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Bancos europeus levam a sério trabalho remoto após Covid

07 out 2020, 11:47 - atualizado em 07 out 2020, 11:47
BCE Banco Central Europeu
Na liderança da tendência na Europa estão os Países Baixos, cujos maiores bancos projetam que os funcionários trabalharão cerca da metade do tempo em casa quando a pandemia acabar (Imagem: REUTERS/Ralph Orlowski)

Muitos funcionários se perguntam quantos dias poderão trabalhar em casa após a pandemia. Se trabalharem para um banco europeu, muito mais do que imaginam.

Enquanto alguns executivos de Wall Street alertam sobre os perigos de trabalhar em casa por muito tempo, os maiores bancos da Europa levam a sério o uso das lições aprendidas na pandemia para reduzir custos e proporcionar um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional aos funcionários. Esses bancos mudam uma cultura que enfrentou poucos abalos dessa magnitude desde a criação dos modernos edifícios de escritórios.

Na liderança da tendência na Europa estão os Países Baixos, cujos maiores bancos projetam que os funcionários trabalharão cerca da metade do tempo em casa quando a pandemia acabar. Na Itália, o UniCredit planeja que 40% do trabalho seja feito remotamente após a crise, enquanto o suíço UBS estima que os funcionários poderiam trabalhar em casa cerca de um terço do tempo.

“Esta é a mudança mais radical na vida de escritório em talvez um século, certamente desde que as cidades começaram a desenvolver distritos financeiros com arranha-céus”, disse Dror Poleg, copresidente do Conselho de Tecnologia e Inovação do Urban Land Institute. “Os bancos estão sempre buscando maneiras de cortar custos. Parece uma forma de fazer isso, e os bancos vão aproveitar.”

Para bancos europeus em particular, que têm enfrentado queda de rentabilidade crônica em comparação com seus pares nos Estados Unidos, é uma oportunidade inesperada. Enquanto líderes de gigantes de Wall Street, como JPMorgan Chase e BlackRock, alertaram para o risco de perder a cultura corporativa, alguns no continente europeu já começaram a cortar custos com imóveis.

“Setores como bancos e finanças, que têm se concentrado na eficiência desde a crise financeira global, estão mais propensos a se interessar em analisar os impactos de uma força de trabalho mais remota, porque isso poderia permitir impulsionar o próximo nível de eficiência”, disse Julie Whelan, chefe de pesquisa de ocupação da CBRE, durante evento recente da Bloomberg.

No Rabobank, o segundo maior banco holandês, os funcionários provavelmente trabalharão em casa entre 40% e 50% do tempo, em média, embora a quantidade “varie muito e dependa muito” da função do indivíduo, disse a porta-voz Margo van Wijgerden. O Rabobank planeja realizar testes com grupos-piloto para examinar o que funciona melhor para cada tipo de funcionário, disse.

Cultura e produtividade

O ING vê um futuro semelhante. “Prevemos que, no futuro, os funcionários passarão, em média, cerca de 50% do tempo trabalhando remotamente – em áreas da empresa onde isso seja possível”, disse o porta-voz Marc Smulders.

Embora o grau de trabalho remoto no futuro varie, a tendência geral é sustentada pela mudança de atitude tanto entre a liderança dos bancos quanto entre funcionários. Quase 80% dos entrevistados em uma pesquisa com funcionários conduzida pelo Deutsche Bank em abril e maio disseram que preferem trabalhar em casa pelo menos uma vez por semana.

A nova realidade de trabalhar em casa também pode afetar o design dos escritórios. O ABN Amro Bank quer transformar os escritórios em locais que promovam interações, como reuniões e sessões criativas, em vez de tarefas individuais, disse um porta-voz.

“O escritório do futuro não é um lugar, é uma rede que permite ao indivíduo acessar uma variedade de locais que possibilitem a tarefa em mãos: gravar um podcast, receber um cliente, fazer um trabalho com foco, aprender, colaborar com colegas”, disse Poleg, do Urban Land Institute, em evento recente. “A maioria deles não estará em casa.”