Barter travando fertilizantes só via câmbio não explora a real potencialidade do negócio
É possível afirmar que a esmagadora maioria dos produtores que amarram antecipadamente as vendas de soja com a aquisição de fertilizantes o fazem tentando estabelecer o efeito cambial sobre custo destes insumos. Mas a avaliação da relação de troca, contra a entrega do grão precificado a futuro em Chicago, não deveria ficar presa apenas ao dólar.
Vira quase um hedge.
Quando as demais variáveis ficarem mais inteligíveis, o barter deverá crescer mais ainda sobre os 30% a 35% da produção de oleaginosa no Brasil. A visão é de Marcelo Mello, consultor da StoneX, que dá um exemplo.
Se o produtor for tentar estabelecer a trava para março de 2022, com a tela da bolsa de mercadorias a US$ 9,59/bushel e um prêmio Paranaguá baixo (talvez US$ 0,50) para a colheita brasileira concluída nessa época (e oferta abarrotada), ele não vai fazer porque está longe demais para pensar em câmbio. Mas a disponibilidade do fosfato e do potássio, as duas principais matérias-primas, a preços de hoje, poderiam compensar, por exemplo.
Daí, até, que Mello ainda vê muito pouco barter rodando para a safra 21/22, nem 5% se ele fosse chutar.
O problema é mais de fundo, no entanto. O mercado de fertilizantes é “pouco transparente” e negociar com as tradings e algumas cooperativas, “agressivas e rápidas”, e tecnicamente preparadas, não é para principiantes.
A volatilidade desses insumos, participantes com 30% do custo de plantio, em uma cadeia pulverizada de fornecedores mundiais, que vão do Canadá à Europa Oriental, torna tudo mais complicado na formação de preços.
“Mas, bem gerenciado, o produtor consegue uma redução de custos de 10% a 15% por safra”, afirma o consultor de fertilizantes da StoneX.
Quem presenciou a gangorra de preços entre novembro de 2019 a janeiro de 2020, entre os fosfatados e os potássicos, e travou para safra 20/21, a que está sendo plantada (com atraso), sabe o Marcelo Mello quer dizer. E nem o câmbio e nem a soja apontavam para a realidade altamente positiva deste segundo semestre, particularmente.
“A relação de troca foi espetacular este ano”, complementa, lembrando que foi a melhor em cinco anos com a combinação de demanda chinesa puxando os preços e encurtando a oferta, real desvalorizado tornando o produto mais barato e fertilizantes travados com vantagens entre final do ano passado e começo deste.
Se alguém fosse fazer o barter agora para a safra atual estaria pagando em torno de 16 sacas por tonelada de fertilizante, com Chicago novembro a US$ 10,70 mais o prêmio porto de US$ 2,25.