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Bancos, elétricas, operadoras de saúde… veja as empresas que ganham e perdem com a Reforma do IR

14 set 2021, 11:40 - atualizado em 14 set 2021, 11:40
Segundo o Safra, o impacto da reforma tributária sobre os investidores dependerá do setor e do perfil da empresa (Imagem: Pixabay)

A reforma tributária está em vias de discussão e ainda pode ser rejeitada, mas a aprovação do texto principal na Câmara dos Deputados definitivamente aumenta as chances de o Senado dar sinal verde para o projeto, disse o Safra.

Além do fim dos juros sobre capital próprio (JCP), as mudanças do imposto de renda envolvem, entre outras coisas, a tributação de dividendos em 15% (ante imposto de 20% pretendido na proposta inicial do governo) e a redução da taxa de imposto de renda nominal de pessoa jurídica de 15% para 8% (contra 10% do projeto inicial), bem como da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Com isso, a alíquota nominal geral do imposto sobre as empresas cairia de 34% para 26% (excluindo os bancos, que têm tributação especial). Em relação a empresas de pequeno porte (com faturamento anual total de até R$ 4,8 milhões), o projeto propõe a não taxação de dividendos.

Segundo o Safra, o impacto sobre os investidores dependerá do setor e do perfil da empresa. As mudanças devem pesar para ações mais orientadas para valor do que para crescimento, pois elas geralmente pagam uma taxa mais elevada.

“Podemos ver o impacto com dois pontos de vista distintos: um, o impacto potencial sobre os lucros (que resultará no fim do benefício fiscal de JCP e a redução da taxa nominal de imposto de renda corporativo), e outro que é o impacto (da perspectiva do investidor) no potencial de rendimento nos dividendos após impostos”, comentou a equipe de análise do banco, em relatório divulgado no começo do mês.

Na avaliação do Safra, as empresas que devem se beneficiar da reforma tributária são as que estão ligadas ao setor de saúde – especificamente os nomes de crescimento.

“A maioria das ações desse segmento não distribui muito dinheiro por meio de JCP, portanto, o impacto líquido deve ser positivo na maioria dos casos. Taxas mais baixas de JCP/EBT resultarão em impacto positivo no lucro líquido”, destacou a instituição.

Como o dinheiro tem valor no tempo, o banco acredita que lucros maiores vão compensar os impostos sobre dividendos mais à frente, quando as taxas de crescimento diminuírem e os pagamentos de dividendos eventualmente aumentarem.

O Safra vê como principais beneficiários Alliar (AALR3), NotreDame Intermédica (GNDI3), Mater Dei (MATD3) e Qualicorp (QUAL3).

E os bancos?

Banco do Brasil
Com as mudanças, o BB pode ter seu lucro líquido caindo quase 9%, avaliaram analistas (Imagem: LinkedIn/Banco do Brasil)

O impacto da reforma do imposto de renda é misto para o setor bancário. Segundo o Safra, os bancos privados não devem sentir muita pressão – as mudanças são, inclusive, marginalmente positivas para os lucros ajustados, embora o efeito sobre os lucros seja menor do que anteriormente estimado pela instituição.

Bancos públicos, por outro lado, vão sofrer. Especialmente o Banco do Brasil (BBAS3), que, na visão do Safra, pode ter seu lucro líquido caindo quase 9%.

“Acreditamos que os benefícios fiscais do JCP são mais significativos para o Banco do Brasil”, afirmaram os analistas. “Banrisul (BRSR6) também deverá ser impactado negativamente, mas em menor grau do que o Banco do Brasil”.

Para as seguradoras (BB Seguridade [BBSE3] e Porto Seguro [PSSA3]), a instituição espera um impacto ligeiramente positivo. Cielo (CIEL3) e IRB Brasil (IRBR3) podem sentir um baque maior com o fim do JCP.

As mais defensivas em utilities

O Safra espera um impacto relativamente negativo para as empresas do setor de utilidades básicas (pelo menos no começo), visto que um dos principais atrativos de algumas ações são os dividendos que oferecem.

“A tributação de dividendos pode incentivar os investidores a buscar alternativas em outros segmentos de alto rendimento com proteção contra a inflação (como títulos do governo de longo prazo)”, disse o time de análise do banco.

Equatorial Energia
Menos afetadas: Equatorial e Energisa não distribuíram JCP nos últimos anos, e os dividendos representam um potencial de alta menor na tese de investimento (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

No entanto, existem casos menos afetados pela reforma. Equatorial (EQTL3) e Energisa (ENGI11), por exemplo, não distribuíram JCP nos últimos anos, e os dividendos representam um potencial de alta menor na tese de investimento.

As empresas de saneamento (Sabesp [SBSP3], Copasa [CSMG3] e Sanepar [SAPR11]) e transmissão de energia (Taesa [TAEE11] e Transmissão Paulista [TRPL4]) devem ser as mais afetadas. CPFL Energia (CPFE3) e AES Brasil (AESB3) também sentirão impacto.

Outros setores

Para alguns segmentos, o Safra não enxerga grande impacto até o momento. O banco não vê mudanças significativas no lucro das construtoras e das aéreas. No caso das companhias ligadas ao turismo, não há perspectiva de retomada da lucratividade no curto prazo nem histórico de distribuição de proventos nos últimos anos.

As empresas de logística devem sofrer pouco ou nenhum impacto. Já as locadoras de veículos serão pressionadas, visto que Localiza (RENT3), Unidas (LCAM3) e Movida (MOVI3) estão utilizando a isenção fiscal do JCP com recorrência, e principalmente com benefícios fiscais superiores à potencial redução da taxa nominal de imposto.

As operadoras de telecomunicações devem sentir pressão nos lucros, mas podem mitigar os impactos otimizando a estrutura de capital. A reforma também pode pesar para os lucros das techs, mas não terá impacto significativo sobre os preços das ações.

Por fim, das companhias ligadas às commodities, o impacto deve vir principalmente àquelas que possuem dividendos como parte importante em suas teses de investimentos, como Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4).

“O impacto negativo da eliminação dos juros sobre o capital pode ser da ordem de 6% a 10% do valor de mercado das empresas, enquanto a redução da taxa de IRPJ poderia ter um impacto positivo próximo a 10% do valor de mercado, com a nova tributação de dividendos impulsionando o resultado negativo esperado para os acionistas”, disse o Safra.

No caso das siderúrgicas, a redução da alíquota do imposto sobre as sociedades pode potencialmente compensar o impacto negativo do fim do benefício fiscal dos juros sobre o capital no lucro das empresas.

O impacto positivo na Ultrapar (UGPA3) é maior, pois a alíquota efetiva de imposto tem se aproximado da regulatória e a companhia não utiliza regularmente JCP.

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