BBAS3, BBDC4, SANB11, ITUB4: Um pode decepcionar e outro surpreender; veja o que esperar dos resultados
Apesar dos bons resultados do segundo trimestre, os bancos têm um 2024 morno.
Até aqui, Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11) pouco avançaram na bolsa, enquanto o Banco do Brasil (BBAS3) vive um ano volátil, distante das altas estelares de períodos anteriores.
Já o Bradesco (BBDC4) até mostrou recuperação, com esticada de 26% após abrir os números do trimestre passado. Porém, o vigor da alta estacionou e, no ano, acumula queda de pouco menos de 10%.
Um dos fatores que pode ter atrapalhado o setor é a piora do sentimento do mercado como todo. Isso porque, para o bem e para o mal, essas ações possuem correlação com o Ibovespa.
De agosto para cá, o índice desabou 5,6% em meio à piora da inflação e do aumento das taxas de juros. Economistas veem taxa terminal de mais de 12%.
Segundo analistas que conversaram com o Money Times, apesar das mudanças estruturais, entre os bancos o terceiro trimestre é visto como uma continuidade das tendências observadas no segundo trimestre.
Carteira de crédito e inadimplência
Pedro Dietrich, analista da Ativa, espera aumento da expansão da carteira de crédito, com maior apetite dos bancos nas concessões.
“Uma pesquisa recente da Febraban demonstra bem isso. Linhas com elevados índices de atraso estão deixando de ser seguradas pelos bancos, e linhas que vinham esquecidas tem um desempenho melhor, como, por exemplo, crédito para aquisição de veículos e até mesmo crédito imobiliário nesse trimestre em específico”, diz.
Ainda segundo ele, a inadimplência, no consolidado, deve seguir estável. Apesar disso, vê uma piora setorial do atraso nos últimos meses, mas, por enquanto, concentrado em bancos menores.
Marco Saravalle, analista CNPI-P, lembra que no ano passado, a grande preocupação do setor financeiro era a inadimplência, que, de fato, não veio.
“O comportamento das carteiras de crédito tem sido muito mais saudável do que se estimava há seis meses, um ano atrás. As carteiras crescem em um ritmo modesto, mas sem grandes sustos por hora, em termos de inadimplência”.
Consequentemente, explica, o setor terá uma boa gestão, com lucro, de forma geral, expandindo entre 8% e 15% entre os grandes bancos.
Já Felipe Moura, sócio e analista da Finacap, recorda que apesar de um cenário de crédito desafiador, com juros altos, “a deterioração é muito menor”.
“A maior parte da deterioração já ocorreu quando os juros estavam subindo. Agora, estamos em um momento de mais estabilidade. Portanto, os bancos, de maneira geral, devem apresentar resultados estáveis”, diz.
Outro indicador que pode impulsionar os resultados é o forte crescimento econômico. É esperado que o Brasil cresça mais de 3% neste ano, quando a previsão inicial era de 2%.
“O PIB segue mostrando uma atividade econômica forte no Brasil. Iniciamos um ciclo de alta de juros, mas isso não deve impactar os resultados do último trimestre no setor bancário”, diz Pedro Caldeira, sócio e assessor da One Investimentos, escritório autônomo ligado ao BTG.
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Ele acredita que os resultados virão em linha com as expectativas, com crescimento do lucro líquido e ROE (retorno sobre o patrimônio) interessantes, principalmente para os grandes bancos.
A XP escreve que em termos de qualidade de crédito, espera-se que a inadimplência permaneça em níveis controlados, enquanto o custo do risco pode apresentar alguma volatilidade (principalmente para o BBAS3) à medida que ocorre deterioração entre os clientes do agronegócio.
“No geral, esperamos mais um conjunto de resultados sólidos para os bancos incumbentes, particularmente para Bradesco, Itaú e Santander”.
Uma decepção, outra surpresa?
No segundo trimestre, houve uma divisão clara entre Bradesco e Banco do Brasil: enquanto um surpreendeu, outro decepcionou, principalmente devido ao cenário mais fraco no agronegócio. Isso deve se repetir nesse trimestre?
Para a Ativa, sim. Dietrich argumenta que o segundo trimestre representou uma melhora significativa da qualidade da carteira do Bradesco, enquanto o terceiro trimestre pode indicar uma tendência desse movimento.
