Banqueiros centrais não devem confiar na palavra do mercado sobre inflação
Os investidores estão precificando as maiores taxas de inflação em décadas para os Estados Unidos e a zona do euro, mas os banqueiros centrais podem ser mais prudentes ao adotar algum ceticismo diante das falhas do indicador.
Um indicador de inflação conhecido como swap de inflação a termo de cinco e cinco anos atingiu 2% na zona do euro e seu par norte-americano está até acima desse patamar, que é o objetivo do Federal Reserve (Fed) e do Banco Central Europeu (BCE).
Então, os dois bancos centrais deveriam apenas declarar vitória e começar a aumentar os juros?
Não tão rápido.
Ambos os indicadores, que medem aproximadamente quanta compensação os investidores exigem para assumir o risco de inflação em um período de dez anos, são marcados por falhas.
Para começar, eles têm um histórico ruim de previsão da inflação, enquanto têm uma correlação estranha com a oscilação dos preços do petróleo.
Isso supera a lógica econômica, uma vez que uma medida é o preço do barril de petróleo a ser entregue no curto prazo, enquanto outra é uma taxa de variação de longo prazo nos preços gerais.
A correlação pode ter a ver com o funcionamento interno dos mercados financeiros, em que alguns investidores usam produtos indexados à inflação para proteger outras operações.
“Os indicadores de cinco e cinco anos seriam um bom preditor da inflação realizada no futuro? Acho que não, porque se correlacionam com os futuros do petróleo, que são péssimos preditores”, disse Ilia Bouchouev, sócio-gerente da Pentathlon Investments e docente na Universidade de Nova York.
O BCE há muito está ciente dessas e de outras limitações.
Com o Federal Reserve com posse de quase um quarto do mercado de títulos protegidos da inflação (Tips), alguns investidores sentem que os indicadores de cinco e cinco anos estão perdendo sua importância como indicador.
Previsões tradicionais feitas por economistas de carne e osso também têm recebido menções de autoridades.
De acordo com pesquisa da Reuters, a inflação da zona do euro deve chegar a 1,8% no próximo ano, 1,6% em 2023 e 1,6% em 2024 ainda sem atingir a condição para elevação das taxas de juros do BCE, que é o crescimento dos preços estável em 2%.
O Fed, por sua vez, chegou a criar um Índice de Expectativas Comuns para Inflação que mescla pesquisas e preços de mercado.
No entanto, tanto a presidente do BCE, Christine Lagarde, quanto o chair do Fed, Jerome Powell, citam regularmente as expectativas baseadas no mercado, indicando sua contínua relevância.
“No final, todos os indicadores têm limitações, então vamos com a preponderância de evidências”, disse Fritzi Koehler-Geib, economista-chefe do banco estatal alemão KfW.