Banco Inter desafia pessimismo de Goldman Sachs e Morgan Stanley
Quando João Vitor Menin assumiu o comando do banco da família, o negócio era um mero coadjuvante no império de construção erguido pelo seu pai.
Quatro anos depois, e com ajuda do capital do SoftBank, a instituição financeira se tornou o ativo mais valioso do clã e uma das fintechs mais badaladas da América Latina.
O próximo desafio? Menin vai precisar provar que analistas de instituições como Goldman Sachs e Morgan Stanley estão errados sobre a ambiciosa estratégia dele.
O Banco Inter (BIDI4) virou um sucesso na bolsa ao oferecer serviços bancários digitais e de investimento com taxa zero às massas.
Atraído pela proposta, o SoftBank comprou uma participação de aproximadamente 15% nele neste ano, dando fôlego ao plano do Inter de se transformar na versão brasileira da gigante chinesa Alipay, que junta pagamentos e comércio em uma só plataforma.
A estratégia de Menin, que ele chama de “super app”, ficaria de pé pois toda vez que um produto for vendido em seu ambiente online, o Banco Inter ganharia alguns centavos.
Entre alguns dos principais analistas do setor financeiro, tem crescido o ceticismo com ideia. Os indicadores de rentabilidade do Inter, por exemplo, ainda estão muito atrás dos exibidos por bancos tradicionais na corrida para atrair clientes.
“Considerando o quanto estamos crescendo, acho heróico que estejamos gerando lucros e entregando esses níveis de lucratividade”, afirmou Menin em entrevista na sede do Inter em Belo Horizonte. “Eu não perco o sono por causa da diferença entre a nossa rentabilidade e a dos maiores bancos do Brasil.”
Rentabilidade
O Banco Inter teve retorno sobre o patrimônio líquido de 9,6% nos primeiros nove meses de 2019. No Itaú Unibanco (ITUB4) maior instituição financeira da América Latina por valor de mercado, essa métrica de rentabilidade chegou a 23,5%.
Menin prevê que a diferença vai encolher quando o Inter ultrapassar o período de crescimento exponencial. A base de clientes aumentou de 80.400 em 2016 para 4 milhões em dezembro e pode chegar a 8 milhões até o final do próximo ano, segundo ele.
Analistas do Goldman Sachs e do Morgan Stanley estão entre os que duvidam das promessas de Menin. Apenas um entre os oito analistas acompanhados pela Bloomberg que cobrem as ações do Inter recomendam a compra dos papéis.
A receita por cliente continua diminuindo, “criando perguntas sobre a qualidade dos clientes que estão sendo adicionados”, escreveram analistas do Morgan Stanley liderados por Jorge Kuri em relatório divulgado no mês passado.
Eles cortaram a estimativa de preço para as ações preferenciais do banco para R$ 2,80 — 81% abaixo da cotação da terça-feira.
O preço-alvo do Goldman, de R$ 11, não é tão pessimista, mas a preocupação do analista Tito Labarta é semelhante.
“Apesar da nossa visão positiva da perspectiva de crescimento para o banco, achamos que o desafio será monetizar efetivamente a base de clientes para justificar a avaliação atual das ações”, escreveu Labarta em nota no mês passado.
Se os pessimistas estiverem certos, a SoftBank provavelmente amargará outro prejuízo em um momento difícil. O conglomerado japonês fez o primeiro investimento no Banco Inter em uma oferta de ações em julho, pagando R$ 13,33 cada, segundo fato relevante.
Em setembro, dobrou a participação a um preço semelhante, tornando-se segundo maior acionista depois de Rubens Menin, pai de João, que detém 26% do banco.
No mês passado, o SoftBank registrou o primeiro prejuízo operacional em 14 anos — de 704,4 bilhões de ienes (US$ 6,4 bilhões) — após dar baixa contábil em uma série de grandes investimentos, incluindo Uber Technologies e WeWork.
Origens
Diferentemente da maioria das fintechs, o Banco Inter já tem mais de duas décadas de idade. Rubens Menin e Marcos Fernandez o criaram como uma financeira em 1996.
O negócio foi reinventado várias vezes, oferecendo crédito consignado, empréstimos a empresas de médio porte e eventualmente financiamento imobiliário, aproximando-o do setor que deixou a família bilionária.
O clã é dono da MRV Engenharia e Participações (MRVE3), terceira maior construtora residencial do mundo e focada em pessoas de baixa renda.
João Menin, 37 anos, é formado em Engenharia Civil, assim como o pai, o avô e o bisavô dele. Ele trabalhou brevemente na MRV, mas passou para o banco antes de terminar a faculdade em 2004.
O caçula de Rubens assumiu a presidência do Inter em 2015. Dois anos depois, João repaginou o empreendimento como banco digital e, em 2018, abriu o capital em uma operação que colocou seu valor de mercado em R$ 1,8 bilhão.
Agora, vale cinco vezes mais: R$ 10,4 bilhões. A MRV tem valor de mercado de R$ 9,7 bilhões. “Sinto que vivemos 20 anos nos últimos dois”, diz Menin.
Até certo ponto, a estratégia do Banco Inter é semelhante à que fez a fortuna da MRV: concentrar-se nos excluídos. A instituição oferece empréstimos, cartões de crédito e produtos de investimento, prometendo cobrar menos do que os bancos tradicionais — e na maior parte das vezes sem cobrar nada. Em frente à sede, um Tarifômetro mostra quanto os clientes economizaram com tarifas (R$ 2,03 bilhões, pelas últimas estimativas).
“Um dos maiores e mais antigos bolsões de lucro do mundo são os bancos brasileiros”, afirmou Menin. “Isso vai mudar muito, muito rápido.”
StoneCo, PagSeguro
O Inter não é o único disposto a chacoalhar esse mercado. Com capital fechado, o Nubank já é a sexta maior instituição financeira do País em número de clientes e foi avaliada em US$ 10,4 bilhões este ano.
As processadoras de pagamentos StoneCo e PagSeguro Digital também atraíram lojistas que eram clientes dos grandes bancos, uma briga na qual Menin está ansioso para entrar.
Ele promete usar “preços, preços e preços” para atrair pequenos comerciantes e empreendedores para o Banco Inter.
Ele também pode se apoiar mais no império SoftBank. O Banco Inter tem conversado com a Uber para oferecer serviços de pagamento aos motoristas, de acordo com reportagens veiculadas na imprensa local. Menin afirma que está sempre à procura de parceiros e não comentou além disso.
Também faz sentido ter parceria com outros investimentos da SoftBank na América Latina, como o serviço de entregas Rappi e a plataforma logística Loggi Tecnologia.
Menin também considera listar American Depositary Receipts (ADRs) do banco nos EUA, na esperança de convencer mais investidores do entusiasmo que contagiou acionistas no Brasil.