Economia

‘Batalha não foi vencida’: O recado de Campos Neto sobre inflação para o governo e o mercado

19 abr 2023, 14:41 - atualizado em 19 abr 2023, 14:42
Arcabouço Fiscal, Campos Neto
Para Campos Neto, núcleo da inflação segue muito resiliente; IPCA deve voltar a ganhar força ao longo do segundo semestre. (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Os últimos dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que mostram a inflação dentro do teto da meta animaram o mercado e o governo em relação ao futuro da taxa Selic. No entanto, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a pedir calma na hora de analisar os números.

Em reunião organizada pelo European Economics & Financial Centre, Campos Neto disse que núcleo da inflação, que exclui a volatilidade de energia e alimentos, segue muito resiliente. Além disso, o IPCA deve voltar a ganhar força ao longo do segundo semestre.

“Olhamos muitas coisas e cruzamos muitos dados. Mas a realidade é que a queda da inflação é mais lenta do que esperávamos, considerando o patamar da taxa real de juros no Brasil. O que nos diz que a batalha não foi vencida e temos que persistir”, afirmou.

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Em março, o IPCA subiu 0,71% em março, desacelerando-se em relação à alta de 0,84% apurada em fevereiro. O resultado veio abaixo da mediana projetada pelo mercado, de 0,77% e é o menor para o mês desde 2020.

O indicador desacelerou a alta acumulada em 12 meses até março para +4,65%, de +5,60% no mês anterior. O resultado também ficou abaixo da mediana projetada pelo mercado, de +4,71%. Trata-se da menor variação desde janeiro de 2021. Na época, o IPCA de 12 meses somava 4,56%.

Com esse resultado, a inflação ficou abaixo do teto da meta do Banco Central para 2023, de 4,75%. É a primeira vez que o acumulado volta para as bandas da meta desde fevereiro de 2021, quando o teto era de 5,25%.

Campos Neto, no entanto, afirma que o índice está “poluído” pelas mudanças recentes na tributação de gasolina, energia e gás. “Quando olhamos para o cerne da inflação, está levemente abaixo dos 8%, o que é muito alto”, aponta. A projeção do Banco Central é que a inflação chegue a 3,5% em junho antes de voltar a acelerar.

Arcabouço fiscal e o Banco Central

Durante o evento, Campos Neto disse que ainda não leu em detalhe o texto do projeto do arcabouço fiscal entregue pelo Ministério da Fazenda ao Congresso na terça-feira (18). Ainda assim, ele destacou que a proposta de nova regra fiscal é “bastante razoável”.

“Acho que o anúncio fiscal do governo ajuda bastante, mas é um processo. Para nós é importante fazer um movimento que tenha credibilidade”, disse e ainda lembrou que não há uma relação mecânica entre a meta fiscal e as decisões do Banco Central sobre sua política econômica.

Apesar da ausência de uma relação direta, as expectativas do mercado em relação ao arcabouço fiscal podem impactar nas projeções inflacionárias a longo prazo.

Além de determinar as regras e parâmetros para o controle das contas públicas, o texto do arcabouço fiscal também destaca que o Banco Central deve prestar contas semestrais ao Congresso. A autarquia deverá apresentar uma avaliação do cumprimento dos objetivos e das metas da política monetária.

“No prazo de noventa dias após o encerramento de cada semestre, o Banco Central do Brasil apresentará, em reunião conjunta das comissões temáticas pertinentes do Congresso Nacional, avaliação do cumprimento dos objetivos e das metas das políticas monetária, creditícia e cambial, de forma a evidenciar o impacto e o custo fiscal de suas operações e os resultados demonstrados nos balanços”, diz a proposta da nova regra fiscal.

Vale lembrar que, atualmente, não faz parte nas metas do Banco Central políticas creditícia e cambial, ao contrário do citado na regra fiscal. Além disso, desde 1999, a autoridade monetária publica o Relatório de Inflação como prestação de contas.

*Com Reuters e BDM

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