Bastidores de Brasília: A estratégia de aliados para amansar Bolsonaro
Ministros da ala política do governo têm aconselhado Jair Bolsonaro a ser mais conciliador e menos raivoso na campanha pela reeleição. A avaliação é que o presidente precisa parar de criticar o Supremo Tribunal Federal (STF) e abraçar a vacinação contra a Covid-19.
Segundo esses aliados, Bolsonaro deveria reduzir as entrevistas concedidas a veículos de direita que o incitam a fazer ataques a adversários.
Os ministros acreditam que o presidente não capitaliza o que o seu governo tem de positivo, como o Auxílio Brasil e o sistema de pagamento PIX — coisas que deveriam ser envelopadas e apresentadas aos eleitores junto de um discurso mais moderado.
Os aliados sabem que a ala mais radical do entorno de Bolsonaro também atuará na corrida pela reeleição por meio de redes sociais, mas quer convencer o presidente a dar mais atenção a um trabalho de comunicação qualificado. Resta saber se o presidente concorda com isso.
Cavalo de Troia
Bolsonaro ficou verdadeiramente abalado com a carta divulgada pelo presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, em resposta a suas declarações contra a vacinação infantil.
Depois de Bolsonaro questionar qual seria o interesse da Anvisa por trás da autorização da vacina contra a Covid-19 para crianças de 5 a 11 anos, Barra Torres fez uma carta pública na qual pediu que o presidente abra uma investigação se tiver indícios de corrupção na agência ou que, se não tiver, se retrate.
Barra Torres, por quem o presidente sempre teve admiração, acertou em cheio em dois temas que são caros a Bolsonaro, cristianismo e moralismo.
“Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho”, diz um trecho da carta. O chefe da Anvisa, que é médico e contra-almirante, ganhou no Planalto o apelido de cavalo de Troia.
Fundo fura-teto
Integrantes do Ministério da Economia resistem à criação de um fundo para atenuar flutuações nos preços de combustíveis no país e temem que ideias dessa natureza abram caminho para mais furos no teto de gastos.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, já anunciou, por exemplo, que vai submeter ao colégio de líderes no início de fevereiro um projeto de lei que cria um fundo de estabilização de preços financiado pela cobrança de um imposto de exportação sobre petróleo bruto.
O problema, afirmam os técnicos, é que além dessa taxação não gerar receita suficiente para compor o fundo, o mecanismo impactaria o teto de gastos. Essa parte da equação tem sido ignorada pela ala do governo que não se importa em continuar furando o teto, dizem os integrantes da área econômica. O Ministério da Economia acaba de criar um grupo de trabalho para discutir combustíveis.
O que resolve
Para a Economia, o ICMS sobre combustíveis também não é o problema dos altos preços da gasolina como insiste o presidente da Câmara, Arthur Lira.
O imposto estadual apenas reflete as flutuações do barril de petróleo, afirmam os técnicos. Portanto, de pouco adianta atacar os governadores e mudar a forma de cálculo do tributo como propõe um projeto já aprovado pela Câmara e que aguarda votação do Senado.
O que pode ter impacto, diz a equipe, é o movimento iniciado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) esta semana, para investigar possível abuso de posição dominante da Petrobras (PETR3;PETR4) no mercado de petróleo brasileiro. Isso porque o caminho para preços menores é um aumento da competição que passa pela venda de refinarias e outros ativos da estatal.