BC acompanha conflito no Oriente Médio com lupa, mas cortes menores na Selic podem vir por outro motivo externo
O conflito entre Israel e Hamas está sendo acompanhado de perto pelo BC brasileiro, a menos de três semanas da decisão do Copom.
Em evento da Moody’s ocorrido em São Paulo nesta terça-feira (17), Gabriel Galípolo, diretor da autarquia para Política Monetária, diz que o BC acentuou a atenção sobre a cotação do petróleo e o desempenho do câmbio.
Essas preocupações estariam direcionadas para o caso de uma escalada regional da guerra no Oriente Médio, embora este não seja o cenário mais provável neste momento.
Nesse sentido, Galípolo mencionou que, embora o Brasil esteja presenciando uma dinâmica benigna para a inflação, existem desafios vindos do exterior, entre eles a disparada das taxas dos títulos americanos.
O diretor do BC destacou o patamar das Treasuries nos Estados Unidos, o ritmo de aumento das taxas e o diferencial da ponta curta para a ponta longa de juros na principal economia do mundo.
“O cenário é de que, quando os EUA começam a pagar 4,60%, 4,70% (de taxa), a situação para emergentes começa a ficar mais difícil”, disse o diretor do BC em uma fala recuperada pela Reuters.
Ainda hoje, os títulos norte-americanos voltaram a encerrar o pregão com fortes quedas de preço e alta dos rendimentos. As T-notes de 10 anos saltaram 0,1240 ponto percentual, aos 4,836%, após crescimento de 0,7% das vendas no varejo dos EUA em agosto.
Acima da expectativa, o dado do varejo americano alimenta o desconforto de uma economia cada vez mais acostumada com preços mais altos, o que deverá fazer o Federal Reserve reforçar uma posição mais restritiva.*
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Treasuries ameaçam mais Copom que guerra
Rafael Passos, da Ajax Capital, explica que, embora o andamento do conflito no Oriente Médio mereça a atenção dos mercados, em termos da decisão monetária que se aproxima, as Treasuries são mais perigosas.
Isso porque elas revelam um andamento menos favorável dos juros dos Estados Unidos para o mercado brasileiro.
“Geralmente, o diferencial de juros entre Estados Unidos e Brasil trabalha com um intervalo mais alto. Acontece que o Brasil está em ciclo diferente, aqui paramos de subir juros há muito tempo, enquanto os EUA estão trabalhando com juros em patamar mais elevado.”
O analista pontua que a zona de juros mais altas nos EUA desestimula a chegada de novo capital estrangeiro no Brasil e impulsiona a fuga do capital investido aqui, interessado por rendimentos maiores em economias mais estáveis que a brasileira.
Ultimamente, isso acaba enfraquecendo o real e fortalecendo a divisa norte-americana, o que é inflacionário na margem.
“É a queda no diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos que pode intimidar o Copom na próxima reunião”, diz Passos. A próxima reunião da autoridade está marcada para os dias 31 de outubro e 1º de novembro.
O analista enxerga possiblidades de que o Copom passe a optar por cortes mais tímidos na Selic, ainda que haja uma dinâmica benigna da inflação no país — qualitativamente melhor do que a presente no caso americano.
*Com Reuters