“Acreditamos que o foco será na relação da inadimplência com os spreads praticados, podendo o banco surpreender novamente na expansão da sua margem financeira liquida”.
No caso do BB, ele argumenta que os últimos trimestres foram de piora em indicadores qualitativos, com o lucro e ROE indo bem por fatores não recorrentes. Caso siga tendência de piora, o mercado pode revisar as projeções para 2025.
Moura também diz que a maior probabilidade de surpresa está com o Bradesco, que vem de uma base de comparação fraca.
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“Qualquer melhora já é expressiva. A nova gestão está fazendo um bom trabalho, e há muita movimentação na estrutura do banco. Acho que o Bradesco deve continuar surpreendendo”.
Para o Banco do Brasil, recorda que a instituição é o maior financiador do agro no país, e isso afeta seus resultados. “Este ano, a safra será mais fraca, e isso deve impactar, mas não espero uma reversão total de tendência ou desempenho ruim, apenas uma menor surpresa positiva”.
A XP engrossa o coro ao afirmar que espera um trimestre desafiador para a estatal.
“O Plano Safra foi adiado e só começou em setembro. Embora isso possa ser compensado no 4º trimestre, espera-se que o crescimento do 3º trimestre seja afetado. É esperado que o nível de provisões aumente, refletindo a deterioração da carteira rural”.
Por outro lado, afirma, o início do ciclo de aumento das taxas de juros domésticas deve beneficiar a margem financeira (NII) do banco.
O agronegócio não vive o seu melhor momento, em meio à queda dos preços dos grãos. O cenário fraco do setor, considerado o carro chefe das exportações brasileiras, foi evidenciado pelo aumento do número de recuperações judiciais, entre elas a AgroGalaxy (AGXY3) e Portal Agro.
Enquanto isso, os pedidos recuperação judicial para produtores cresceram 256% em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo dados da Serasa.
Caldeira, por sua vez, diz que o Banco do Brasil pode sofrer com o impacto do agro, “mas não será uma catástrofe”.
“O Bradesco segue com uma visão mais neutra e cautelosa, mas deve vir em linha com as expectativas. No cenário de alta de juros, acreditamos que o Itaú será o menos impactado em 2025, enquanto Bradesco e Santander podem enfrentar mais dificuldades”.
Já Saravalle destaca a receita de tesouraria, chamado de ‘lucro na veia’.
“A gestão de tesouraria, em momentos de volatilidade nas taxas de juros, deve ser observada. Historicamente, o Itaú é um destaque positivo nesse quesito. O Bradesco mostrou uma inflexão no último trimestre, mas agora deve caminhar em um ritmo mais próximo do setor”.
O que comprar?
A Ativa recomenda compra em Bradesco. “Sabemos que tem risco, mas vemos sua precificação atual muito depreciada, podendo o banco recuperar rentabilidade com uma velocidade e em um patamar terminal superior ao que o mercado precifica hoje”.
Para o Itaú, a casa está neutra, mesmo com banco demonstrando alta qualidade. “Mas o valuation não deixa uma margem de segurança atrativa. Banco do Brasil atualmente é compra pelo alto patamar de rentabilidade e precificação do mercado. No entanto, estamos em processo de revisão”.
Saravalle continua preferindo o Banco do Brasil pelo desconto excessivo e o Itaú, pela qualidade.
“Para quem tem perfil de risco e pensa no longo prazo, preferimos o Inter. Sabemos da magnitude desse banco em comparação aos demais. O Bradesco está negociando a seis vezes o lucro de 2025, o Itaú em torno de sete vezes, e o Banco do Brasil abaixo de quatro vezes, mais perto de 3,5 vezes. Essas são nossas preferências”.
Felipe Mora diz que o Bradesco está com tendência de melhora, enquanto e Itaú sempre surpreende. “Ambos são escolhas fortes”.
Além disso, cita o Inter como uma surpresa positiva, com crescimento e um valuation depreciado.
“O Inter tem uma carteira de crédito menos arriscada do que o Nubank e está começando a dar lucro. Acho que esses três — Bradesco, Itaú e Banco Inter — têm as melhores perspectivas. Bradesco está recuperando, Itaú está na crista da onda e Banco Inter está surpreendendo”.