BBAS3, ITUB4, SANB11 e BBDC4: Na bolsa, bancos perdem R$ 130 bi em 2024; o que vale a pena?
Os bancos bem que tentaram, mas não conseguiram fugir do mau humor que aplacou o mercado brasileiro.
Nenhuma grande instituição escapou de terminar o ano no negativo, nem mesmo o Itaú (ITUB4), considerado um ‘tanque de guerra’ para atravessar momentos mais difíceis.
Se juntos, Santander (SANB11), Bradesco (BBDC4), Itaú e Banco do Brasil (BBAS3), formassem um índice, terminariam o ano com um tombo de 14%, pior do que o já fraco desempenho do Ibovespa, que caiu 10%. Mais do que isso, os bancões encolheram R$ 130 bilhões em valor de mercado no período. Os dados são da Elos Ayta.
Veja abaixo o desempenho de cada banco no ano:
Banco | Ticker | Queda em 2024 | Perda de valor de mercado |
---|---|---|---|
Bradesco | BBDC4 | 30% | R$ 54 bi |
Santander | SANB11 | 25% | R$ 30 bi |
Banco do Brasil | BBAS3 | 11% | R$ 20 bi |
Itaú | ITUB4 | 8% | R$ 25 bi |
A fotografia indicava um bom ano. Com a economia a caminho de terminar 2024 com crescimento de mais de 3% e a volta do consumo, além do controle de inadimplência, o setor conseguiu entregar bons números.
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No terceiro trimestre, os quatro bancões lucraram R$ 27 bilhões, segundo a Elos Ayta, alta de 17% em relação ao mesmo período do ano anterior. Do outro lado, a provisão para calotes, outro importante indicador da saúde financeira do setor, caiu para todas as instituições.
Só o Itaú, por exemplo, reduziu pela metade seu colchão contra perdas, assim como o Santander, o que indica maior confiança na economia.
“A grande preocupação era o aumento da inadimplência, o que não aconteceu. Tivemos uma preocupação grande no lado das empresas, com algumas recuperações judiciais, mas não tivemos um descontrole, nem do lado da pessoa física e nem das famílias”, destaca Marco Saravalle, analista CNPI-P.
Com isso, os bancos conseguiram ‘fechar’ a equação no positivo, com expansão da carteira de crédito, que junto com o aumento dos lucros, puxaram a rentabilidade para cima.
O que esperar para 2025?
Apesar dos avanços, 2025 se desenha como um ano desafiador para os bancos, que terão que conviver com juros na casa dos 14%. Se por um lado podem aumentar o lucro cobrando taxas maiores, por outro a inadimplência baterá à porta novamente.
“Traz algum sinal de alerta o ritmo de expansão das carteiras para 2025. Podemos ter maior preocupação em relação ao comportamento da inadimplência, mas principalmente em relação ao ritmo de crescimento das carteiras. Vamos precisar ver na virada dos resultados as expectativas para o ano”, diz Saravalle.
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Em sua visão, os bancos terão que pisar no freio, com um custo de capital mais alto, algo inclusive que já foi sinalizado nas conferências de resultados, como a do Santander.
“Hoje, a atividade continua aquecida, mas e se em algum momento a atividade começar a desaquecer, como é que isso vai se comportar na inadimplência?”, questiona.
Pesquisa da Febraban revela que o crédito deverá crescer 9% em 2025. O resultado do levantamento foi feito com 19 bancos entre os dias 17 e 20 de dezembro
Ainda de acordo com a pesquisa, a expectativa para a taxa de inadimplência da carteira livre aponta ligeira piora.
O indicador deve fechar 2024 em 4,5%, pouco acima do nível atual, 4,3% em novembro, segundo dados do Banco Central.
Para 2025, a projeção da inadimplência da carteira livre também se elevou um pouco e atingiu 4,7%, ante 4,5% na pesquisa anterior.
“Esses dados indicam que as instituições financeiras começam a ver um cenário mais negativo para a inadimplência”, diz Rubens Sardenberg, diretor de economia, regulação prudencial e riscos da Febraban.
O último Boletim Focus indicava PIB com crescimento de 2,01% em 2025, taxa básica de juros em 14,75% e dólar em R$ 5,96.
Dianta disso, o que vale a pena estar na sua carteira em 2025?
Se saiu bem
Segundo analistas que conversaram com o Money Times, é inegável que o Itaú tenha continuado a entregar bons resultados e é o favorito para passar pelo ano. O lucro, que já vinha de uma base de comparação alta, voltou a crescer, enquanto a rentabilidade continua acima de 20%.
E para fechar com chave de ouro, o banco pretende pagar uma bolada em dividendos extraordinários no começo do ano.
Para a Ágora Investimentos, que manteve o banco na sua carteira de janeiro, o Itaú deve distribuir entre R$ 12,7 bilhões e R$ 20,8 bilhões em dividendos extraordinários no quarto trimestre, o que implicaria de 0,9 ponto percentual a 1,5 ponto percentual de capital em pagamentos de dividendos para 2024.
Rafael Passos, da Ajax Asset, recorda que o laranjinha consegue crescer em diferentes segmentos.
“Não só com concessão de crédito, mas quando vemos o banco de atacado, quando vemos o BBA com taxa de administração também subindo. O Itaú vem se mostra o mais eficiente. Quando você olha a qualidade de ativo deles, hoje é o melhor banco que tem”, coloca.
