BBDC4, SANB11, ITUB4, BBSA3: Bancos terão combinação ‘poderosa’, alerta analista; veja quais valem a pena após 2T24
Se os bancos fossem alunos, teriam colecionado muitas estrelinhas por bom comportamento no segundo trimestre. Seguramente, o setor é um dos destaques da temporada de balanços, que se encerrou na semana passada. Não só os lucros subiram, como houve expansão na carteira e, melhor de tudo, queda na inadimplência. O resultado foi uma elevação na rentabilidade.
De acordo com dados da Elos Ayta Consultoria, os quatro grandes bancos somados Itaú (ITUB4), Santander (SANB11), Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3), lucraram R$ 26,8 bilhões, o maior lucro trimestral consolidado já registrado em valores nominais, que não considera ajuste pela inflação. O desempenho superou o recorde anterior de R$ 26,1 bilhões, registrado no segundo trimestre de 2022.
Além disso, encerram o período com mediana do ROE (retorno sobre o patrimonio líquido) de 16,35%. Esse valor, superior em 1,37 ponto percentual ao mesmo período de 2023, marca o terceiro trimestre consecutivo de crescimento. Porém, o número ainda está bem distante dos valores de 2010, que chegou a 20%.
Mesmo assim, analistas notam que o setor tem tudo para continuar o bom momento. Segundo a analista Larissa Quaresma, da Empiricus, os bancos reuniram redução de inadimplência e aceleração de carteira de crédito.
“Essa é uma combinação muito poderosa de melhoria de rentabilidade. Você tem de um lado o efeito de volume contribuindo para a margem financeira. Por outro lado, há uma compressão de spreds, mas quando você olha a margem líquida de inadimplência, você tem um efeito muito positivo sobre a rentabilidade que faz impulsionar o lucro dos bancos”, destaca.
Como foi o trimestre para os bancos?
De forma geral, houve aumento dos principais indicadores. O Santander teve a maior alta no lucro, com 40%, seguido do Itaú, que subiu 15%. Mesmo assim, o grande destaque foi o Bradesco, que viu a linha subir pouco, é verdade, 4,4%, mas que superou as expectativas e disparou gatilho para a ação saltar mais de 20% desde então. O ROE cresceu de forma generalizada também.
Houve queda da provisão, com exceção para o Banco do Brasil. A piora na inadimplência no agronegócio, a principal linha do BB, fez com que a estatal aumentasse os gastos com calotes para 2024.
Pedro Gonzaga, da gestora Mantaro Capital, nota que cada banco mostrou, de forma muito coerente, que o pior ficou para trás. Isso porque a crise da Covid-19 e a bomba da Americanas (AMER3), que anunciou rombo contábil de R$ 20 bilhões, derrubaram os lucros e a rentabilidade, principalmente de Bradesco e Santander, que já estavam em uma situação delicada após errarem a mão na concessão de crédito.
“O Itaú já tinha um nível muito bom, mas Santander e Bradesco tiveram uma melhora importante na net-influência. E, com isso, os bancos tem cada vez mais conforto em aumentar a originação, tomar mais riscos, crescer a carteira. É um sinal de confiança. Com todos os bancos percebendo isso ao mesmo tempo, também é um fator mitigador de risco para cada um individualmente”, destaca.
Competição com Fintechs
Outro ponto, segundo Gonzaga, é que os bancões demonstraram que a batalha com fintechs não está totalmente perdida. Houve crescimento relevante em tarifas, como cartão de crédito, o que já era dado como ‘carta fora do baralho’ diante do avanço dos bancos digitais, que roubaram fatia dos clientes ao oferecer taxas mais atrativas e outros beneficios.
“Há pouco tempo, essa receita era fadada a insignificância pela ameaça coletiva de entrantes, principalmente as fintechs. Havia um fator também conjuntural relevante, que era, na medida que os bancos estavam mais cautelosos com o crédito, concedendo menos, você também tinha menos oportunidade de vender outros serviços e produtos para os seus mesmos clientes”, diz.
O Bank of America nota que os NPLs, que na prática representa os empréstimos bancários que não foram pagos pelos seus clientes, melhoraram pelo terceiro trimestre consecutivo, fruto da abordagem conservadora de empréstimos dos bancos no passado, que e agora estão próximos da média histórica. Consequentemente, o custo do risco se normalizou, com os encargos de provisão crescendo abaixo do crescimento do empréstimo.
ROE e carteira de crédito: bancos vão de peito aberto para o segundo semestre?
Diante da melhora dos indicadores, resta saber se os bancos vão se expor mais. Até agora, os dados indicam que sim. A Febraban elevou a projeção de crescimento para a carteira de crédito em 2024, de uma alta esperada de 10% na pesquisa de junho, para 10,3%. O novo avanço foi disseminado entre todos os segmentos.
Porém, a tendência é não repetirem os erros do passado. Matheus Nascimento, da Levante Investimentos, diz que o setor passa por uma mudança estrutural. Ou seja: saem os créditos mais arriscados, como pessoas físicas e desbancarizadas, e entram clientes que já possuem bom histórico, oferecendo a eles uma cesta de produtos maior. Esse movimento tem até um nome polposo: principalidade.
“Se pegarmos o perfil da carteira de crédito dos bancos pré-pandemia e pouco depois da pandemia, você viu uma carteira que tinha um foco muito mais em pequenas e médias empresas, pessoa física, crédito livre, e agora o perfil tem se alterado. O próprio Itaú, por exemplo, não teve crescimento na carteira dentro de pessoas físicas, enquanto a carteira de cartão de crédito já é a maior do mercado”, afirma.
