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“Batata ficou mais quente” e BC não tem meios de segurar os juros e conter dólar, diz Zeina Latif

09 mar 2021, 12:00 - atualizado em 09 mar 2021, 12:02
Dólar
A depreciação do real dificilmente será contida com os instrumentos do BC (Imagem: REUTERS/Bruno Domingos)

A decisão do ministro do Supremo Edson Fachin anulando as sentenças de Curitiba contra o ex-presidente Lula e devolvendo sua elegibilidade, pelo menos por hora, apenas deixou a batata quente para o Banco Central (BC) e, de resto, para o governo.

Os sinais da necessidade de aumento dos juros já estavam dados, sob pressão inflacionária especialmente vindo dos preços das commodities agrícolas, e sem efeito visível e duradouro, em caso de alta, sobre o câmbio. Agora, discute a consultora econômica Zeina Latif, a “batata ficou mais quente”.

A calibragem que o Copom venha a fazer na taxa Selic (2% atualmente), na reunião do próximo dia 16 – na qual há uma aposta (mínima agora) do mercado em mais 0,25 ponto percentual -, pouco vai alterar a tendência de o dólar comercial ficar em ritmo de alta, acredita a ex-economista chefe da XP Investimentos.

Para os exportadores seguirá sendo um bom negócio, particularmente os do agronegócio, que ainda se aproveitam de demanda internacional muito flexível.

“Os instrumentos para contenção do dólar que o BC dispõe têm pouco efeito, no máximo atenua a volatilidade no curto prazo”, diz.

Num cenário no qual o BC pudesse aguardar um pouco mais para mexer nos juros, no qual Zeina até acha “o mais razoável”, vai encontrar um mercado desconfiado e nervoso, cobrando da hoje independente autoridade monetária ação mais imediata, colocando em xeque a sua “credibilidade”.

O ponto central, acentua a economista, é que o governo deixou escorregar as conquistas macroeconômicas, recuperadas parcialmente nos pós-Dilma Rousseff, e fragilizou ainda mais a situação fiscal do País.

A multiplicação de ruídos, que Zeina Latif exemplifica com os mais recentes, a intervenção na Petrobras (PETR4), o aviso do presidente Jair Bolsonaro de que a Eletrobras (ELET3) também será um alvo, a PEC emergencial um tanto frouxa, são apenas partes do problema.

“Estamos colhendo hoje o que foi plantado em 2020”, complementa ela.

O ritmo lento da vacinação contra a covid e aceleração dos contágios e mortes são a cereja do bolo, junto com a possibilidade cada vez mais crível de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhar na Vara Federal de Brasília, para onde Edson Fachin remeteu os processos, ou o plenário do STF validar a recuperação de seus direitos políticos.

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