vá no sentido oposto e abra para cima”