Isso, segundo ele, cria uma ‘casca de proteção’. Mesmo com uma alta da Selic, cujo parte do mercado já dá como certo, os bancos estariam protegidos, com uma carteira mais robusta e menos arriscada.
Mônica Araújo, estrategista de renda variável da InvestSmart XP, lembra ainda que a atividade econômica está aquecida e a massa salarial crescendo, com a taxa de desemprego em queda.”São componentes importantes para continuar incentivando a disposição em conceder crédito. A sinalização é de que o balanço de risco está favorável para essa continuidade”, coloca.
O jogo mudou: Saem Itaú e BB, entram Bradesco e Santander?
E dentro do tabuleiro, as peças parecem não ser as mesmas. Se em trimestres passados, Banco do Brasil e Itaú eram unanimidades e Bradesco e Santander carrascos, esse jogo está virando. Corretoras começam a redefinir suas preferências, com foco na melhora do BBDC4 e SANB11 e no potencial que isso pode se traduzir na bolsa.
Nas últimas semanas, o UBS BB, por exemplo, reafirmou recomendação em Bradesco e rebaixou Itaú para neutro, citando ‘valuation esticado’ e sem perspectiva de crescimento.
Outra casa que remodelou suas preferências foi o Itaú BBA, que manteve compra em SANB11 e BBDC4 e neutralidade em BBSA3.
Porém, Luis Lima, da Kinea, acredita que é cedo para falar em uma reorganização das preferências. “Houve questões pontuais no Banco do Brasil que levaram a uma revisão da conta de provisão para devedores duvidosos pra cima, mas por outro lado compensada por um resultado melhor vindo da receita de tesouraria, no fim não houve alteração no guidance de lucro para o ano”, recorda,
Já com relação ao Bradesco, lembra, o resultado veio melhor em cima de uma expectativa muito baixa. “Semanas antes da divulgação o papel ainda negociava muito próximo de 0.8x o patrimonio, refletindo uma expectativa que a recuperação da rentabilidade demoraria muito tempo”.
Gonzaga diz, por outro lado, que a Mantaro, nesse momento, tem preferência por Santander e Bradesco. Ele recorda que possui visão construtiva com o banco de Osasco há algum tempo. “Acreditávamos que tinha uma simetria positiva ali na medida em que vários investidores eram muito céticos e o que estava em preço da ação era exagerado”, explica.
Conta ainda que passou a ser mais otimista com o Santander, vendo que o banco também avança para entregar melhora de rentabilidade.
Em relação ao Banco do Brasil, há uma posição mais cética. “E Itaú, a gente acha que é um bom investimento no absoluto, certamente. É um banco super bem gerido, retorno sobre capital empregado, mas ele tende a se beneficiar menos desse ciclo de melhora”.
Retorno ao passado
Nascimento, da Levante, recorda que o movimento de Santander e Bradesco é apenas uma “conversão às médias”, ou seja, os bancos só estão retornando ao que eram no passado.
“Se tudo um pouco mais constante para o Bradesco, ele tende a retomar o patamar de rentabilidade ao redor de 18%. Óbvio que isso não vai acontecer agora, mas me parece que os primeiros frutos de toda a mudança estrutural começaram a sortir efeito nas diversas áreas de atuação […]. Santander e Bradesco negociam a múltiplos abaixo do que eles poderiam negociar, considerando o histórico ali de pandemia”.
O Bank of America possui três compras (Itau, Santander e Banco do Brasil) e uma neutra (Bradesco). Mesmo assim, elevou o preço-alvo do último, de R$ 15 para R$ 17, citando um progresso encorajador em seu plano para melhorar a lucratividade de volta aos níveis históricos.
“Vemos as ações BBDC sendo reclassificadas para valor contábil no curto prazo, mas buscaríamos um balanço mais robusto antes de nos tornarmos mais otimistas. Vemos o Itaú como uma holding central no setor, o Santander com o melhor momento de lucros e o Banco do Brasil com um múltiplo de avaliação desconectado dos fundamentos”.
E os dividendos?
Para quem gosta de dividendos, o cenário é diferente. Os analistas reforçam otimismo no Banco do Brasil e Itaú.
“A foto de hoje, o mais atraente é o Banco do Brasil, porque ele negocia em um múltiplo baixo, e isso corresponde a um pay-out que, em termos de yield (retorno), o dividendo sob o valor de mercado é raramente elevado”, diz Gonzaga.
“A dúvida ali é se é sustentável esse nível, uma vez que, se a análise dele crescer muito, isso vai ser ruim para o lucro, então pode não segurar esse nível de dividendos”, completa.
Já o Itaú, destaca possui excesso de capital. “Então ele consegue praticar um pagamento de dividendos à luz de um lucro dele muito elevado também. Ele fala abertamente de fazer um pagamento extraordinário até o final do ano”, recorda.
Pelos cálculos do UBS BB, o banco encerrou o trimestre com excesso de capital de R$ 13,9 bilhões. Para os analistas, o espaço para fusões e aquisições é limitado devido restrições do Banco Central, ou seja, esse dinheiro não deverá ir para compras de ativos. Uma dinâmica tributária desfavorável também desincentiva a expansão internacional.
O UBS BB prevê retorno total do Itaú de 21% até o final de 2025, considerando o pagamento de R$ 59,5 bilhões em dividendos nos próximos 18 meses.
No caso do Bradesco, Gonzaga diz que pode ser interessante pelo nível de múltiplo, e por maximizar o juros sobre capital próprio. “Pode ter um yield importante ali, só que ele não tem muito espaço para aumentar porque não tem excesso de capital e aí precisa realmente melhorar bastante a rentabilidade antes de aumentar o payout novamente”, afirma.