Bancões aproveitam onda das fintechs para fechar agências e lucrar mais
Em um momento de forte avanço dos bancos digitais, as grandes instituições financeiras apresentaram bons resultados no terceiro trimestre de 2019. A receita de serviços do Itaú Unibanco (ITUB4), por exemplo, expandiu 7,3% contra igual período de 2018, atingindo R$ 9,3 bilhões. Já o lucro da instituição alcançou soma de R$ 7,2 bilhões, uma expansão anual de 11%.
A receita de serviços e tarifas do Santander (SANB11), por sua vez, cresceu 14,9% na base anual, ao passo que o Bradesco (BBDC4) viu essa receita avançar 3,7% no mesmo período.
Aumento dos investimentos em tecnologia, decisão de reduzir gastos com agências e pessoal para abrir espaço de contratação na área de TI e a aquisição de 49% do capital total da XP Investimentos são alguns dos fatores apontados por especialistas que colocaram o Itaú, por exemplo, na dianteira da competição com os bancos digitais.
O Itaú anunciou que irá fechar 400 agências até o final deste ano.
O especialista da Levante Investimentos, Eduardo Guimarães, comenta que a compra da XP permitiu ao Itaú expandir os seus ativos sob gestão e ampliar o seu acesso a fundos de terceiros.
Com isso, o Itaú saiu na frente dos outros bancos na batalha para não perder recursos para outras corretoras, na visão dele.
Em seu balanço, o Itaú comunicou que a plataforma aberta de investimentos atingiu R$ 172 bilhões em recursos distribuídos. Isso representa um aumento de 50% nos últimos 12 meses até setembro de 2019.
A maior base de clientes levou a receita com serviços de conta corrente a crescer 3% no terceiro trimestre de 2019, contra igual período de 2018.
Enquanto os bancos digitais como Nubank e Banco Inter (BIDI11) enchem os olhos do mercado com seus fortes números de abertura de contas, os bancões não ficaram para trás.
Nos últimos 12 meses, o Itaú informou que abriu 4 milhões de novas contas, sendo que mais da metade foi para pessoas físicas com menos de 30 anos de idade. A abertura líquida ficou em 1,9 milhão de contas.
Já o Bradesco, por meio do seu banco digital Next, multiplicou por cinco sua base de clientes em 12 meses. Saiu de 278 mil contas ao fim de setembro do ano passado para 1,4 milhão no terceiro trimestre. Apresentando números de contas digitais, o Santander soma 13,4 milhões de clientes, crescimento de 28% em um ano.
O banco anunciou o fechamento de cerca de 300 agências em 2020, como parte de um esforço para enfrentar maiores despesas operacionais que afetaram os ganhos do terceiro trimestre.
Felipe Tadewald, especialista da Suno, destaca que, apesar do fechamento de agências e do Programa de Demissão Voluntária (PDV), o Itaú tem investido na contratação de colaboradores para a área de TI. “Isso tem sido feito justamente para otimizar a operação digital. De 2016 a 2019, os investimentos em novos softwares e em pesquisas na área de tecnologia aumentou 60%, contra uma inflação de 18% no período”, diz Tadewald.
Segundo o balanço do Itaú, entre janeiro e setembro de 2017 e iguais meses de 2019, os pagamentos realizados por canais digitais subiram de 67% para 80%.
Já os investimentos por meios digitais subiu de 37% para 47% no mesmo período. Entre o terceiro trimestre de 2017 e igual período de 2019, o número de pessoas que abriram contas digitais passou de 53 mil para 276 mil. “Esses números mostram que os investimentos em TI estão produzindo resultados”, diz Tadewald.
O PDV do Itaú teve a adesão de aproximadamente 3.500 colaboradores de um total de 7.000 elegíveis. O impacto dessa despesa foi de R$ 2,4 bilhões.
Desafio dos bancos digitais
Na mesma semana, o lucro do Banco Inter chegou a cair 38% no terceiro trimestre de 2019, contra igual período de 2018, para R$ 11,8 milhões. Em nota, o banco digital destacou que o crescimento na base de correntistas acabou diluindo a receita por usuário ao longo dos últimos anos, enquanto as despesas totais aumentaram com o lançamento de produtos e investimento em equipe.
O número de funcionários, por exemplo, subiu de 450 para mais de 1.500, segundo o banco.
Eduardo Guimarães diz que a estratégia dos digitais, por sua vez, deve ser cada vez mais focar na ampliação da sua base de clientes e monetizar novos serviços digitais. Na última quinta-feira (7), o banco lançou, inclusive, o Super App, um novo canal na plataforma do banco que irá permitir aos seus clientes realizar compras em mais de 60 redes de comércio eletrônico, com cashback.
“O banco Inter é mais uma fintech do que um banco tradicional. Então a métrica de valuation é mais o número de clientes ativos do que o lucro”, afirma Guimarães. “Não dá para comparar o lucro do Inter com os bancos maiores”, destaca.
“Então a saída é aumentar a base de clientes e agregar mais serviços no digital. O Inter tem 4 milhões de clientes e a meta de alcançar 8 milhões”, conclui Guimarães.
Tadewald, por sua vez, diz que o foco dos players digitais tem sido otimizar os processos tecnológicos para maior segurança aos clientes. “Isso, principalmente, após ocorridos ligados a vazamentos de dados, que trouxeram receio para muitos correntistas”, afirma.
“Ademais, os bancos digitais têm trabalhado para aumentar a carteira de crédito, elevando o resultado de intermediação financeira, e também elevando a receita de serviços através de receitas oriundas de operações de câmbio, receitas com corretagem de seguros, e tarifas interbancárias”, diz Tadewald.