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Em sua avaliação, não tem como: o Itaú vai continuar se sobressaindo, porque, querendo ou não, é o que mais está com uma qualidade de ativos melhor. “Ele é o que vem controlando mais forte na inadimplência, é o que vem conseguindo aqui crescer a rentabilidade com outras fontes de produtos”.
Já a Empiricus lembra que o banco é especialista em antecipar ciclos de crédito. “Acreditamos que a companhia deve manter a boa execução nessa frente, que ganha ainda mais importância diante do ciclo de alta da Selic”.
Poderia ter sido melhor…
Bradesco e Santander entraram em 2024 com a missão de recuperar o tempo perdido e espantar a sequência de trimestre de resultados e rentabilidades abaixo do esperado.
No primeiro e segundo trimestres até houve melhora, com números elogiados pelo mercado. O Bradesco, por exemplo, chegou a saltar 30% após a divulgação dos números do 2T24.
Porém, sem um cenário macro favorável, o que era difícil ficou ainda mais complicado.
“O Bradesco teve o pior resultado. Apesar de ter apresentado melhora desde o pior momento, os números indicam que a volta a um patamar próximo ao Itaú vai demorar mais do que o esperado. Sem mudanças na estratégia, dificilmente veremos o Bradesco próximo ao Itaú”, disse o analista Bruno Komura, da Potenza Investimentos.
Para 2025, o banco, que liderou as perdas, diz que a recuperação ocorrerá ‘passo a passo’.
“A carteira de crédito cresce com equilíbrio em todos os segmentos… e com índice na inadimplência que melhora em todos os segmentos de clientes”, disse o CEO Marcelo Noronha.
O executivo também afirmou ter uma perspectiva “muito boa” para o crédito da pessoa física no próximo ano. “Não sei se nesse mesmo patamar, talvez um pouco menos, mais ainda com crescimento robusto”.
Segundo o Itaú BBA, os lucros mais lentos e os riscos macroeconômicos tiraram parte do brilho da recuperação.
Na visão da corretora, o Bradesco faz a lição de casa, ao se concentrar em buscar mais retornos ajustados ao risco (e ao capital), com uma mistura de clientes mais seletiva e produtos. Apesar disso, alerta: há pouca margem para erros em termos de crédito próprio.
A polêmica
Agora, quando o assunto é Banco do Brasil, os analistas se dividem. O banco, que deixou os investidores mal-acostumados com altas em anos anteriores, fechou 2024 com queda de 11,72%. E o principal vilão foi o agronegócio, que teve piora na inadimplência.
“A culpa nem é tanto do Banco do Brasil, mas do efeito sazonal. Foi mais efeito que tivemos clima mesmo, que afetou safra e, automaticamente, afetou o desembolso do Plano Safra. Mas nesse quarto trimestre, tivemos desembolsos. Então, assim, não é algo que vai afetar os próximos resultados”, diz Passos, da Ajax Asset.
Na visão de Saravalle, é o banco mais barato. “Temos mesmo em um cenário de estresse, negocia na casa de 4x o preço sobre o lucro com pelo menos 12% de dividend yield para 2025. Então, patamar muito barato, abaixo da média da Bolsa, abaixo do próprio histórico”, diz.
Já Gustavo Harada, gestor de renda variável da Blackbird, afirma que o Banco do Brasil tem uma estratégia bastante diversificada e bem em relação às operações. “Então, acredito que pode, sim, impactar [a piora do agro], mas tem outras linhas, outras frentes, também, que gosto bastante da parte de Banco do Brasil como um todo”.
Por outro lado, Komura diz que o problema do BB não é nem a inadimplência, mas os lucros puxados pelo agro, que devem diminuir.
“O agro acaba tendo um ciclo diferente e por isso, não diria que o resultado é pior por conta dos desafios locais. Nos últimos 2 anos vimos safras recordes no Brasil e ausência de problemas em outras geografias, o que fez com que houvesse alta disponibilidade de grão, derrubando os preços. Alguns produtores não conseguiram aguentar por este tempo e estamos vendo um alto número de pedidos de RJ”, explica.
Mal precificado
O gestor Werner Roger, da Trígono, diz que o mercado erra ao precificar o BB.
“Os problemas enfrentados anteriormente já foram precificados e provisionados. Agora, entramos em um momento de safra boa e grande. Eventualmente, produtores que enfrentaram dificuldades no ano passado terão, neste ano, uma produção normal e condições de recuperação”, coloca.
Para ele, a instituição possui garantias que podem ser executadas, dependendo do caso. No entanto, segundo a sua visão, o BB está sendo precificado com base em uma situação passada, que não reflete a realidade presente e futura.
Isso não impediu, no entanto, do Goldman Sachs ter cortado a recomendação de compra para neutra, com preço-alvo de R$ 26. Segundo os analistas liderados por Tito Labarta, o cenário não está muito convidativo para a estatal. São três os argumentas que sustentam a visão.
- a deterioração da qualidade dos ativos, particularmente nos empréstimos no agronegócio;
- desaceleração no crescimento do RII (resultado de intermediação financeira), pressionada pelos custos de financiamento;
- menor contribuição do banco argentino Patagônia;
Para 2024, o lucro deve crescer 6%, 3% em 2025 e 3% em 2026, porém abaixo da média de Bradesco (28%), Itaú (17%) e Santander (14%).
Dessa forma, o ROE, retorno sobre o patrimonio líquido, deverá recuar dos 21% atuais para 19,5% em 2025 e 18% em 2026, abaixo do ‘limite psicológico’ de 20%. A cifra é vista como ‘número mágico’ no mercado.
O Citi foi outro banco a cortar a recomendação citando a piora do cenário.