Banco Central ameniza pressão, mas dólar ainda fecha na máxima desde novembro
O dólar teve mais um dia de intenso vaivém nesta quarta-feira, fechando em alta depois de oscilar entre ganhos e perdas, com a pressão levando o Banco Central a fazer oferta extraordinária de liquidez para amenizar a volatilidade.
Analistas disseram que a moeda brasileira volta a sentir os efeitos do juro baixo, que tira do câmbio o amortecedor para eventos de maior estresse externo ou interno.
A percepção de incerteza é aumentada pela perspectiva de mais um ano de fluxo cambial negativo, depois de o país ter perdido 72,7 bilhões de dólares apenas nos últimos dois anos sendo quase 28 bilhões de dólares em 2020.
Persistentes ruídos fiscais e leitura de que a agenda de reformas enfrentará um duro caminho neste ano completam os fatores negativos ao real.
O dólar à vista subiu 0,74%, a 5,3035 reais na venda, máxima desde 30 de novembro (5,3467 reais) e voltando a ganhar tração no fim da tarde conforme os mercados pioraram o sinal diante de tensões relacionadas a protestos pró-Donald Trump no Congresso norte-americano.
A cotação variou entre 5,3603 reais (+1,82%) e 5,233 reais (-0,60%).
Na B3 (B3SA3), o dólar futuro tinha alta de 0,46%, a 5,3175 reais, às 17h38, oscilando 12,65 centavos de real entre a máxima e a mínima. É o terceiro pregão consecutivo de spread de mais de 10 centavos de real, o que dá ideia do nível de instabilidade nos preços.
O real foi durante boa parte do pregão a divisa de pior desempenho no dia, a exemplo da véspera. Pouco depois das 11h30 a moeda bateu a máxima intradiária, acima de 5,36 reais, mantendo-se perto desse patamar até 14h26, quando o Banco Central anunciou oferta líquida de até 500 milhões de dólares em contratos de swap cambial tradicional.
O BC vendeu todo o lote, e o dólar chegou a marcar 5,2515 reais na mínima pós-leilão, às 16h. Vale lembrar que o BC já havia conduzido ofertas líquidas de swap cambial ao longo de dezembro, a fim de mitigar o efeito de compras bilionárias de dólares na esteira do desmonte do “overhedge”.
E, desde o fim de dezembro, o real voltou a descolar de pares emergentes, mostrando desempenho pior, quadro que potencializa novas intervenções cambiais pelo BC. Veja gráfico:
“Com meros 500 milhões de dólares o Bacen derrubou mais de 1% o cambio hoje. É inacreditável como o mercado está especulativo. Não ter a defesa do carrego faz mal ao real”, disse Ettore Marchetti, diretor de investimentos e gestor na EQI Investimentos, agente autônomo do BTG Pactual.
Com a queda da Selic a 2% ao ano e a inflação acima de 3%, o juro real no Brasil está negativo, o que desestimula a compra de reais por investidores em busca de lucros em operações de “carry trade” –nas quais no passado o real era destaque.
“Com o juros locais com que estamos, acho só com um programa de swap/dólar”, comentou Alfredo Menezes, sócio na Armor Capital.
O estoque de swaps cambiais do BC no mercado está em 68,091 bilhões de dólares, com 11,822 bilhões de dólares vincendos no começo de fevereiro.