Bancos suíços disputam talentos com ‘tsunami’ de ricos no Brasil
O UBS Group e o Credit Suisse Group cresceram suas equipes de gestão de fortunas no Brasil em mais de 10% em um ano e buscam mais contratações, à medida que a demanda por consultoria financeira e novos tipos de investimentos no país sul-americano está em expansão.
O Pictet Group, o gestor financeiro suíço que existe há dois séculos, contratou 10 pessoas para cobrir a América Latina de Zurique, incluindo executivos do Julius Baer Group Ltd., que, por sua vez, tirou cinco banqueiros do Credit Suisse.
“É um verdadeiro tsunami”, disse Sylvia Coutinho, chefe de private banking da América Latina do UBS, com sede em Zurique, em entrevista. “Você vê muitos investidores saindo da zona de conforto da renda fixa de curto prazo e entrando em ações, fundos de hedge – no Brasil e no mundo.”
O interesse em assessorar os brasileiros ricos já estava aumentando antes mesmo da aprovação na semana passada da reforma da Previdência que, segundo seus defensores, ajudará a equilibrar o orçamento público. Taxas de juros em recorde de baixa estimulam muitos investidores a abandonar os tradicionais títulos do Tesouro e a poupança em favor de produtos mais exóticos.
A indústria de fundos no Brasil teve ingressos líquidos de R$ 205,7 bilhões este ano até setembro, quase três vezes o valor do mesmo período de 2018, segundo a Anbima, a associação do mercado de capitais.
Para atender à crescente demanda, os bancos suíços estão tirando executivos uns dos outros. Entre as novas contratações do Pictet está o ex-chefe para Brasil do Julius Baer em Zurique, Marc Braendlin. Jorge Torea, responsável pelos negócios internacionais de gestão de fortunas do Credit Suisse para Brasil, assumirá o antigo cargo de Braendlin no Julius Baer a partir de 1º de novembro, trazendo sua equipe. Alexandre Sampedro, que trabalhou em estreita colaboração com Torea no Credit Suisse, assumiu o cargo do colega em 1º de outubro.
“Se você quer crescimento, vá para o Brasil”, disse Cynthia Tobiano, vice-presidente do Edmond de Rothschild SA. “Faz sentido, dado o tamanho do país, o cenário político e macroeconômico, a profundidade do mercado e a riqueza”, disse ela, acrescentando que os bancos têm primeiro recrutado banqueiros na Suíça e depois estabelecido escritórios no Brasil.
“Os clientes hoje querem proximidade, portanto, ter uma presença local é muito importante”, disse Coutinho, do UBS, que também é presidente do banco no Brasil.
Aquisições na América Latina
Em 2017, o UBS adquiriu o maior multi family office independente do Brasil, a Consenso Investimentos Ltda., com 60 funcionários. Na época, a operação combinada da Consenso e do UBS possuía cerca de R$ 30 bilhões em fortunas sob gestão no mercado local. O banco não quis fornecer o valor hoje.
No ano passado, o UBS combinou seus dois negócios de gestão de fortunas na América Latina em uma única unidade sob Coutinho, com funcionários em locais como Suíça, Uruguai, México, Chile, Colômbia, Panamá e nas cidades dos Estados Unidos de Houston, San Diego, Nova York e Miami.
O Credit Suisse reestruturou sua área internacional de gestão de fortunas em agosto de 2018, criando sete divisões, incluindo uma para a América Latina e outra focada apenas no Brasil. O banco espera que o número de milionários no Brasil aumente 23% até 2024, para 319.000.
Coutinho atribuiu parte da crescente demanda a programas de anistia fiscal na América Latina.
Cerca de US$ 200 bilhões em riqueza vieram à luz na década passada, depois que governos na Argentina, Brasil, Colômbia, México e Chile permitiram que os cidadãos declarassem fortunas mantidas fora de seus países de origem, aplicando apenas multas mínimas e adicionando incentivos fiscais. A maior parte da riqueza declarada – cerca de US$ 120 bilhões – era de argentinos, seguidos por brasileiros, com aproximadamente US$ 50 bilhões.
Ao contrário dos argentinos, os brasileiros ricos tendem a investir a maior parte de seus ativos líquidos localmente. Os negócios de private banking no Brasil respondem por cerca de R$ 1,2 trilhão, um aumento de 11% desde o final de 2018, segundo a Anbima.
O Credit Suisse diz que é o maior banco estrangeiro na gestão de fortunas de brasileiros, se forem incluídos ativos contabilizados no mercado local e global, depois de adquirir a Hedging-Griffo em 2006. Agora, ele possui cerca de R$ 180 bilhões sob-gestão, segundo o banco.
O Credit Suisse também está considerando um retorno ao mercado de private banking nos Estados Unidos após ter saído há quatro anos, com a ideia de adicionar US$ 15 bilhões em fortunas em Miami para atender principalmente os latino-americanos ricos, disseram pessoas familiarizadas com o assunto.
Julius Baer
O Julius Baer, terceiro maior gestor de patrimônio da Suíça, também vem se expandindo no Brasil por meio de aquisições. Depois de assumir o controle da GPS Investimentos Financeiros & Participações em março de 2014, adquiriu o Reliance Group, sediado em São Paulo, em janeiro de 2018. Agora, o banco tem 200 funcionários no Brasil e cerca de R$ 50 bilhões em ativos sob gestão no mercado local.
Em maio, o Julius Baer comprou uma participação minoritária na Magnetis Gestora de Recursos Ltda. Beatriz Sanchez, chefe da América Latina e membro do conselho executivo da Julius Baer, disse que a aquisição faz parte de uma estratégia “para conectar-se ao crescente mercado dos investidores brasileiros mais jovens, mais acostumados com a tecnologia”.
Outros bancos suíços também estão entrando em ação. Em janeiro, a Mirabaud Asset Management, uma unidade do Grupo Mirabaud, com sede em Genebra, adquiriu a Galloway Gestora De Recursos Ltda, uma empresa com sede em São Paulo, especializada em dívidas de mercados emergentes. O Banque Lombard Odier & Cie SA, também com sede em Genebra, está considerando abrir um escritório de gestão de fortunas no Brasil, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. As discussões estão em um estágio inicial e nenhuma decisão foi tomada, disseram as pessoas. Um porta-voz do banco não quis comentar.
A demanda por serviços de gestão de fortunas está aumentando, embora a economia do Brasil continue a crescer em um ritmo lento. O Produto Interno Bruto deverá crescer apenas 0,9% neste ano, segundo estimativas compiladas pela Bloomberg, abaixo da taxa de 1,1% em 2018.
“Existem muitos fatores positivos, como a aprovação da reforma previdenciária e um crescimento econômico com menos interferência do Estado e com o setor privado tomando mais iniciativa”, disse Coutinho.