Bancos centrais emergentes compram títulos em mudança arriscada
Para combater o coronavírus, economias em desenvolvimento da Colômbia à Indonésia têm recorrido a um manual que se tornou familiar no mundo rico desde 2008: bancos centrais estão comprando dívida pública.
Desde fevereiro, cerca de 13 bancos centrais de mercados emergentes começaram a comprar títulos ou disseram que pensam em fazê-lo, segundo pesquisa da Bloomberg Intelligence. É uma política que traz uma camada extra de risco em países com moedas frágeis e histórico de fuga de capital.
Embora o objetivo de bancos centrais seja estabilizar mercados financeiros turbulentos, essas medidas também apoiam déficits fiscais maiores.
Os gastos públicos aumentam em todos os países para proteger pessoas e empresas das consequências da pandemia.
Alguns, como o Banco da Indonésia, têm comprado dívida soberana diretamente, um passo à frente em relação à maioria das instituições de economias desenvolvidas.
O perigo para mercados emergentes, que geralmente dependem de capital estrangeiro de curto prazo, é que podem acabar afastando investidores – e acelerando a inflação – ao inundar o sistema com dinheiro novo.
Já neste ano, economias em desenvolvimento registraram saídas de recursos acima dos níveis da crise financeira global de 2008.
O real e o peso mexicano estão entre as moedas com desvalorização maior que 20%. Tais perdas, por sua vez, dificultam o pagamento de dívidas em dólar por governos e empresas.
Em suma, o risco é que esses países provoquem um colapso financeiro ao tentar aliviar a atual crise econômica.
“Podemos esperar que um número maior de mercados emergentes abandone suas camisas de força fiscais à medida que os casos de Covid aumentam e a recessão se aprofunda”, disse Chua Hak Bin, economista sênior do Maybank Kim Eng Research, em Cingapura.
“A monetização de seus déficits fiscais arriscará uma acentuada onda vendedora no câmbio, o que pode desencadear uma crise mais profunda, dada a dependência de financiamento externo e em moeda estrangeira.”
Impacto de paralisações
O impacto econômico causado pelo vírus pode ser especialmente intenso em mercados emergentes, onde setores da população trabalham em empregos informais por salários baixos, sem uma ampla rede de segurança social.
As medidas de apoio pressionam as finanças públicas, e não há ajuda suficiente. Mais de 100 dos 189 países membros do FMI pediram ajuda, um número recorde.
O Fundo dobrou programas de empréstimos de liberação rápida para US$ 100 bilhões, mas afirma que mercados emergentes precisam gastar 25 vezes mais. Economias avançadas não ajudaram no resgate: o ex-secretário do Tesouro dos EUA, Larry Summers, descreveu a contribuição como “migalhas da mesa”.
E sinais de inflação ou fuga de capital podem forçar bancos centrais a “apertarem” as políticas monetárias de forma abrupta, causando um novo golpe nas economias, escreveram analistas do Bank of America na semana passada.
Existem algumas diferenças importantes entre políticas de flexibilização quantitativa em economias avançadas e mercados emergentes. No primeiro caso, as medidas foram implantadas inicialmente para evitar a deflação depois que as taxas de juros foram zeradas.
Mas, no caso dos emergentes, as medidas estão mais voltadas para a estabilização dos mercados, enquanto ainda há espaço para reduzir os juros na maioria dos casos. Portanto, políticas pouco ortodoxas podem ser mais fáceis de serem retiradas.
“O crescimento e os benefícios imediatos à estabilidade financeira têm prioridade em relação às preocupações com a inflação e vulnerabilidades à estabilidade financeira a médio prazo”, disse Carlos de Sousa, da Oxford Economics, em relatório de 27 de abril. “A crise do coronavírus tem mudado o mundo rapidamente, e a política monetária não é exceção.”