Grãos

Barter com soja para 2022 é feito histórico que testa o risco ‘kinder ovo’ do dólar futuro

26 ago 2020, 14:25 - atualizado em 26 ago 2020, 14:50
Soja
Soja 2022 na mira de negócios, mesmo com os riscos inerentes especialmente via câmbio (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Os ganhos que o dólar e a demanda chinesa (também pelo fator cambial) proporcionam à soja nesta safra geram certo entusiasmo no travamento de vendas para 2022. É histórico na comercialização do grão vendas dois anos antes porque o câmbio futuro, especialmente, ainda embute o risco ‘kinder ovo’.

Basicamente são negócios com base no barter, que é a entrega do grão por troca de insumos com revendas (o grosso agora), ou negócios com tradings, e diretamente com fabricantes de adubos, quando o produtor emite uma Cédula de Produto Rural (CPR) em garantia.

Para 2022, nesta terça (25) teve negócios a R$ 100 a saca em Cascavel para entrega nos meses de janeiro e fevereiro, segundo registrou Marlos Correa, da InSoy Commodities. Em Sorriso (MT), a soja rodou a R$ 99, de acordo com Adriano Gomes, da AgRural, que viu ainda, no Porto de Paranaguá, a R$ 117 também para daqui 1,5 ano. Para março de 22, na faixa de R$ 115 a saca, o consultor Vlamir Brandalizze observou barter a US$ 350 a tonelada base Paranaguá.

“São poucos negócios e só revendas pequenas estão fazendo, pois o risco ainda é grande, mesmo que a conjuntura do grão indique que a necessidade chinesa não cairá e que o câmbio tenderá a manter o produto brasileiro barato na troca por reais”, explica Gianpaolo Zambiazi, CEO da Gira, empresa de gestão de recebíveis controlada pelo Santander (SANB3), para quem o entusiasmo com a soja disponível hoje a mais de R$ 130 no porto paranaense é que “gera essa ansiedade” para dois anos a frente.

Há ainda a precificação da bolsa de commodities de Chicago (CBOT). Tem tela aberta até para novembro de 2023, mas obviamente não há histórico de negociação nem para 2022. O que torna as referências ainda mais frágeis.

“Se o disponível ou o mercado futuro para 2022, quando estiver sendo negociado para valer, estiverem descolado do preço na qual foi feita a relação de troca, o produtor vai estar muito exposto entregando muita soja, ou, no inverso, as lojas de insumos estarão com um custo efetivo muito alto”, diz Zambiazi.

No caso da revenda agropecuária, por exemplo, o risco ainda pode ser considerado até maior do que para o produtor. Se ela travar a troca com o dólar a R$ 5,60, que é a média dos poucos casos concretos atuais, ela não vai conseguir travar com a fábrica a esse preço para receber a mercadoria no meio do ano quem. Nem capital para isso teria, lembra o trader e analista da InSoy,

Além disso, player nenhum vai vender podendo a divisa americana estar mais acima, mesmo porque, diz ele, também não conseguiriam travar agora as cotações das matérias-primas dos fertilizantes.

E os vendedores também ficaram mais retraídos, porque estão esperando câmbio mais favorável.

“O interessante é que trave (o produtor) a venda junto com os custos, já que não sabemos como vai estar o câmbio lá na frente”, complementa Gomes, da AgRural.

Enquanto a soja 19/20 beira as 80 milhões/t exportadas (mais 40% sobre o ciclo anterior) e a 20/21 já se aproxima de 50% de vendas realizadas, a commodity para 2022 tenta superar os ricos explícitos para uma negociação inédita a prazos tão dilatados – mais comum no algodão, frisa Vlamir Brandalizze – com o único dado concreto conhecido do Mato Grosso.

Segundo o Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea), 1,3% da safra a ser colhida daqui a dois fevereiros já está vendida.